tag:blogger.com,1999:blog-89202774744579626452024-02-19T21:42:07.596-08:00Caligo Assessoria de PublicaçãoCaligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.comBlogger93125tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-39776112811105947532021-11-08T18:54:00.001-08:002021-11-08T18:54:38.904-08:00Contos da antologia "Outros Brasis da ficção a vapor", organização de Davenir Viganon<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjyp01bpYG32f9Z8nQikqmZ9f4a5AUzZDTpIT6UJlJYC_7IPlDcSdfkYFDdYzyyznAMeOy0eymkSzBhHPUW7h1C3uPPPlqBNvU_1932lPBb14a6wR89ww0o3_fNa0uiKIrScJyMIem7lBjFn06zsh5mvK1uZ0W3z_uFWGf3Re_N-ZeXuMmIdjEYlElIAg=s1280" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="904" data-original-width="1280" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjyp01bpYG32f9Z8nQikqmZ9f4a5AUzZDTpIT6UJlJYC_7IPlDcSdfkYFDdYzyyznAMeOy0eymkSzBhHPUW7h1C3uPPPlqBNvU_1932lPBb14a6wR89ww0o3_fNa0uiKIrScJyMIem7lBjFn06zsh5mvK1uZ0W3z_uFWGf3Re_N-ZeXuMmIdjEYlElIAg=s320" width="320" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Oficial: esses são os textos da antologia Outros Brasis da ficção a vapor e seus respectivos autores e autoras. Até a publicação, algum autor pode alterar seu pseudônimo de publicação e/ou o título do conto, caso isso aconteça será avisado nas redes sociais da editora.</div><p></p><span><a name='more'></a></span><p style="text-align: justify;"><br /></p><p><b>Contos dos autores convidados:</b></p><p>"O assassino de Abraham Lincoln" - A. Z. Cordenonsi</p><p>"Um crime no Mercado Público" - Davenir Viganon (org.)</p><p>"Um Prometeu vaporPUNK" - Nikelen Witter</p><p>"Zenóbia na terra da garoa: conto psicológico" - Roberto de Sousa Causo</p><p><br /></p><p><b>Contos dos autores selecionados pelo edital aberto:</b></p><p>"Aritana, Santiago e uma gosmenta inconveniente" – Amana</p><p>"Mate o Rei" - Daniel Freitas</p><p>"Os piratas dos pampas" - Eduardo Souza Alós</p><p>"Canudos a vapor" - Fernando A. de Godoy</p><p>"O mar" - Heleno Prates</p><p>"Destino: Estação Imperial" - Renato Puliafico</p><p>"Ecos, vozes e diligências da máquina hidráulico-orgânica de cuspir recados" – Ricardo Celestino</p><p>"Crime em Pindorama" - Rubem Cabral</p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-85462147567851395722021-09-16T17:28:00.007-07:002021-09-16T17:43:09.741-07:00Coluna Asas #76 - Por que não gostei de “A Montanha Mágica” de Thomas Mann - (Fabio Shiva)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHibXzhGIRVoOmqkHSwKrX9f0CkKEBTRnQi029je5ZkQV3Rfl2dgRiRz8CDdlT1eB-ae830yFqKTav8EER0qPiyrP3DYgBCtZgnTmIQF1SRaxO1Vf0HUnbKc6QD73oN5I3CrWGPD8MymVe/s303/A_MONTANHA_MAGICA_1297885959B.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="303" data-original-width="200" height="303" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHibXzhGIRVoOmqkHSwKrX9f0CkKEBTRnQi029je5ZkQV3Rfl2dgRiRz8CDdlT1eB-ae830yFqKTav8EER0qPiyrP3DYgBCtZgnTmIQF1SRaxO1Vf0HUnbKc6QD73oN5I3CrWGPD8MymVe/s0/A_MONTANHA_MAGICA_1297885959B.jpg" width="200" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Segoe UI Emoji",sans-serif" style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Segoe UI Emoji"; mso-fareast-font-family: "Segoe UI Emoji";">Raras
vezes fiquei tão feliz ao terminar uma leitura. Essa montanha me deu mesmo uma
canseira! Não restam dúvidas de que se trata mesmo de um grande livro (em todos
os sentidos, com suas quase 900 páginas em letra miúda!), uma obra-prima da
literatura mundial... Mas foi um desses que gostei mais de ter lido que de ler
propriamente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Segoe UI Emoji",sans-serif" style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Segoe UI Emoji"; mso-fareast-font-family: "Segoe UI Emoji";"><o:p> <span></span></o:p></span></p><a name='more'></a><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Segoe UI Emoji",sans-serif" style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Segoe UI Emoji"; mso-fareast-font-family: "Segoe UI Emoji";">O
problema todo é que escalei a maior parte da montanha mágica brigando com ela!
Confirmei nessa leitura a primeira impressão que tive do Thomas Mann ao ler “A
Morte em Veneza”: um alto intelectual, de senso estético apuradíssimo... e no
entanto cego espiritualmente! Mann incorre no mesmo erro de ilustres
contemporâneos como Aldous Huxley, iludido pela pretensa primazia da razão
propagada pela ciência e filosofia europeias no início do século XX: confundir
“mente” com “espírito”. E daí o fato de aproximadamente 500 páginas das 900 que
compõem “A Montanha Mágica” e que fazem a alegria dos eruditos, envolvendo
sutis discussões filosóficas, foram para mim uma grande provação, páginas que
li com a sensação de estar desperdiçando tempo... pois não encontrei verdade
ali, apenas estéreis divagações.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Segoe UI Emoji",sans-serif" style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Segoe UI Emoji"; mso-fareast-font-family: "Segoe UI Emoji";"><o:p> </o:p></span><span face=""Segoe UI Emoji", sans-serif" style="font-size: 12pt;">Uma
ideia que tive ao assistir “Ninfomaníaca” do Lars Von Trier voltou com muita
insistência durante essa leitura: penso que Deus escolhe algumas pessoas, a
quem concede grande inteligência, sensibilidade e talento, mas ao mesmo tempo
oculta-Se inteiramente dessas pessoas... como se Ele quisesse ver o que suas
talentosas crianças cegas criarão no mundo! Por isso acho que Deus gostou de “A
Montanha Mágica”, assim como gostou de “Ninfomaníaca”...</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Segoe UI Emoji",sans-serif" style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Segoe UI Emoji"; mso-fareast-font-family: "Segoe UI Emoji";"><o:p> </o:p></span><span face=""Segoe UI Emoji", sans-serif" style="font-size: 12pt;">Já
eu não gostei nem um pouco foi da inclusão de dez páginas de diálogos em
francês, bem no meio do livro. Desconfio que essas páginas ajudaram muito na
boa reputação de “A Montanha Mágica” entre os literatos, pois sempre há quem
busque na literatura uma forma de se sentir superior aos outros. Pois bem, meu
francês autodidata me permitiu ler essas dez páginas (e que boa surpresa
descobrir que o próprio Mann se considerava também um autodidata), embora não,
certamente, apreciar a sutileza de Hans (herói da história) falando francês
como se fosse alemão... achei um esnobismo desnecessário. Se o autor achava
fundamental ter essas páginas em francês, a decência deveria tê-lo obrigado a
colocar esse trecho no início do livro, e não depois da página 400...</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Segoe UI Emoji", sans-serif" style="font-size: 12pt;">Felizmente
fiz as pazes com a Montanha Mágica antes do final da leitura. Gostei de ter
