Coluna Asas #44 - O Homem Bicentenário e um amigo que se foi - (Bia Machado)

 



A imagem reflete a edição desse livro que eu tinha aqui em casa, comprada em um sebo. Eu já conhecia a história, mas pelo roteiro adaptado do filme do Columbus. E claro que eu queria ler o original, pensado e escrito por Asimov. Com isso, mais uma suspeita confirmada: apesar de curto, o livro era melhor que o filme, talvez por trazer um Andrew mais humano, se é que se pode dizer assim.

Depois de reler vezes e vezes esse livro, decidi que ia passá-lo adiante. Já estava na hora de ele seguir caminho, de outros leitores o lerem. E o conto sobre Andrew acabou parando nas mãos de um amigo, um professor de História, também colega de trabalho na época. O único que comprava ou trocava comigo livros de ficção científica. O único, na minha vida real, com quem eu podia conversar sobre o assunto. 
Esse amigo se foi hoje, infelizmente. Não de COVID, como é o normal anormal de hoje. Um acidente, algo inacreditável, porque você nunca imagina que pessoas tão bacanas como ele era, querido pela família, pelos alunos, pelos colegas de trabalho e amigos e além de tudo tão jovem ainda, com uma vida maravilhosa pela frente, partiriam assim, da forma como aconteceu. Não, essas pessoas deviam durar muito, muito, muito. Deviam permanecer mais tempo aqui, por ordens superiores, pelo bem de todos. Talvez só serem "desligados" quando achassem que realmente nada mais tinham a fazer aqui. 
Não vai ter mais conversa sobre Asimov ou Dick, não vai ter mais conversa sobre filosofia Jedi, nem sobre essa horrorosa política que move o país e o mundo, nem dueto em karaokê (não sei se vou conseguir cantar "Have you ever see the rain" de novo).
Mais uma vez, a vida me mostra de forma dolorosa a não deixar as coisas para amanhã, pois não teremos duzentos anos disponíveis para fazer tudo o que precisamos. Há uns dois anos decidi que publicaria dois livros, um de História e um de Geografia de Mato Grosso do Sul, para suprir a falta de livros do tipo por aqui, por incrível que pareça. E já estava tudo certo na minha mente: o meu amigo escreveria o de História e eu o de Geografia. Eu tinha tanta, mas tanta certeza de que ele aceitaria o convite que nunca formalizei o pedido. Deixei para fazer isso quando pudesse tocar o projeto adiante sem ter que parar por causa de dinheiro, ou pela falta dele. E na semana que passou voltei a pensar sobre isso, já estabelecendo um prazo: "logo depois das férias de julho". 
Mas... não vai ser desta vez, ao menos não nessa vida. Só resta me despedir: vá em paz, guerreiro Jedi.


 

Comentários

  1. Seu texto está carregado de dor e de verdades. Sinto muito, Bia.

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  2. Partidas são sempre muito tristes e nos deixam aquele gosto amargo na boca, uma certeza de que era preciso mais. Sinto muito a sua perda. Pense que fizeram o possível juntos. Contiunue fazendo. Bjs

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  3. Uma tristeza imensa perder um amigo que leva com ele tantos sonhos, mas deixa outros tantos na certeza de que você irá realizá-los. Beijos.

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