Outros Brasis de Ficção a Vapor! - (Davenir Viganon)

 



É com muita alegria que anuncio que uma nova antologia está nascendo. É hora de começar mais uma jornada. Em 2020, foi lançado o edital para a Antologia Outros Brasis da Ficção Científica e foi um sucesso, desde a adesão dos escritores que enviaram contos sensacionais, até a campanha no Catarse. A editora acreditou tanto na proposta que, além da antologia, criou também o selo Outros Brasis. Agora está saindo o edital para um novo volume desse selo: Outros Brasis de Ficção a Vapor.

Como o nome já sugere, será uma antologia steampunk. Para ajudar os pouco familiarizados com o termo, vamos contar como surgiu esse subgênero da Ficção Científica e depois expor a nossa visão de como queremos que essa antologia seja. Dessa forma, acreditamos poder ajudar os candidatos que decidirem "escrevinhar" para nós a terem mais chances de embarcar conosco.

O steampunk é um subgênero da Ficção Científica, que tomou um rumo muito diferente do cyberpunk. Ambos saíram das cabeças de William Gibson e Bruce Sterling, autores da obra base do que viria a ser classificada como steampunk, A Máquina Diferencial. De um lado, o cyberpunk ainda tem uma estética muito forte e ainda influencia outras artes, além da literatura. Por exemplo, Blade Runner e, depois, Matrix, se tornaram a base estética do cinema de ação desde que lançados e ainda não foram superados. Já o steampunk, é um fenômeno estético que rompeu de forma mais abrangente os limites da literatura, espalhando-se pela moda, apetrechos, quadrinhos, filmes e tem muita força em convenções próprias, festas, clubes de fãs, cosplay, games e animações.

Voltando um pouco, tudo iniciou como uma história alternativa, na obra A Máquina Diferencial, que imaginou um mundo onde o poderio da Inglaterra vitoriana seria ainda maior, uma vez que a invenção de Charles Babbage permitiu uma capacidade de cômputo muito superior e, por consequência, uma vantagem burocrática e administrativa muito maior em relação às outras potências da Europa. Podemos ver em “A Máquina Diferencial”, que os Estados Unidos como conhecemos não chegaram a se formar. Uma das causas históricas do sucesso na Guerra de Independência estadunidense é justamente o contexto complicado na Europa que exigiu mais atenção da Inglaterra, que suas treze colônias nas américas.

O vapor nublando as cidades inglesas, característico do Steampunk, é apenas uma extrapolação do uso excessivo desse tipo de energia, demandada de uma máquina administrativa muito eficiente. A aristocracia e a elegância da moda vitoriana, que somada a apetrechos e acessórios de metal, chamamos de neovitoriana, é algo que é muito reproduzido na estética Steampunk, porém não está presente em A Máquina Diferencial. Isso não significa que ela não é importante ou que não deva ser estimulada. Acho importante não esquecer as raízes punks do subgênero, onde os personagens marginalizados do sistema precisam lutar para sobreviver e eles nem sempre estão nos melhores trajes neovitorianos.

Admito ter um pouco de implicância com o excesso de pompa que compõe a estética steampunk, principalmente quando não tem função narrativa, mas também não sou um purista, brandindo “A Máquina Diferencial” como único cânone válido. Não mesmo. Acredito que o steampunk se beneficia muito quando suas histórias se misturam com elementos de fantasia e terror. E não precisamos sair do Brasil para ler essas histórias. Autores brasileiros como Enéias Tavares, A. Z. Cordenonsi e Nikelen Witter são bons exemplos dessa mistura e  são destaques de um movimento que é mais que estética vazia, mas é muito abrangente, independente do sucesso comercial que possa ter. Há um público fiel e apaixonado, de cosplayers e produtores de outras mídias além da literatura e a próxima antologia quer chegar nesses corações apaixonados e, quem sabe, despertar essa paixão para novos leitores de steampunk.

A próxima antologia do selo Outros Brasis será steampunk. Assim como a antologia anterior, Outros Brasis da Ficção Científica, queremos que ela transpire Brasil. Seja na ambientação, imaginando outros brasis encobertos pelo vapor ou tenham brasileiros como destaque, afinal o selo não tem Brasil no nome à toa. Outro elemento muito importante é que o punk não seja esquecido. O aspecto contestador será muito bem vindo às histórias e há muitas formas de fazê-lo vir à tona. Personagens marginalizados fizeram nossa história, ainda que nem sempre com o devido protagonismo. Regiões longe dos grandes centros econômicos são cenários frutíferos para o elemento punk que queremos. Em outras palavras, o regionalismo não é obrigatório, mas será bem-vindo.

Por último, e não menos importante, é que diferente da antologia anterior, em que fomos bastante rígidos em relação aos contos serem de Ficção Científica, agora incentivamos a mistura da FC com elementos de Fantasia, Policial e Terror. Trata-se apenas de uma constatação do quanto o steampunk abriu novos horizontes desde que caiu no gosto da cultura pop, sem perder de vista autores clássicos, nascidos no período extrapolado nas narrativas steampunks, como Mary Shelley, Arthur Conan Doyle, Edgar Allan Poe, entre outros.

Acredito que já acendemos uma lamparina sobre as principais engrenagens que compõem o steampunk e, aos que decidirem trilhar por ela, boa sorte e aguardo seus textos!


Imagem: "Hot air baloon", por Prawny, no Pixabay.

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