lido e recomendo a todos interessados em se aprofundar na literatura, mesmo com
todas as ressalvas. O livro tem grandes méritos e é realmente muito bem
escrito. O problema todo é que Thomas Mann não é Hermann Hesse! Sofri com Mann
a mesma decepção que tive com Kafka: ele é bom, é até genial, mas não é nenhum
Hesse... Quem quiser saber quão profundo pode ser um olhar ocidental, que leia
Hesse!</span></p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-42460055380132098022021-09-11T07:00:00.019-07:002021-09-11T07:00:00.228-07:00Coluna Asas #75 - Elas na literatura #2: Toni Morrison - (Renata Rothstein)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQaOyWRXTbyut5ckg9A5sMc2CUIFFixAr9p9GZZcQ9DsfJVOQThPjkI8R6E6thnZuxdMj2MPaltZvGHwD956mfWhOisuBRb5KLA67l6u8qNVwDBoLf_4eYwcWqTagrYgnEV2QRDpAKTLfe/s503/toni.jpg.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="503" data-original-width="489" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQaOyWRXTbyut5ckg9A5sMc2CUIFFixAr9p9GZZcQ9DsfJVOQThPjkI8R6E6thnZuxdMj2MPaltZvGHwD956mfWhOisuBRb5KLA67l6u8qNVwDBoLf_4eYwcWqTagrYgnEV2QRDpAKTLfe/s320/toni.jpg.png" width="311" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">“Nós morremos. Esse pode ser o significado da vida. Mas nós fazemos linguagem. Essa pode ser a medida de nossas vidas." - Toni Morrison, no discurso proferido ao receber o Nobel de Literatura (1993).</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><span><a name='more'></a></span><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Primeira escritora negra a receber o Prêmio Nobel de Literatura, nascida em 18 de fevereiro de 1931, em Ohio, Estados Unidos, Chloe Ardelia Wofford foi escritora, editora e professora, mãe e ativista pela causa preta, tendo escrito as biografias de Mohammed Ali e Angela Davis. </span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both;"><span style="font-family: georgia;">Toni estudou muito ao longo da vida, não obstante suas origens, que tornariam tudo mais difícil. Era filha de um soldador e de uma dona de casa, vivenciando uma realidade de comunidade preta, nos Estados Unidos.</span></div><div class="separator" style="clear: both;"><span style="font-family: georgia;">Antes de tornar-se escritora, Toni foi empregada doméstica, casou-se, teve dois filhos e se divorciou. </span><span style="font-family: georgia;">Estudou Teatro, Letras, e em 1970 publicou </span><b style="font-family: georgia;">O olho mais azul</b><span style="font-family: georgia;">, que, na ocasião, não foi tão bem aceito.</span></div><div class="separator" style="clear: both;"><span style="font-family: georgia;">Toni, porém, seguiu sua trajetória escrevendo, sempre abordando com fervor os temas do sofrimento e exclusão, sendo fortemente representativa na literatura preta norte-americana. E é assim que vai abrindo caminho e conquistando espaço, trazendo aos olhos de uma sociedade estruturalmente racista as mazelas da escravidão e suas inúmeras consequências. </span></div><div class="separator" style="clear: both;"><span style="font-family: georgia;">Escritora de uma obra vasta, com onze romances, cinco livros infantis, oito livros de não ficção, textos teatrais e contos. Seu estilo, marcado por histórias fortes, tratando de temas como escravidão e seu impacto na vida das mulheres negras nos Estados Unidos nos séculos XIX e XX, faz sua obra ser extremamente necessária e de destaque, uma vez que, em pleno século XXI, continuamos a ver, diuturnamente, mulheres de variadas etnias sendo massacradas, simplesmente e tão somente pelo fato de serem mulheres. </span><span style="font-family: georgia;">São histórias densas, cheias de conteúdo e vida, resiliência, resistência, coragem - e morte.</span></div><div class="separator" style="clear: both;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both;"><span style="font-family: georgia;">5 livros de Toni Morrison que precisam ser lidos:</span></div><div class="separator" style="clear: both;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both;"><span style="font-family: georgia;"><a href="https://www.amazon.com.br/olho-mais-azul-Toni-Morrison/dp/8535903151/ref=sr_1_1?crid=2VF6RMT2AOT3K&dchild=1&keywords=o+olho+mais+azul&qid=1631329334&s=books&sr=1-1" target="_blank">O olho mais azul</a> </span></div><div class="separator" style="clear: both;"><span style="font-family: georgia;"><a href="https://www.amazon.com.br/Amada-Toni-Morrison/dp/8535910697/ref=pd_bxgy_2/143-2539039-7819506?pd_rd_w=j6Cgk&pf_rd_p=4a943320-02ab-4775-ad7a-eaf57d00a244&pf_rd_r=WYPW8YN4ABH743361W7T&pd_rd_r=aca973bb-bd37-49e1-8aea-c79e2addb321&pd_rd_wg=BfsJf&pd_rd_i=8535910697&psc=1" target="_blank">Amada</a> (considerado sua obra-prima, tendo sido adaptado para o cinema)</span></div><div class="separator" style="clear: both;"><span style="font-family: georgia;"><a href="https://www.amazon.com.br/Jazz-Toni-Morrison/dp/8535915117/ref=pd_sbs_2/143-2539039-7819506?pd_rd_w=o7CTj&pf_rd_p=1cea723e-f006-4e24-9fef-c33bd3108ae3&pf_rd_r=0WAC5ZM192R28SST7T9D&pd_rd_r=c4fb260c-870d-4ff1-a868-e56e18fd9392&pd_rd_wg=56nnx&pd_rd_i=8535915117&psc=1" target="_blank">Jazz</a> </span></div><div class="separator" style="clear: both;"><span style="font-family: georgia;"><a href="https://www.amazon.com.br/Para%C3%ADso-Toni-Morrison/dp/8571648263/ref=sr_1_1?crid=1WNC7C0T92FW3&dchild=1&keywords=para%C3%ADso+toni+morrison&qid=1631329493&sr=8-1" target="_blank">Paraíso</a> </span></div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://www.amazon.com.br/Voltar-para-casa-Toni-Morrison/dp/8535927123/ref=pd_sbs_8/143-2539039-7819506?pd_rd_w=L4Wzm&pf_rd_p=1cea723e-f006-4e24-9fef-c33bd3108ae3&pf_rd_r=E3N0X9V1ZJ52EGKMVJYV&pd_rd_r=aed70bfd-77ec-4060-b0b1-b3eb74a8063f&pd_rd_wg=MJ8cO&pd_rd_i=8535927123&psc=1" target="_blank"><span style="font-family: georgia;">Voltar para casa</span></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both;"><span style="font-family: georgia;">Morrison faleceu em agosto de 2019. Sua obra, seu legado seguem, mundo afora, demonstrando que a força da palavra e da cultura são indispensáveis na vida, movimentam, transformam, como na citação da própria Toni: fazer linguagem pode ser a medida de nossas vidas.</span></div></div>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-78554512589838883372021-09-09T16:28:00.000-07:002021-09-09T16:28:25.598-07:00Coluna Asas #74 - Singular - (Giselle Fiorini Bohn)<p> </p><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3dc5GN2jjVYPcCx_9r4cYNBfyuwIrnVykfdi7f11cwvtpQLZQKslPTFnNbdmDN1aK_jkUjJblvgIp1-PoK6ODqu4lJGrULu9S0h46vz0xs1S8Mhl3SJdSXclgoFkyG5MeHgKd0iI1R7b2/s2048/imgagosto22.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1913" data-original-width="2048" height="299" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3dc5GN2jjVYPcCx_9r4cYNBfyuwIrnVykfdi7f11cwvtpQLZQKslPTFnNbdmDN1aK_jkUjJblvgIp1-PoK6ODqu4lJGrULu9S0h46vz0xs1S8Mhl3SJdSXclgoFkyG5MeHgKd0iI1R7b2/s320/imgagosto22.jpeg" width="320" /></a></div><br /><span style="font-family: "Georgia",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Georgia",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Quando eu era adolescente, quis
