Coluna Asas #12 - E para escrever, o que resta? (Priscila Pereira)
Recentemente descobri que não tenho o que é essencial para ser uma autora de sucesso. Não, queridos leitores, não é talento ou criatividade, nem dom, seja lá o que for isso.
Sabe o que me falta? Tempo e energia. Soa familiar, não?
A autora Sandra Godinho diz que conseguiu um ritmo de escrita que permite ter três livros de gaveta aguardando concursos e grandes oportunidades quando se aposentou e seus filhos já eram adultos. Ter tempo livre, determinação, força de vontade e querer escrever de forma relevante para essa época foi sua maior motivação.
Será que é só assim? Teremos que esperar a aposentadoria para enfim conseguirmos escrever?
Hoje no Brasil é muito raro quem consiga sobreviver da escrita, quem faça da literatura sua profissão, mas a autora Lis Wey conseguiu, mesmo sendo esposa e mãe de filhos ainda pequenos, impôs uma rotina de escrita admirável. Ela me inspirou ao declarar " É o meu trabalho" quando perguntei como ela conseguia escrever tantos livros.
Confesso que me falta essa determinação, essa força de vontade que faz com que apesar de todas as dificuldades, continue escrevendo. Me falta a tenacidade dos escritores natos, daqueles que renovam suas forças na escrita. Para mim, enquanto a escrita não pode ser o meu trabalho, continuará sendo o meu hobby.
A maioria esmagadora escreve nos intervalos do trabalho mundano, que enche a barriga e paga o aluguel, e com as sobras de energia que sabe-se lá de onde vem. E para escrever, o que resta? Os restos do tempo, das forças, da imaginação, usamos o que sobra. E isso não basta. Não para ser um excelente escritor. Porque escrever dá trabalho! E muito! É uma atividade que requer pesquisa, escrita, reescrita, revisão, lapidação, muitas outras revisões, um enorme esforço mental e disciplina, além de paz, silêncio, uma música inspiradora, ou o que quer que funcione para você.
Mas quando se chega em casa cansado, geralmente com dor de cabeça, ou nas costas, e ainda tem que dividir a atenção com os filhos, sim, autores também têm família, e com as tarefas de casa, quem tem energia para escrever?
Bem, eu não. E você?
Lindo o texto. Triste a realidade retratada. Parabéns, Priscila, você está cada vez melhor!
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