Coluna Asas #42 - Semana Internacional da Mulher - (Renata Rothstein)
Na Semana Internacional da Mulher quero, preciso, falar um pouco sobre a controversa questão do feminismo, e citar alguns livros que abordam o assunto, tendo em vista que na realidade, a data em que se costuma dar flores e bombons surgiu de um verdadeiro ato de feminicídio, ainda (infelizmente) considerado por muitos um ato a ser "legitimado".
Fato é que dois incêndios ocorridos em Nova York, USA, em datas distintas, com prováveis mortes criminosas de mulheres, simplesmente pelo simples fato de serem mulheres (o que define feminicídio), deram origem ao que hoje temos como Dia Internacional da Mulher.
Ao contrário do que o senso comum prega, o feminismo nunca pregou a superioridade sobre o homem, e sim a igualdade de gênero, no que se refere a direitos e deveres.
Obs: Busquem sobre machismo, femismo e feminismo e entenderão bem melhor as diferenças, nada sutis, aliás.
A intenção aqui é citar alguns livros que sim, podem e vão ajudar a compreender melhor e trazer para a vida o que de real e prático há na singela busca por condições sócio culturais, existenciais, enfim, entre gêneros.
Nesse contexto, é inevitável, ou melhor, é indispensável citar Simone de Beauvoir e O Segundo Sexo, que, mesmo lançado há mais de setenta anos e sendo constantemente reavaliado, relido, refletido e, principalmente, distorcido, continua sendo um divisor de águas no tocante a toda a vivência do ser enquanto mulher, simplesmente existindo e interagindo em todos os aspectos da sociedade.
Sendo assim, O segundo Sexo trouxe à tona, ou mesmo fez nascer o feminismo (palavra que sequer existia, na época), por tratar de política, biologia, padrões que durante séculos aprisionaram a mulher, ou numa masmorra, ou num triste e ilusório palácio de cristal - uma vez que a tornava infeliz, e em como a mulher poderia exercer sua força e capacidade de decisão e de planejamento, algo até então impensável.
Simone também desbravou terreno ao falar do ser feminino biologicamente, e sendo ela a mulher, dona desse corpo, que deveria atender e servir aos propósitos da própria mulher, da forma que entendesse ser melhor para si.
Sem donos, sem amarras, com ou sem companheiro, apenas ela, protagonizando a própria existência.
Aqui vemos Simone de Beauvoir trazendo inspiração e força para que durante a década de 1960 surgissem medidas como a criação do anticoncepcional - ideia lançada pela feminista Margaret Sander e desenvolvida às escondidas pelo cientista Gregory Pincus, que alegava a criação de um remédio que amenizasse as dores menstruais.
O surgimento da pílula é um marco na libertação da mulher.
As mulheres que hoje em dia abrem a boca e tomam uma simples pílula talvez não pensem em como seria engravidar toda vez que tivesse relações sexuais.
Lembrando que sim, é lindo termos filhos, mas no momento que desejarmos, não como imposição. Ok? Ok.
Pois bem, a fragmentação comportamental é, até hoje, tão profunda e arraigada em nosso modo de ver a vida que urge uma educação sobre a tão buscada igualdade de gênero, lá, dos primórdios, passando pelos percalços que a mulher enfrentou - e enfrenta - , chegando, enfim, aos dias de hoje, quando ainda vemos mulheres sendo mortas simplesmente por serem mulheres, quando vemos mulheres (principalmente as de descendência afro) sofrendo discriminações e tentativas de desvalidação, quando nossas políticas são assediadas sexualmente, pelas Assembleias da vida.
As políticas, as donas de casa, as modelos, médicas, comerciantes, enfim, todas as mulheres sabem o que é passar por algum tipo de constrangimento ou preconceito apenas por pertencer ao gênero feminino.
Em O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir nos mostra claramente quão falaciosa é a simples questão biológica, que determinou durante séculos a inferioridade aceita do ser, enquanto feminino, complementar, não igual.
Então, que seja cada vez mais lido e discutido como estudo, incentivo e, simplificando, traga à baila a sua ideia principal: a autorrealização da mulher em qualquer aspecto que esta deseje, não como parte separada do homem, mas complementar.
Feliz Semana Internacional da Mulher a todos. Consciência, liberdade e igualdade já.
E que nossas mulheres saibam de sua capacidade de serem o que bem desejarem. E que os homens entendam e estejam junto a elas, e mais, que a verdadeira intenção do feminismo possa chegar de vez à mente de mulheres machistas, que prestam um desserviço ao desmerecer toda uma luta, simplesmente pelo desconhecimento sobre aquilo que (pensam que) conhecem.
Segue minha lista com livros sobre Feminismo:
1 -“O Segundo Sexo”, Simone de Beauvoir
2 - “O feminismo é Para Todo Mundo: Políticas arrebatadoras”- Bell Hooks
3 - “Quem tem medo do feminismo negro?” - Djamila Ribeiro
4 - “O Mito da Beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres” - Naomi Wolf.
Renata, gostei muito do percurso histórico que você traçou, fornece uma boa visão panorâmica do feminismo.
ResponderExcluirFico muito feliz que você tenha gostado, Selga. Foi a minha intenção, esclarecer um pouco essa confusão que se faz com a palavra feminismo, e tudo que "vem junto ".
ExcluirObrigada! Abraços
Fico muito feliz que você tenha gostado, Selga. Foi a minha intenção, esclarecer um pouco essa confusão que se faz com a palavra feminismo, e tudo que "vem junto ".
ExcluirObrigada! Abraços
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirTexto direto, culto e muito argumentativo sobre essa luta cada vez mais atual e importante. Vc expõe uma necessidade de se estabelecer um melhor equilíbrio entre os gêneros a partir da distribuição justa de oportunidades e ao combate a atos de agressões morais e físicas por parte dos homens. Penso que vivemos uma pre- historia nessas relações que tomaram novas cores a partir da década de 60, quando o feminino oficializou sua belíssima luta por justiça. Chegara a época que as relações se equilibrem. Parabéns pelo texto brilhante.
ResponderExcluirOi, Zeca!
ExcluirQue bom te ver por aqui, que maravilhoscomentário .
Sim, ainda vivemos num cenário absurdo para a mulher, e acho importante seguir buscando essa igualdade verdsdeira, sem confundir com uma falsa liberdade que acaba aprisionando...
Beijos querido!