contar a colegas da escola que meu irmão havia, anos antes, visitado a
Patagônia. Mas na hora me confundi e disse que ele fora à Patolândia. Em outra
ocasião, em uma brincadeira clássica de Stop!, na categoria animais com a letra
D, escrevi Dinoceronte.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Georgia",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Acho que nem preciso dizer como
ficou minha reputação intelectual entre meus amigos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span></span></p><a name='more'></a><span style="font-family: "Georgia",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Georgia",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Agora, trinta e tantos anos
depois, ainda rio com essas histórias e com muitas outras igualmente hilárias.
Há também as constrangedoras, as ternas, as dramáticas, as tristes – todas
guardo como joias. Na peça que é minha vida, não vejo minhas histórias como o pano
de fundo ou o cenário, mas, sim, como o próprio espetáculo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Georgia",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Porque amo histórias de vida. Por
mais que eu aprecie a ficção e uma trama inteligente, a mim nada supera as
coisas reais que acontecem com gente real na vida real. E, de alguma maneira –
e felizmente! –, as pessoas ao meu redor parecem farejar esse meu fascínio: aonde
quer que eu vá, há sempre alguém pronto a me contar sua saga. Adoro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Georgia",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Mas cada vez que ouço um relato –
banal ou impressionante, não importa –, eu me pergunto se ele se perderá. Ainda
que um amigo, uma irmã ou um filho se lembre por algum tempo, chegará o momento
em que estará esquecido para sempre. Sim, é da natureza da vida a
transitoriedade, entretanto e ao mesmo tempo, tudo o que vivemos é tão único e
tão particular que me dói pensar nesse apagamento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Georgia",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Afinal, existem duas histórias
iguais? Para cada general que entrou para os livros de História existiram
milhares de soldados, cada um com seus pensamentos, seus medos, suas alegrias.
Há aquele que deixou a namorada para trás, há um cujo pai tanto chorou sua
ausência, outro que considerou desertar, possivelmente um que teve prazer em
matar. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Isso tudo me interessa, muito,
mais do que a biografia do militar condecorado. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Georgia",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O que torna uma história digna de
ser imortalizada não é, ao menos a mim, sua grandiosidade, seu impacto ou as
credenciais de quem a viveu, mas sua singularidade. Estamos tão habituados a
acreditar que só os realizadores de grandes feitos merecem registros que não
percebemos o quão precioso é o que cada de um de nós experiencia, sente, pensa,
sofre, deseja. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Georgia",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">No meu mundo ideal, todos
escreveriam suas memórias. Todos contariam como foi seu primeiro beijo, o que
sentiram ao perder alguém que amavam, qual seu maior arrependimento. E esse
olhar para a própria história não seria apenas um presente que deixaríamos para
nossos familiares e amigos, mas um favor que faríamos a nós mesmos: por mais
doloridas ou maravilhosas que tenham sido as experiências, deveríamos sempre abraçá-las
com reverência – são nossas e de mais ninguém. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Georgia",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">E ao fazer isso, talvez nos
lembrássemos de não cometer os mesmos erros, de perdoar – a nós e aos outros –,
de não nos levarmos tão a sério. E, acima de tudo, talvez nos lembrássemos
também de que tudo passa nesta vida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Georgia",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Assim como passou a zoação por eu
ter escrito dinoceronte. Demorou, mas passou.<o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-1293864912072771042021-08-29T15:20:00.001-07:002021-08-29T15:20:15.715-07:00#OBFaV - Prazo prorrogado<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjU6mFZgf5nnu3IY_uO-n8W4fVLkzdYNCg2a1famAyOdOBcAN0wPTSDUJz7G5bSCSD04gCsLzIOzq7aRFK0ba8h8uKJYa_KutCPruK7TrNjTXrpT8QVizOtoSQKb5tIpbdF8Q4Wd_HkgA4C/s1080/Aviso-prazo-prorrogado.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjU6mFZgf5nnu3IY_uO-n8W4fVLkzdYNCg2a1famAyOdOBcAN0wPTSDUJz7G5bSCSD04gCsLzIOzq7aRFK0ba8h8uKJYa_KutCPruK7TrNjTXrpT8QVizOtoSQKb5tIpbdF8Q4Wd_HkgA4C/s320/Aviso-prazo-prorrogado.png" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><h4 style="clear: both; text-align: justify;">Link para o post com o edital: <a href="https://www.caligopublica.com/2021/07/edital-outros-brasis-de-ficcao-vapor.html" style="text-align: left;">CaligoPublica: Edital - Outros Brasis de Ficção a Vapor - Confira as regras e vamos escrever!!!</a></h4><br /><p></p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-73470572037393582982021-07-27T15:54:00.004-07:002021-07-27T15:54:49.246-07:00Coluna Asas #73 - (Des)medida - (Bruno de Andrade)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqHtONfivTqtkT7L35OsZvDABc_BljQpJZj9vAQSzuBrvOqb1wvd-XzMjDXjH-aVzTkFgLc-Gx8McZYVOio1BoQxk6L2nA51D1J_UA5Cc69UOM-3_YhTS37HUmQn6sBOc1xCUqQ4nAZZ-E/s2048/Julho-%2528Des%2529medida.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1365" data-original-width="2048" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqHtONfivTqtkT7L35OsZvDABc_BljQpJZj9vAQSzuBrvOqb1wvd-XzMjDXjH-aVzTkFgLc-Gx8McZYVOio1BoQxk6L2nA51D1J_UA5Cc69UOM-3_YhTS37HUmQn6sBOc1xCUqQ4nAZZ-E/s320/Julho-%2528Des%2529medida.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i>Como se frita um ovo?<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Eu devia ter uns seis anos — tinha
mais, certamente, mas a história fica menos vergonhosa se eu diminuir a idade —
e me encontrava numa situação crítica: sozinho em casa e faminto como apenas as
crianças conseguem ficar. O socorro demoraria cerca de meia hora, o que me dava
a certeza de que não chegariam antes de eu me tornar dublê de arqui-inimigo do
He-Man.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i>Ok, vamos por partes.
