Coluna Asas #15 - Agarrar-se (Bia Machado)

 

Crédito da imagem: S. Hermann & F. Richter (Pixabay)


Faltando menos de dois meses para o final de 2020, me deparo com esse verbo, agarrar. Foi na terça-feira, durante uma consulta com o psicólogo (faço Gestalt terapia), em que precisei sortear cartas contendo palavras e outras contendo imagens e depois tentar relacionar palavra com imagem, explicando o porquê. Uma das cartas tinha esse verbo: agarrar(-se). Relacionei-o com o desenho de um cubo, que continha uma abertura em um dos lados. Associei dessa forma porque esse cubo me lembrou um nicho, que por sua vez me remeteu a livros, publicação, editora, todos esse universo de onde não consigo mais sair. 

Sim, não consigo, mesmo que tenha tentado várias vezes. 

Falei ao psicólogo: essa semana, apesar de todas as dificuldades de manter a editora, surgiu como um filme em minha cabeça o que poderei fazer para continuar publicando livros, físicos, mais baratos, com o envio pelo correio um pouco mais barato. E isso me animou muito. Eu disse a ele que ficava sempre achando uma forma de continuar. E no final de 2019 e início de 2020, a forma de continuar que eu tinha vislumbrado era passar a publicar mais autores de Campo Grande, que eu ainda pouco conheço, para fazer lançamentos e feiras aqui na cidade e em outras do MS. O contato maior com alguns desses autores e autoras daqui me fez vislumbrar essa possibilidade. Então veio a pandemia. Agora está até liberado para fazer evento, desde que com as devidas regras e um número máximo de pessoas, mas sinceramente, nem que o máximo de pessoas fosse 10, eu não faria ainda nada desse tipo, pois não é só uma gripezinha e o vírus ainda está aí, sim, embora muitos ajam como se não estivesse. 

Então é isso, estou agarrada aos livros, decididamente, e não mais sentirei vontade de encerrar as atividades da editora. Às vezes penso que isso se deve ao fato de eu ter quase certeza de que a Caligo vai acabar logo depois de eu partir dessa vida. Talvez seja isso. E por muito tempo isso me entristeceu. Mas isso não importa mais, se eu e ela tivermos um final digno, isso terá valido a pena. E claro, se demorar ainda uns bons anos, naturalmente. Porque há muito a publicar.

O importante é se agarrar aos escritos de tantos autores maravilhosos, dar asas às palavras deles e delas. Se em julho eu disse que seria um novo tempo para a Caligo, apesar dos perigos, que 2021 seja a concretização de parte desse novo tempo. E que seja contínuo. Tenho a impressão de que esse texto saiu um tanto dramático. Será porque estou escutando um tango enquanto o escrevo?

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