Coluna Asas #2 - Amor e ódio pela Literatura Brasileira (Priscila Pereira)

 



Por muito tempo pensei detestar a literatura nacional, isso porque ainda no início da adolescência tive professoras de português, acredito que bem intencionadas, mas equivocadas, a enfiarem “goela abaixo” os famosos clássicos nacionais: Lucíola, Iracema, Memórias póstumas de Brás Cubas entre outros. Meu Deus, como eu detestei essas leituras naquela época! Confesso que até hoje não dei outra chance para eles, quem sabe isso possa ser um desafio que ainda cumprirei e talvez até compartilhe com vocês algum dia. Automaticamente passei a associar a literatura nacional a algo chatíssimo e passei a evitá-la por completo. Bem, era o que eu pensava…


Desde muito nova que sou frequentadora assídua da biblioteca municipal e leitora voraz de clássicos estrangeiros, mas foi na biblioteca da escola que, entre uma aula e outra e nos recreios, pegava livros adolescentes que devorava com prazer.  Não sei como não me passou pela cabeça naquela época que esses tais livros adolescentes maravilhosos eram também amostras sólidas da  literatura nacional que eu tanto odiava.

Ainda lembro do sentimento que A marca de uma lágrima, de Pedro Bandeira me inspirou, como eu amei esse livro, um triângulo amoroso tão puro e baseado na famosa história do Cyrano de Bergerac. Li vários do Pedro, A droga da obediência, A droga do amor, O mistério da fábrica de livros, entre outros. Pensando agora, Pedro Bandeira foi um de meus autores preferidos mas nunca citado, ficou esquecido na adolescência. Soterrado na raiva que tinha da nossa literatura.

Vários livros que marcaram profundamente minha adolescência são quase todos nacionais.

Posso te dar meu coração, de Ganymédes José, foi um desses que deixou marcas, o primeiro livro que li onde um dos protagonistas morre no final. Chorei horrores com ele. Outros que ainda me lembro são: Mamãe não deixa, da Silvia Escorel,  Crescer é perigoso, de Márcia Kupstas, O passado esteve aqui, de Stella Carr, Os amantes da chuva, de Carlos Queiroz Telles, entre muitos outros que não consegui lembrar os nomes, mas pedaços dos enredos ainda rondam minha mente.

Hoje, já adulta e pretensa escritora, posso dizer que minha base foi a literatura juvenil brasileira que li por prazer nas bibliotecas, fora dos horários das aulas. Imagino o que seria de mim se não tivesse conhecido outra coisa naquela época senão o que me foi imposto pela escola, ainda hoje detestaria a literatura nacional e com certeza nunca seria escritora.

Torço para que hoje as coisas sejam diferentes nas escolas e os professores introduzam uma literatura adequada à idade a ao gostos das crianças e adolescentes e depois dessa base, aí sim, os clássicos talvez possam ser mais bem apreciados.


Comentários

  1. Parabéns pelo texto! Gostei da mensao a história do Cyrano. Conheci essa história através da série "CHAPOLIN COLORADO".👏👏👏👏👏

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  2. Parabéns pelo artigo! Tive experiências semelhantes na escola, mas felizmente fui salva pela coleção “Para Gostar de Ler”, com pequenos contos de importantes autores nacionais. Isso, pra mim, prova que a sensibilidade dos professores na escolha dos livros a serem trabalhados faz toda a diferença para aquele pequeno leitor em construção!

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    1. Com certeza, os professores podem formar ou destruir completamente um leitor! Obrigada por ler e comentar! 💖😘

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  3. Muito interessante e pertinente o seu texto, gratidão! Eu acho que o mero fato de obrigar as crianças a ler, tendo que decorar informações para fazer uma prova, contribui muito para essa experiência desagradável com a literatura brasileira. Eu li "O Guarani" aos 11 anos, por conta própria, e virei fã de José de Alencar. Fui lendo vários outros dele, mas detestei justamente "Iracema" e "Senhora", que tive que ler para a escola. Anos depois, ao reler esses livros, vi que a culpa foi mesmo de ler obrigado.

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    1. Sim! Depende muito do gosto e da bagagem do leitor, e sendo ainda na infância e adolescência é primordial primeiro cativar, fazer a criança tomar gosto pela literatura para depois incluir clássicos ou literatura mais substancial. Obrigada por ler e comentar 🥰😘

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  4. Que bela estreia, Pri. Gostei bastante do tema e de como o desenvolveu. Eu concordo que a escolha dos livros que nos eram impostos não era adequada. Não estávamos preparados para eles. Ótimo que incentivavam a leitura, mas talvez, muitas vezes, o tiro tenha saido pela culatra. Beijos e parabéns. Parabéns à Caligo tb pela nova coluna.

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    1. Obrigada por ler e comentar, Fernanda! Eu imagino que a intenção era boa e que agora, eu até possa gostar muito de José de Alencar, se eu der uma chance, mas na adolescência era intragável! 😁

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  5. Parabéns pela estreia, Priscila!

    Falamos bastante sobre isso no nosso podcast. É impressionante como ainda hoje esse método de ensino, esse primeiro contato com a leitura seja assim tão... arcaico. Me afastou da leitura, afastou você e tantos outros. No meu caso, que não tive outro insentivo além da escola foi fatal. Meu amor pela literatura considero tardio, penso no quanto eu perdi. Não li os clássicos brasileiros até hoje por conta disso, acho.

    Primeiro tem que se fisgar o leitor...não de sopetao, tem que mostrar que é prazeroso e o principal: eles tem que sentir identificação com a história, se não será apenas mais um texto pra decorar e ganhar boas notas.

    Enfim, parabéns pela estreia. Bela crônica, esperando as próximas. Bjos!

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  6. Eu tenho um contato com os clássicos desde criança, por causa da minha avó paterna, mas sempre foi mais dela me contar o enredo. Quando comecei a assistir animes, na extinta Manchete tinha animes baseados em clássicos, eu adorava. Resolvi ler Os Três Mosqueteiros com 10 anos e consegui, gostei da história. Mas uma leitura de mais clássicos foi na adolescência, só que eles competiam com o Pedro Bandeira, o Ganymedes José, a Stella Carr, a Agatha Christie, o Sidney Sheldon, a Janet Dailey, o Jorge Amado e tantos outros em pé de igualdade... Ou com uma leve desvantagem... =D

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