Ingredientes.<o:p></o:p></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span></span></p><a name='more'></a><i><br /></i><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Um ovo. Vá até a geladeira e
pegue um ovo. Essa parte parecia razoavelmente simples, embora quebrá-lo e
colocar seu conteúdo na frigideira exigia alguma espécie de milenar habilidade samurai
que eu sabia não possuir. O que mais? Margarina e sal. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Margarina. E sal. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">E aí começaram meus problemas.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Nunca compreendi a intricada e
misteriosa alquimia que os outros chamam de culinária. Aos seis — talvez sete
—, estava convencido de que meus pais dominavam alguma obscura magia ancestral
que os permitia pegar ingredientes sem utilizar nenhuma medida aparente e
jogá-los na panela em suas exatas quantidades necessárias. Sem esses místicos
segredos, eu estava perdido.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i>Quanto de margarina? Quanto de
sal?<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Mas a ignorância não intimida uma
criança. Sobretudo uma criança faminta. Usei todo o meu saber infantil para
encontrar uma lógica irrefutável: é só colocar muito, assim não há risco de
faltar!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">E então vi nascer diante dos meus
olhos uma nova fórmula alquímica: uma amarelada e nada apetitosa sopa salgada
de margarina. Com um ovo boiando no meio. Ao menos tinha um ovo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O bom senso dizia para eu não
engolir aquela salmoura gordurosa. Mas não dá pra ter bom senso aos sete — ok,
ok, oito.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Foi minha primeira experiência na
cozinha. E a culpo por toda uma vida de inaptidão gastronômica. O que eu não
imaginava é que, mesmo tendo a prudência de me manter longe do fogão, eu ainda
faria muita sopa salgada de margarina na vida. E provaria outras receitas tão
pavorosas quanto, vindas de <i>chefs</i> tão desastrados quanto eu.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Porque a lógica<i> </i>do<i> bota
mais pra não faltar</i> se expande por várias searas. Sobretudo a artística. E
tome filme de ação com tantas explosões que quando as coisas estão inteiras na
tela parece falha na projeção, músicas em que mal se distingue algum
instrumento no meio de inúmeros efeitos eletrônicos, fotos de seres humanos que
lembram bonecos de cera após um tratamento exagerado na edição, jogos em que
pipocam tanta coisa na tela que parecem mais um esforço para causar uma
convulsão nos jogadores.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">E a literatura... ah, a
literatura! Já li obras que poderiam vir embaladas num belo potão de margarina.
Metáforas pulando para todo lado, analogias em cima de analogias que já não
pareciam mais análogas a nada, adjetivos tão carregados que precisavam eles
mesmos serem adjetivados, figuras de linguagem completamente desfiguradas em
meio a tantos floreios e firulas. Terminava a leitura sentindo os dedos
engordurados de folhear as páginas e a garganta travando de tanto sal engolido.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Definitivamente, a falta de bom
senso não ataca apenas famintos garotos de oito anos. Ou nove... ou dez. Talvez
uns doze. Não é mais relevante.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Não posso dizer que eu mesmo
escape da armadilha da fartura — talvez esteja errando a mão agora mesmo
enquanto escrevo este texto. Mas tenho tentado equilibrar melhor os temperos e
condimentos da minha escrita para não transformar o leitor numa mosca lutando
para escapar da minha famigerada sopa indigesta.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Tampouco compro a tese de que
menos é, necessariamente, mais. Às vezes menos é só sem graça mesmo. E todos
nós queremos um <i>fast food</i> de vez em quando.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Porque escrever também é uma
alquimia miserável. É preciso ter a intuição que meus pais tinham ao jogarem os
ingredientes na panela. E nem adianta tentar seguir as receitas que tanto
vendem por aí: seu prato nunca fica igual àquele da foto. Quanto mais
formulaica a escrita, mais ela se aproxima de uma sopa salgada de margarina. E
o leitor percebe. E faz cara feia.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Assim como na culinária, o melhor
é experimentar, descobrir novos sabores, tentar novas misturas. Eventualmente
dá certo, eventualmente botamos fogo na cozinha. Tudo faz parte do prazer de
inventar uma nova receita.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O problema mesmo é quando bate a
fome. Aí volto à minha indagação inicial:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i>Como diabos mesmo se frita um
ovo?<o:p></o:p></i></p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-89751906214254404412021-07-03T14:06:00.001-07:002021-07-03T14:07:07.594-07:00Coluna Asas #72 - Encontro - (Giselle Fiorini Bohn)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7Y7tt3V9ofbdWok2rrS2UOUlnDAp6xr7aJlFKIkrClzUK-W-kayuHKk272LuaGqMjOwKibgivqd0JTkydCuLv7t4Ho4m47a823VmRIg7L-66897G1JgNBOhX6fWr2E8Dn_DgPb1gIiksz/s1600/imagem-junho.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1432" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7Y7tt3V9ofbdWok2rrS2UOUlnDAp6xr7aJlFKIkrClzUK-W-kayuHKk272LuaGqMjOwKibgivqd0JTkydCuLv7t4Ho4m47a823VmRIg7L-66897G1JgNBOhX6fWr2E8Dn_DgPb1gIiksz/s320/imagem-junho.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Moro na Alemanha. A vida
expatriada, como muitos devem imaginar, traz muitas dores – saudades,
estranhamentos, duros aprendizados. Mas entre essas dores, tenho uma que me
aflige de modo especial - a incomunicabilidade.<o:p></o:p></span></p><span><span style="font-family: georgia;"><a name='more'></a></span></span><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Hoje, num dia de primavera aqui
na Baviera, saí para caminhar ao redor do lago que fica perto de minha casa.
