Coluna Asas #68 - Elas na literatura #1: Anne Frank - (Renata Rothstein)

 


Anne Frank e um diário – escrito, vivido e sentido durante a II Guerra Mundial, em plena perseguição aos judeus , e que viria a ser um dos livros mais traduzidos da História, mais emblemáticos e significativos, representante não apenas de uma raça, mas da Humanidade como um todo, submetida aos descalabros de determinados e infelizes períodos da História (recente).

Annelise Marie Frank. Era este o nome completo da jovem que ficou conhecida como Anne Frank. Alemã, nascida na cidade de Main e de origem judaica, morreu num campo de concentração aos quinze anos de idade, vítima do Holocausto. A publicação (póstuma) de seu diário a tornou mundialmente conhecida.

Anne escreveu sobre as agruras sofridas por ela e pela família, durante o período em que fugiram dos nazistas, refugiando-se nos Países Baixos. Seu diário mostra a dureza de uma perseguição inexplicável, e muito dolorosa, sob o olhar (ainda) esperançoso de uma adolescente.

Anne viveu a maior parte de sua breve vida em Amsterdã, na Holanda. ela e sua família se mudaram para Amsterdã em 1933, ano da ascensão dos nazistas ao poder. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o território holandês foi ocupado e a política de perseguição do Reich foi estendida à população judaica residente no país. A família de Anne passou a se esconder em julho de 1942, abrigando-se em cômodos secretos de um edifício comercial.

Durante o período no chamado "anexo secreto", Anne escrevia no diário suas intimidades e também o cotidiano das pessoas ao seu redor. Nesse lugar permaneceram por dois anos até que, em 1944, um delator desconhecido revelou o esconderijo às autoridades nazistas. O grupo foi, então, levado para campos de concentração. Anne Frank e sua irmã Margot foram transferidas de Auschwitz para o campo de Bergen-Belsen, onde morreram de tifo em março de 1945. Pouco tempo antes da guerra acabar.

O único sobrevivente da família, o pai de Anne, Otto Frank, retornou a Amsterdã após a guerra e recuperou o diário da filha, lutando para que fosse publicado, o que ocorreu em 1947. Nesse diário, presente de aniversário de treze anos da jovem, ela narra seu cotidiano, de 15 de junho de 1942 até 1º de agosto de 1944. 

O Diário de Anne Frank é hoje um dos livros mais traduzidos em todo o mundo.


A última vez que Anne escreveu em seu diário:

Querida Kitty.

Terça-feira, 1 de Agosto de 1944

"Um feixe de contradições". Foi esta a última frase

da minha carta anterior e é a primeira da de hoje. "Um

feixe de contradições", poderás tu explicar-me, com exatidão,

o que isto quer dizer? O que é contradição? Como

todas as palavras, tem dois sentidos : contradição exterior

e contradição interior.

O primeiro sentido é este: não nos conformarmos com

a opinião dos outros, querer saber tudo melhor, querer

ter a última palavra, enfim: qualidades desagradáveis

que já conheces suficientemente. O segundo: qualidades

que também tenho mas que ninguém conhece e que são

o meu segredo.

Já te contei em tempos que não tenho só uma alma mas

sim duas. Uma dá-me a minha alegria exuberante, as

minhas zombarias a propósito de tudo, a minha vontade

de viver e a minha tendência para deixar correr, isto é,

para não me escandalizar com "flirts", abraços ou uma

piada inconveniente. Esta primeira alma está sempre à

espreita e faz tudo para suplantar a outra que é mais

bela, mais pura, mais profunda. Essa alma boa da Anne

ninguém a conhece, não é verdade? E é por isso que tão

pouca gente gosta de mim.

Bem o sei: veem em mim um palhaço divertido para uma

tarde, depois toda a gente fica cheia de mim para um

mês- sou, no fim de contas, o mesmo que um filme amoroso.

 

Nota da Autora: Aqui, como autora, gostaria de salientar minha opinião pessoal e devidamente baseada em fatos e (re)conhecimentos, sejam de ordem histórica, familiar ou empática: vamos parar de comparar sofrimentos, situações de perseguição a que determinadas etnias foram submetidas, como se uma ou outra fosse de maior importância, minimizando, de alguma forma, a penúria vivenciada por outras minorias, dando ênfase a determinada dor, em detrimento de outras, tão iguais e urgentes, enquanto seres humanos, todos - irremediavelmente, iguais, em dores, anseios, alegrias, busca e sofrimento.

Peço, então, que vejamos no outro uma extensão de nós mesmos, em raça (humana), gênero (irrelevante), partido político (todos pelo melhor para as massas), objetivo (o bem comum). 

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