Coluna Asas #50 - A mágica do livro infantil em um caminho repleto de percalços (Bia Machado)



Ontem foi o Dia Internacional do Livro Infantil, data escolhida por motivo de Hans Christian Andersen, um dos principais escritores da literatura mundial, ter nascido no dia 02 de abril de 1805. 


Se publicar livros no Brasil já não é muito fácil, publicar livros infantis, então, é uma verdadeira batalha, principalmente para pequenas editoras. Geralmente livros infantis são coloridos, certo? Pois é, esse é um dos principais fatores a encarecer muito um livro desses, mesmo contendo poucas páginas. Digo isso com base na quantidade de exemplares que uma pequena editora pode imprimir a cada tiragem, que representa geralmente 10% do número de exemplares impressos por uma grande editora a cada edição. Para tornar o valor do exemplar mais acessível, existe a necessidade de grandes tiragens, acima de 1.000 exemplares. Ou conseguir ser selecionado em um edital, que possibilite arcar com isso.

É necessário mesmo que o livro infantil seja colorido? Na verdade, não. Uma ilustração em preto e branco pode também chamar a atenção dos pequenos leitores. Lembro de quando ganhei de uma tia a edição de "Alice no País das Maravilhas", aos 8 anos. Edição do Círculo do Livro, capa dura, ilustrações em preto e branco. Mas nossa, como amei aquelas ilustrações! Se não eram coloridas, eram diferentes, não tinha visto em outros livros antes. Maravilhosas. Eu nem cogitava colorir aquelas ilustrações, eram lindas do jeito que eram.


Mas quando um livro infantil é colorido, é mais um jeito de trazer a infância em forma de uma paleta de cores escolhida para encantar quem vai ler. E apesar de ser denominado assim, como se fosse somente para criança, quantos adultos não leem esses livros sem se preocupar com julgamentos? Eu leio! E não faço isso por ser professora (meus alunos têm entre 9 e 10 anos), ou por ainda ter uma filha de 12 anos, não, nada a ver. Quando não houver mais criança aqui em casa, e isso será para logo, infelizmente, continuarei lendo não só os livros direcionados a crianças como também comprando-os por vários motivos, entre eles o de ler para sempre poder alimentar a saudade da infância que existe em mim e depois doar a quem os queira ler. É comum me pedirem doação de livros infantis e eu fico feliz quando consigo colaborar.

Além do mais, outra dificuldade é que muitas vezes as publicações infantis são deixadas em último lugar na lista de prioridades das pessoas, ou às vezes nem aparecem nessa tal lista. É certo que passamos por muitas dificuldades, ainda no Brasil é preciso escolher entre cultura ou colocar comida na mesa e às vezes nem há dúvida quanto a isso: é preciso alimentar o corpo para a lida do dia a dia. Livros? Nem pensar! E os infantis? Um luxo! Comer (muitas vezes, comer mal) para viver é a única opção.

Por outro, há quem tenha condições de comprar livros para os filhos, sobrinhos etc., mas acha caro gastar com algo que muitas vezes é classificado como "dispensável", já que não se criou o hábito de ler dentro da própria casa. E, para esse fomento à leitura, nem se precisaria gastar dinheiro, na verdade: as bibliotecas estão aí.  Quantos pais já levaram seus filhos à biblioteca? Muitas vezes agem assim por também não terem sido estimulados em relação a isso. E é aí que entra a escola, tanto no papel do professor como no de outros agentes da comunidade escolar, a partilharem suas experiências leitoras: agentes educacionais, outras pessoas de outras famílias...

Sinto falta de bibliotecas comunitárias, no sentido estrito da palavra: aquelas criadas e utilizadas por determinada comunidade, pois a maioria das públicas muitas vezes afastam os leitores das camadas mais baixas ou mesmo estão distante dos lugares onde necessitam urgentemente estar. E, agora, enquanto vivemos uma pandemia, quantos livros as crianças estão deixando de ler? Na escola onde trabalho a biblioteca vivia sempre cheia de alunos emprestando livros. E na sala de aula sempre havia dezenas de livros à disposição, além de gibis e revistas. Um prejuízo incalculável enquanto as aulas presenciais não puderem retornar devido à COVID-19.

Iniciei o mês de abril comprando justamente um livro infantil que não vejo a hora de ter em mãos: "Zumi Barreshti: Sopa de Pedra", escrito por Paula Giannini e ilustrado por Fil Felix. É a história de Nuno, um menino cigano, maravilhosa oportunidade de conhecer uma cultura que também faz parte da identidade cultural do nosso país, mas infelizmente pouco conhecida. Aguardo ansiosa!

Por que a expectativa? Por conhecer a narrativa da Paula, inclusive a infantil, e de todo o encantamento que a escritora coloca em seus textos e por conhecer o Fil e toda a magia que há no colorido de suas ilustrações. E desde já desejo todo o sucesso para a estreante editora Palco das Letras, que de agora em diante tem a linda e difícil tarefa de encantar leitores, mas da parte deles sei que há coragem de sobra para isso.

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Comentários

  1. Lindo e honesto artigo, Bia! Parece que tudo conspira para a formação de novos leitores...
    Também espero ansiosa por ter o livro da Paula e do Fil nas mãos! Muito sucesso a eles e a todos os autores de literatura infantil no Brasil!

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  2. Bom dia, Bia! Obrigado pelo carinho em citar Zumi Barreshti <3 E eu saúdo vocês que estão à frente das editoras, fazendo os corres de lançamento, gráfica e tudo mais, dando espaço aos pequenos autores e ampliando o mercado literário! Parabéns!

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  3. Bia querida,
    Nem sei como agradecer por tanto carinho e gentileza. Você é maravilhosa.
    Beijos
    Paula Giannini

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