Apesar de lindíssimo, é um local que só os residentes conhecem, e, como não
somos muitos aqui no meu vilarejo, raramente vejo alguém. Por ali passeio sempre
sem pressa, por vezes tiro fotos que se acumulam em meu celular, penso na vida,
deixo-me encantar pela beleza do mundo enquanto me desencanto por seus rumos.</span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Mas hoje havia ali um carro à
entrada da trilha que leva ao lago, e, mais à frente, sentado em um velho banco
de madeira à margem, um homem muito idoso, sozinho. Passei ao largo; ele sequer
me notou. De canto de olho, porém, vi que ele chorava em silêncio, seus ombros
chacoalhando levemente com os soluços abafados pelo alto canto dos pássaros e o
coaxar dos sapos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Segui em frente, com o coração
apertado. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Se estivesse em meu país,
funcionando em minha própria língua-mãe, e não neste idioma que não domino além
do essencial, teria me aproximado, com um sorriso solidário e uma oferta nos
lábios: o senhor quer conversar? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Talvez, ao fazer isso, eu me
tornasse inconveniente, invasiva, desrespeitosa até, em um momento de solitude
e pesar que não me pertence. Ainda assim, teria corrido esse risco; sei que às
vezes só o que precisamos é falar, e um estranho - que justamente por não nos
conhecer vem desarmado - pode ser nosso melhor ouvinte. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Mas o que isso tem a ver com
literatura? A mim, tudo. Esse falar, esse compartilhar, ainda que com um
estranho, é o que me move a escrever. Eu preciso falar. Tenho dúvidas, dores,
alegrias, histórias dentro de mim que preciso contar. E quando as conto, passo
a compreendê-las melhor, a organizar o que realmente sinto, tiro de mim pesos
mortos que arrastam meus passos sem eu sequer perceber. A leveza só se revela
ao final de cada página escrita.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Preciso escrever. E escrevo com a
urgência de alguém que precisa desabafar. Meu leitor é o estranho amigável que
surge, sorrindo, quando estou com os olhos perdidos à beira do lago, e que se
oferece para me ouvir.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">É exatamente por isso que não
menosprezo a obra de ninguém. Sei que nem todos os autores são movidos por essa
minha necessidade de conexão. Deve haver tantos motivos para se escrever quanto
escritores, mas não importa. Escrever é, por princípio, uma tentativa de se criar
uma ponte entre duas mentes, dois espíritos. Pode-se criticar a beleza da
ponte, pode-se reclamar que ela tem falhas estruturais, pode-se até dizer que a
ponte não leva a lugar algum, mas não se pode negar que foi o desejo de comunicação
que a materializou.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Se eu pudesse escolher o que
quero atingir com a minha escrita, seria inspirar as pessoas a buscar essa
ponte, de qualquer um de seus lados. Seja como escritor ou como leitor, abrir-se
para um livro é permitir, ao mesmo tempo, um encontro inédito e familiar: com o
outro e consigo mesmo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Eu quero ser essa pessoa que fala
e encontra ouvintes, e quero ser também aquela que se dispõe a ouvir. Por
vezes, existirão ruídos, algumas frases se perderão, pode haver mal-entendidos;
toda forma de comunicação tem seus riscos. Mas quando o encontro acontece, vale
a pena todo o esforço.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Era o que eu desejei fazer com o velhinho
sentado à beira da água. Queria ter lhe dado a chance de falar, de conectar-se,
ainda que com uma estranha como eu. Talvez ele tivesse recusado essa
oportunidade, talvez a tivesse tomado de braços abertos. Nunca vou saber, pois
não me aproximei e nada ofereci. Eu o observei, na volta de meu passeio,
caminhar lentamente, com a ajuda de uma bengala, de volta ao carro, e ir
embora. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Foi então minha vez de chorar.<o:p></o:p></span></p></div><p><br /></p><p><br /></p><p><span style="font-family: georgia;">Imagem: Foto do acervo da autora.</span></p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-28479487797147385132021-07-02T17:07:00.003-07:002021-07-02T17:51:54.618-07:00Outros Brasis de Ficção a Vapor! - (Davenir Viganon)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5pajqjuATItU2J6R8SnsVsvxYPm6zn_zD5LJut51PoM80fIKB-mLnYCW5NxWBrWRRN22BFPQ3dxD059x5InO2T9yr1tnnISntvny2Sxnc2u80SD9v8rYbBx0VG0spn5NT0saBFrYWFl1p/s640/hot-air-balloon-Imagem+de+Prawny+por+Pixabay.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="640" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5pajqjuATItU2J6R8SnsVsvxYPm6zn_zD5LJut51PoM80fIKB-mLnYCW5NxWBrWRRN22BFPQ3dxD059x5InO2T9yr1tnnISntvny2Sxnc2u80SD9v8rYbBx0VG0spn5NT0saBFrYWFl1p/s320/hot-air-balloon-Imagem+de+Prawny+por+Pixabay.jpg" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">É com muita alegria que anuncio
que uma nova antologia está nascendo. É hora de começar mais uma jornada. Em
2020, foi lançado o edital para a Antologia <b>Outros Brasis da Ficção Científica</b> e foi um sucesso, desde a adesão dos escritores que enviaram contos
sensacionais, até a campanha no Catarse. A editora acreditou tanto na proposta
que, além da antologia, criou também o selo <b>Outros Brasis</b>. Agora está saindo o
edital para um novo volume desse selo: <b>Outros Brasis de Ficção a Vapor</b>.<o:p></o:p></p><span><a name='more'></a></span><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Como o nome já sugere, será uma
antologia <i>steampunk</i>. Para ajudar os
pouco familiarizados com o termo, vamos contar como surgiu esse
subgênero da Ficção Científica e depois expor a nossa visão de como queremos
que essa antologia seja. Dessa forma, acreditamos poder ajudar os candidatos que decidirem "escrevinhar" para nós a terem mais chances de embarcar conosco.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O <i style="mso-bidi-font-style: normal;">steampunk</i> é um subgênero da Ficção Científica, que tomou um rumo
muito diferente do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">cyberpunk</i>. Ambos
saíram das cabeças de William Gibson e Bruce Sterling, autores da obra base do
que viria a ser classificada como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">steampunk</i>,
A Máquina Diferencial. De um lado, o cyberpunk ainda tem uma estética muito
forte e ainda influencia outras artes, além da literatura. Por exemplo, Blade
Runner e, depois, Matrix, se tornaram a base estética do cinema de ação desde
que lançados e ainda não foram superados. Já o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">steampunk</i>, é um fenômeno estético que rompeu de forma mais
abrangente os limites da literatura, espalhando-se pela moda, apetrechos, quadrinhos,
filmes e tem muita força em convenções próprias, festas, clubes de fãs, cosplay,
games e animações.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Voltando um pouco, tudo iniciou
como uma história alternativa, na obra A Máquina Diferencial, que imaginou um
mundo onde o poderio da Inglaterra vitoriana seria ainda maior, uma vez que a
