Coluna Asas #70 - Antologias de contos, poemas e A PERSPECTIVA DA VISIBILIDADE - (Evelyn Postali)

 



Em uma matéria anterior escrevi sobre a minha experiência como autora independente ( SER OU NÃO SER AUTOR INDEPENDENTE: EIS A QUESTÃO!). Hoje, vou contar como tudo começou, ou parte da história. E começou exatamente como você pensou, escrevendo e guardando na gaveta. Sim. Porque comecei com o papel e, hoje, não vivo sem o computador. Se ainda escrevo no papel? Acertou em cheio. Ainda uso papel para escrever, porque é nele que os rascunhos tomam forma. Você se senta em qualquer lugar com o bloco e um lápis ou caneta e vai rabiscando um esqueleto. Uma hora ou outra o esqueleto se enche de carne e sai andando por aí, pronto para ser lido.

Certo, mas não é isso que eu vim contar. Eu vim falar sobre publicação e de como, na ânsia de ter publicado um livro, pessoas como você ou eu, podem entrar na maior ‘furada’. Não me entenda mal. Escritores querem ser lidos, porque ninguém escreve somente para si. Pode, em um primeiro momento, ser essa a intenção, mas o texto, aquele que está na gaveta, não nasceu para ficar na gaveta. Em algum momento, estar na gaveta não é o bastante. É preciso chegar até outros leitores. Escultores não criam seus objetos de arte para deixar dentro do ateliê. Cantores não cantam somente para o chuveiro. Pintores não investem em tinta para apenas cobrir uma tela.

Então, queremos visibilidade e, antes disso, queremos ser lidos! Eu já escrevi, naquele texto do link aí em cima, da grande dificuldade de ser publicada – porque é um trabalho hercúleo querer ser publicada, ser vista como alguém com potencial, sendo uma autora novata, sem experiência e sem um público formado. E é aqui, nesse ponto, que entram as antologias de contos e poemas. Uma porta nem sempre segura que se abre para os corajosos, impetuosos e criativos escritores desse país imenso.

Antologias são coletâneas de textos – contos, poemas, crônicas. Uma editora lança inscrições para determinado tipo de texto, com um determinado tema, com determinadas características e com tempo determinado. Nesse prazo, autores escrevem e inscrevem sua produção textual para essa seleção. Os trabalhos são lidos (teoricamente) e são selecionados os melhores ou os que estiverem dentro da proposta. Depois disso, há o processo editorial cujo resultado é um livro publicado com os textos escolhidos.

Existem seleções e seleções. Vai depender da editora. Algumas propõe a compra de exemplares por seus autores escolhidos, outras cobram pela inscrição, e poucas não cobram pela inscrição ou compra de exemplares. Direitos autorais? Bem... Se você comprou exemplares ou pagou pela inscrição, muito provavelmente esses direitos estarão vinculados à venda dos livros feitos na tiragem e, você deve ter assinado um contrato. Eles estarão na loja da editora. Outras ainda vinculam esses direitos autorais a livros recebidos pelo autor depois da impressão. Isso também está em contrato. É importante que se leiam as entrelinhas.

Se eu participei de coletâneas? Sim. Participei de 9. Em 7 delas conscientemente enganada. A primeira vez, em quatro antologias da editora X, porque havia a exigência de bancar a compra de 10 exemplares e direitos autorais vinculados à venda do restante da tiragem. Se vi o dinheiro? Não. Cobrei? Não, até porque não valeria a pena. Se me arrependo? Não. Nem um pouco. Isso me serviu de aprendizado, para tomar coragem, mesmo pagando pela publicação. Esse ponto foi decisório. E é nesse ponto que os autores novatos se perdem porque não entendem que essa coletânea tem uma tiragem mínima, comprada pelos próprios autores que venderão para seus parentes e amigos próximos e, sem visibilidade alguma, porque não haverá marketing algum. E se você não vender sua cota de exemplares, eles ficarão na sua estante, olhando para você e apontando seu engano. Não criem ilusões.

Na segunda vez, em três antologias pela editora Y, porque conhecia dois dos organizadores das antologias – escritores bem intencionados e, creio, igualmente iludidos. A editora não existe mais, felizmente, porque para o mercado editorial ou para qualquer editora séria, tudo o que não se precisa é a má fama de uns interferindo nas ações acertadas de outros. A editora X ainda existe e continua a fazer o mesmo trabalho com antologias.

As melhores experiências com antologias que tive foram com a antologia Estranha Bahia, da EX! Editora, e com Mulheres em Verbo, da Caligo. Transparência, visibilidade e grande dedicação dos editores para levar o melhor da escrita até os leitores. Estranha Bahia foi finalista do prêmio ARGOS, de 2017. Mulheres em Verbo é o resultado do trabalho de um grupo de escritoras dedicadas à Literatura. Abriu portas para novas publicações e deu visibilidade ao projeto literário As Contistas.

A tal da visibilidade que se quer, no meu entendimento, se constrói aos poucos, a partir da escrita e de como ela se faz circular nos meios digitais. E para fazer isso acontecer precisa dedicação, trabalho árduo que nem sempre será reconhecido de imediato. Como já pontuei no outro artigo, plataformas de escrita são uma ponte para sermos lidos. Publicar nas redes sociais, participar de debates, de grupos de escrita, pode fazer grande diferença. E, é claro, as coletâneas. Mas se conselho serve para alguma coisa: esteja sempre atento a todo o processo, questione, informe-se com outros escritores, busque informações sobre as editoras. E, se ver seu texto no papel é mais importante do que visibilidade, vá em frente.

Eu recomendo, sim, a participação em antologias, especialmente naquelas cuja organização não vai sugar do autor iniciante a autoestima, o dinheirinho suado de todo o mês e sua credibilidade como escritor. Pense bem antes, estude os editais, pesquise os organizadores e as editoras proponentes, pese as possibilidades financeiras, pese os prós e contras e, se decidir participar, monte uma estratégia de divulgação para a antologia.

 

Notas:

A antologia Estranha Bahia está disponível em versão digital na loja da Amazon – AQUI. Mulheres em Verbo está disponível na loja da Caligo – AQUI.

 

 Autoria do meme:

https://hyperboleandahalf.blogspot.com/2010/06/this-is-why-ill-never-be-adult.html

Origem e Difusão

O Meme “O que queremos / Quando queremos?” teve sua origem em uma tirinha da artista Allie Brosh em seu blog Hyperbole and a Half. Dona de um humor, no mínimo, diferente, a artista relata em seu blog coisas do cotidiano, intercalando textos e tirinhas.

As imagens são simples, semelhantes aos “bonecos de palito” ou até mesmo aos desenhos de crianças. Nessa linha, em 17 de junho de 2010, o blog publicava, com sentido crítico, um texto e tirinhas sobre responsabilidades pessoais e a dificuldade em se cumprir tarefas simples como ir ao banco, e limpar a casa.
De acordo com o site know your meme a imagem foi 
postada na rede social Can.vas, um site em que usuários podem postar imagens e criar remixes dela, em 28 de abril de 2011. Essas variações alteravam o sentido e até mesmo o desenho, que não deixava de ter os olhos esbugalhados como principal característica.


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