invenção de Charles Babbage permitiu uma capacidade de cômputo muito superior
e, por consequência, uma vantagem burocrática e administrativa muito maior em
relação às outras potências da Europa. Podemos ver em “A Máquina Diferencial”,
que os Estados Unidos como conhecemos não chegaram a se formar. Uma das causas
históricas do sucesso na Guerra de Independência estadunidense é justamente o
contexto complicado na Europa que exigiu mais atenção da Inglaterra, que suas
treze colônias nas américas.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O vapor nublando as cidades
inglesas, característico do Steampunk, é apenas uma extrapolação do uso
excessivo desse tipo de energia, demandada de uma máquina administrativa muito
eficiente. A aristocracia e a elegância da moda vitoriana, que somada a
apetrechos e acessórios de metal, chamamos de neovitoriana, é algo que é muito
reproduzido na estética Steampunk, porém não está presente em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Máquina Diferencial</i>. Isso não
significa que ela não é importante ou que não deva ser estimulada. Acho
importante não esquecer as raízes <i style="mso-bidi-font-style: normal;">punks</i>
do subgênero, onde os personagens marginalizados do sistema precisam lutar para
sobreviver e eles nem sempre estão nos melhores trajes neovitorianos.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Admito ter um pouco de
implicância com o excesso de pompa que compõe a estética <i style="mso-bidi-font-style: normal;">steampunk</i>, principalmente quando não tem função narrativa, mas
também não sou um purista, brandindo “A Máquina Diferencial” como único cânone
válido. Não mesmo. Acredito que o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">steampunk</i>
se beneficia muito quando suas histórias se misturam com elementos de fantasia
e terror. E não precisamos sair do Brasil para ler essas histórias. Autores brasileiros
como <b>Enéias Tavares, A. Z. Cordenonsi</b> e Nikelen Witter são bons exemplos dessa
mistura e<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>são destaques de um movimento
que é mais que estética vazia, mas é muito abrangente, independente do sucesso
comercial que possa ter. Há um público fiel e apaixonado, de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">cosplayers</i> e produtores de outras mídias
além da literatura e a próxima antologia quer chegar nesses corações
apaixonados e, quem sabe, despertar essa paixão para novos leitores de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">steampunk</i>.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A próxima antologia do selo Outros
Brasis será <i style="mso-bidi-font-style: normal;">steampunk</i>. Assim como a
antologia anterior, <b>Outros Brasis da Ficção Científica</b>, queremos que ela
transpire Brasil. Seja na ambientação, imaginando outros brasis encobertos pelo
vapor ou tenham brasileiros como destaque, afinal o selo não tem Brasil no nome à toa. Outro elemento muito importante é que o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">punk</i> não seja esquecido. O aspecto contestador será muito bem
vindo às histórias e há muitas formas de fazê-lo vir à tona. Personagens marginalizados
fizeram nossa história, ainda que nem sempre com o devido protagonismo. Regiões
longe dos grandes centros econômicos são cenários frutíferos para o elemento
punk que queremos. Em outras palavras, o regionalismo não é obrigatório, mas
será bem-vindo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Por último, e não menos
importante, é que diferente da antologia anterior, em que fomos bastante
rígidos em relação aos contos serem de Ficção Científica, agora incentivamos a
mistura da FC com elementos de Fantasia, Policial e Terror. Trata-se apenas de
uma constatação do quanto o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">steampunk</i>
abriu novos horizontes desde que caiu no gosto da cultura pop, sem perder de
vista autores clássicos, nascidos no período extrapolado nas narrativas <i style="mso-bidi-font-style: normal;">steampunks</i>, como Mary Shelley, Arthur
Conan Doyle, Edgar Allan Poe, entre outros.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Acredito que já acendemos uma
lamparina sobre as principais engrenagens que compõem o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">steampunk</i> e, aos que decidirem trilhar por ela, boa sorte e aguardo
seus textos! <o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Imagem: "Hot air baloon", por Prawny, no Pixabay.</p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-38243946761080231152021-07-01T16:39:00.005-07:002021-09-04T18:25:58.601-07:00Edital - Outros Brasis de Ficção a Vapor - Confira as regras e vamos escrever!!! (Atualizado em 04/09/2021)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0TTn3ujcsPz6X4gp9mBK0wszV4waBKRxiUZjqzW0FvWtTwGVq3pI7066bWdj5fc9cyhinYoxMC_uzmSAgVqCNysK969Fv_T4oB-WFYIZwLS5g2N42nYMDF31wzUWKExP7gao5cQfxSvgn/s250/J-logo-site250x250.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="250" data-original-width="250" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0TTn3ujcsPz6X4gp9mBK0wszV4waBKRxiUZjqzW0FvWtTwGVq3pI7066bWdj5fc9cyhinYoxMC_uzmSAgVqCNysK969Fv_T4oB-WFYIZwLS5g2N42nYMDF31wzUWKExP7gao5cQfxSvgn/s0/J-logo-site250x250.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">EDITAL<o:p></o:p></span></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">CONVOCAÇÃO PARA ANTOLOGIA<o:p></o:p></span></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">“Outros Brasis de Ficção a Vapor”<o:p></o:p></span></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Editora Caligo<o:p></o:p></span></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">ANO 2021<o:p></o:p></span></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Organizador: Davenir Viganon<o:p></o:p></span></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> <span></span></span></p><a name='more'></a><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">1. OBJETIVOS<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">1.1
– Estimular a escrita, apoiando a publicação de trabalhos nacionais inéditos,
no sub-gênero de ficção científica denominado steampunk.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">1.2
– Selecionar <b><u>contos</u></b>, escritos
por autores e autoras, para compor a Antologia “Outros Brasis de Ficção a Vapor”,
a ser publicada em edição física e em ebook.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">2. PROCESSO DE INSCRIÇÃO<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">2.1
– Podem se inscrever autores e autoras falantes da língua portuguesa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">2.2
– Serão aceitos trabalhos inéditos, isso é, ainda não publicados, bem como
trabalhos publicados em meio eletrônico (sites, blogs, fóruns, entre outros)
desde que modificados em pelo menos 50% da publicação já existente. Trabalhos publicados em papel (jornais,
revistas etc.) cuja edição esteja esgotada poderão ser enviados, desde que se
adequem às exigências expostas no presente edital.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">2.3
– Apenas serão aceitos trabalhos de inteira autoria da pessoa inscrita.
Traduções, adaptações ou fan fictions não serão aceitos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">2.4
– Cada autor/autora poderá se inscrever com o número máximo de 2 (dois)
trabalhos. No entanto, só será escolhido um trabalho por autor/autora
selecionado (a).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">2.5
– Serão aceitos apenas trabalhos no estilo literário <b><u>CONTO</u></b>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">2.6
– Apenas serão analisados os contos que se adequarem à temática proposta neste
edital.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">2.7
– Menores de 18 anos que queiram se inscrever devem apresentar autorização dos
pais no momento de assinatura do contrato, caso a obra seja selecionada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">2.8
– Os trabalhos deverão ser enviados para o e-mail da editora para realização da
triagem inicial.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">2.9
– O e-mail para envio é <span class="MsoHyperlink"><span color="windowtext"><a href="mailto:editoracaligo@gmail.com"><span color="windowtext" style="text-decoration-line: none;">editoracaligo@gmail.com</span></a></span></span>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">2.10
– Colocar no assunto da mensagem o título da antologia: “Outros Brasis de
Ficção a Vapor”. Se o autor/a autora for enviar 02 (dois) textos, deverá colocá-los na mesma mensagem, utilizando o mesmo
pseudônimo para ambos. O prazo para envio começa no dia <b><u>02/08/2021</u></b> e termina no dia <b><u>1°/10/2021</u></b>. Não serão aceitos quaisquer trabalhos enviados
fora deste prazo. A editora informará em suas redes sociais os selecionados, a
qualquer momento a partir do dia <b>02/10/2021</b>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">2.11
– Os contos deverão ter entre <b>15.000 e 25.000
caracteres, incluindo-se os espaços</b>. Os textos que estiverem fora do limite,
porém, não serão automaticamente descartados, desde que apresentem qualidade
literária e se enquadrem na temática proposta da antologia. Os contos que forem
escritos fora do limite estipulado, porém, serão analisados somente se o número
de selecionados ainda for insuficiente para compor a antologia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">2.12
- O nome do arquivo deve ser composto
pelo título do conto e o pseudônimo do autor. O título e o pseudônimo devem ser
escritos também no corpo do e-mail.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">2.13
– Para estar inscrito, o arquivo do conto deve conter a seguinte formatação:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">a)<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Estar em arquivo formato .DOCX ou
compatível;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">b)<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Ser
escrito em fonte Times New Roman, tamanho 12;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">c)<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Utilizar
espaçamento de 1,5;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">d)<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">O
layout da página em tamanho A4, todas as margens com 3 cm;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">e)<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Na
página inicial, escrever o título do conto e o pseudônimo;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">f)<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Não
devem ser utilizadas ilustrações, nem mesmo com a justificativa de complementação
do texto;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpLast" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">g)<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">O nome verdadeiro do autor/da
autora <b>NÃO</b> deve constar, em momento
algum, no arquivo do conto, sob pena de ser desconsiderado, <b>SEM AVISO PRÉVIO</b>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">3. PROCESSO DE SELEÇÃO<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">3.1
– Não caberão recursos de qualquer tipo com relação à decisão da editora quanto
aos contos aprovados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">3.2
– Serão selecionados até 6 (seis) contos para participarem da antologia, juntamente
com os trabalhos de autores e autoras convidados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">3.3
– Os selecionados serão informados via e-mail e também divulgados nas redes
sociais (Facebook e Instagram) e no site da Editora, <span class="MsoHyperlink"><a href="http://caligopublica.com/">http://caligopublica.com</a></span>, em post
específico. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">3.4
– Após o recebimento do e-mail de confirmação, os autores/as autoras selecionados/selecionadas
receberão seus textos com comentários da equipe organizadora da antologia. Ao receberem
o email de confirmação, autores e autoras comprometem-se a ler os mencionados
comentários e levá-los em consideração. Fica a cargo de autores e autoras
selecionados se as modificações serão feitas ou não.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> 3.5 – Haverá prazos para reconstrução e
reenvio do texto, não sendo prorrogável e autores e autoras que não enviarem
seu texto até a data acordada, implicitamente, abrem mão de seu direito de serem
publicados, podendo a equipe organizadora da Caligo selecionar outro conto para
sua substituição, caso seja necessário.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">4. TEMA<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">4.1
– O enredo deve então ser escrito de acordo com o sub-gênero de ficção
científica STEAMPUNK. Nas palavras do organizador:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">A
Caligo Editora busca os mais intrépidos autores que produzam novas peças para
sua próxima invenção: uma antologia que mova suas engrenagens pelo subgênero
steampunk, para contar histórias de outros brasis movidos a vapor. Usem toda a
engenhosidade que a Ficção Científica nos deixa a mão e, se forem audazes o
suficiente, adicionem elementos de Fantasia e/ou Terror. Tragam suas histórias de
aventura, crime, mistério pavorosos, tanto de ordem natural quanto
sobrenatural. Não se esqueçam da atitude dos punks, de suas raízes brasileiras
e, claro, espalhe fumaça por tudo e embarquem na próxima antologia do Selo
Outros Brasis de Ficção Fantástica.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">4.2
– O conto deve ter algum elemento que remeta ao Brasil (lugar onde se passa a
ação, personagem brasileiro etc.). Ou seja, de alguma forma, o Brasil deve
estar presente no enredo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">5. PUBLICAÇÃO<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">5.1
– A obra tem previsão de publicação até o mês de janeiro de 2022. Até lá a
editora se responsabilizará pela revisão de todos os contos após as adequações
realizadas pelos autores e autoras selecionados, por toda a parte gráfica (capa
e diagramação), registro de ISBN, ficha catalográfica e pelos custos de
impressão e distribuição. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">5.2
– A título de direitos autorais, cada autor/autora participante receberá 01
(um) exemplar a cada impressão de 100 exemplares, considerando-se que o valor
desse exemplar será superior aos 10% do preço de capa, divididos pelo número de
participantes. Os autores e autoras participantes da antologia também terão
descontos, caso queiram adquirir mais exemplares da obra, ou qualquer outro
título do disponível no catálogo da editora, em estoque.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">5.3
– Desde agora fica compreendido que os autores e autoras participantes não
terão custo algum proveniente de sua participação na antologia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">5.4
– O conto selecionado deverá ser exclusivo das edições da Caligo Editora por um
período de 12 meses, a partir da data do lançamento da obra. Após esse período,
os autores e autoras participantes poderão publicar em quaisquer outros meios,
físicos ou eletrônicos, mesmo que após 12 meses do lançamento a editora faça
reimpressões da antologia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">6. CONSIDERAÇÕES FINAIS<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Ao
submeter seu trabalho por e-mail, tenha o cuidado de manter seu endereço
eletrônico ativo e sempre conferir as mensagens novas, inclusive no spam.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Não
enviem textos que não estejam de acordo com o exposto no presente edital, com a
intenção de fazer a editora “descobrir” seu texto, porque já temos todas as publicações
programadas para os próximos 12 (doze meses). Favor não insistir.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Boas
escritas!<o:p></o:p></span></p></div><br /><p><br /></p><p><br /></p><p><a href="https://drive.google.com/file/d/1m0cQjEtt6vRwZ6RIp9RdlEFW82XPp9yB/view?usp=sharing" target="_blank">Acesse o edital em PDF</a><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-75696826201361635292021-06-30T11:58:00.000-07:002021-06-30T11:58:48.052-07:00Coluna Asas #71 - Transformações na cultura brasileira - (Eduardo Selga)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgInsDr5HbZQ6U8UmnCsqzRTfEd_S2zxsknYdIjYgFH2CXbBvPemw0h5AVXPf3T3na3wzH1rhkReZHU8R5bfl_2varp759zShGyGn1XxpiiAeEhDhYR0i2aZBo3svSc493xlhWbeDgMEcZM/s725/cult-ling.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="382" data-original-width="725" height="186" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgInsDr5HbZQ6U8UmnCsqzRTfEd_S2zxsknYdIjYgFH2CXbBvPemw0h5AVXPf3T3na3wzH1rhkReZHU8R5bfl_2varp759zShGyGn1XxpiiAeEhDhYR0i2aZBo3svSc493xlhWbeDgMEcZM/w352-h186/cult-ling.jpg" width="352" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;">A cultura brasileira, em suas diversas dimensões, é fortemente influenciada pela oralidade. Tal característica vale também para a literatura, que é a manipulação da palavra com intenções estéticas, revelando, dentre outros aspectos, o quanto nossa sociedade valoriza essa forma de expressão. Como regra social, falamos muito, escrevemos pouco e mal. Tal processo é perceptível desde os primeiros anos da escola, quando a língua portuguesa não é devidamente mostrada como elemento da cultura da qual o aluno participa, e sim como ferramenta de transmissão de informações, apenas. É pouco, convenhamos. Somos criaturas estéticas (não digo sermos todos artistas), além de necessitarmos, por óbvio, do elemento prático do ato comunicativo. </p><span><a name='more'></a></span><p style="text-align: justify;">Não é pecado a presença da oralidade na cultura. Com efeito, uma coisa e outra são inevitavelmente conexas. Entretanto, há um dado que precisa ser considerado por agir no sentido de amofinar a cultura brasileira e torná-la ainda mais permeável à influência de outras culturas. Refiro-me a um fenômeno multifacetado, mas que carrega fortíssima camada ideológica: a controversa pós-modernidade ou, como prefere Bauman, modernidade líquida, processo que afeta a palavra e a linguagem de maneira muito contundente.</p><p style="text-align: justify;">A pós-modernidade, conceito meio desaparecido dos ambientes os quais ele costumava frequentar amiúde, atua no sentido da reificação das pessoas, sentimentos e tudo o mais que for subjetivo ou abrigar alguma dimensão de subjetividade. Por essa estratégia, levada a efeito sobretudo pela indústria cultural e pela mídia, como canta Rita Lee, “tudo vira bosta”. </p><p style="text-align: justify;">Como nesse verso, a sutileza é vilipendiada, pois tudo é jogado num grande caldeirão em alta temperatura (o cotidiano frenético das pessoas no capitalismo, ao menos antes da pandemia) e transformado em massa informe. Quem a bruxa por trás de tudo, a mover tranquilamente e em círculos a colher de pau, ao mesmo tempo em que agita a foice? Na verdade, é um bruxo: Sua Majestade, o Capital, ao seu dispor.</p><p style="text-align: justify;">A batedeira sociocultural que é a pós-modernidade comprime o significado de tudo (e nesse sentido é um fenômeno), principalmente o das palavras, na medida em que é por intermédio delas que as coisas, de fato, são. Sem elas, a existência é um cadáver rígido.</p><p style="text-align: justify;">No Brasil, podemos verificar o efeito da moenda no uso do léxico. Ocorre um apequenamento, uma restrição que atinge o uso simbólico da palavra, o sentido conotativo. É claro, outras razões existem para tal, a exemplo do abandono da educação pelas autoridades e, como dito no início, a sobrevalorização da oralidade, um dado que é histórico e fundamente do Brasil. Entretanto, a pós-modernidade precisa desse empobrecimento, pois ela aprecia o demasiado simplório, muitas vezes confundido com o simples. </p><p style="text-align: justify;">Não por acaso, leitores reclamarem de algumas “palavras difíceis” que há poucos anos não eram assim consideradas é fato corriqueiro. Nem me refiro a termos quase defuntos como “mormente”, muito usada na literatura do século XIX e início do XX: falo de seu sinônimo, “sobretudo” — há quem não consiga decifrar de imediato a palavra no texto, pois só a conhece como sinônimo de casaco.</p><p style="text-align: justify;">Nesse ritmo, pode-se atingir um nível nos textos literários, ou pretensamente assim denominados, em que escrever-se-á exclusivamente como se fala. Isso é ruim? Do ponto de vista estético, não necessariamente, mas se considerarmos que o artesanato das palavras pode ser tanto mais rico quanto maior for a diversidade de matérias-primas, sim. Afinal, é um fator limitante.</p><p style="text-align: justify;">Poucas palavras, parcos sentidos. Ou seja, uma grande sabotagem com a realidade, repleta deles. Portanto, enxergar apenas alguns sentidos equivale a um tipo de cegueira, campo aberto ao fanatismo. E aí, uma encruzilhada: com uma miríade de sentidos e raras palavras, abusamos dos neologismos e combinações semânticas estranhas, dando azo a vocábulos que quase parecem fazer parte da novilíngua de George Orwell, como “buscativa” e “carentena” (a carência emocional decorrente da quarentena na pandemia). Por vezes o uso do recurso é necessário, frente a uma realidade ainda não coberta pelas palavras, a exemplo de “feminicídio”, que designa o assassinato praticado contra a mulher pelo fato de ser mulher, situação frente à qual “homicídio” não era bastante, mas, muitas vezes, esse fenômeno é resultado do achatamento semântico promovido pela pós-modernidade.</p><p style="text-align: justify;">Dentro desse mecanismo do sentido, no âmbito da pós-modernidade, também há outro, também natural da língua: a redesignação semântica. Bom exemplo disso é “comunidade”, a partir de determinado momento substituindo “favela” devido ao peso negativo do último vocábulo. Como se, no caso específico em questão, ao alterar o significante acontecesse o mesmo com o significado. Uma parte dele, a que habita o imaginário popular, talvez, mas não todo ele. Outro bom exemplo é “rachadinha”, que encobre o peso da palavra “corrupção”, que parece ser válida apenas se usada contra determinado grupo político-ideológico brasileiro.</p><p style="text-align: justify;">É bom lembrar, em tempos de pós-verdade, que a intenção do idioma criado por Orwell em 1984, no âmbito do romance, era reduzir o horizonte do pensamento, de modo que as palavras não traduzissem exatamente o factual.</p><p style="text-align: justify;">Também é bom lembrar que faz parte da lógica de regimes autoritários a valorização da imagem em detrimento da palavra para outorgar sentido à realidade. Então, considerando que as palavras, assim como a educação escolar, têm grande potencial de rebeldia a depender de como ela se dá, faz-se necessário controlá-las e substitui-las, tanto quanto possível, pela imagem. É a velha e falaciosa máxima de que “uma imagem fala mais do que mil palavras”. Falaciosa porque uma e outra atuam em campos distintos na percepção humana, não há que se falar em superioridade desta ou daquela: são complementares entre si.</p><p style="text-align: justify;">Talvez esse período chamado de pós-modernidade ou modernidade líquida esteja em seus estertores. A pandemia pode funcionar como travessia para outro momento, que ainda precisa ser construído. E aqui não falo necessariamente que haverá a superação do capitalismo — embora seja meu desejo — pois esse novo momento histórico pode interessar muito ao atual sistema socioeconômico, que possui grande capacidade de se recompor — e sempre mostrar uma face pior que a versão anterior. </p><p style="text-align: justify;">Há muitas e distintas forças atuando nesse caminho, mas ainda não se notam seus efeitos no cotidiano. Decerto não será um retorno ao período anterior à pós-modernidade, e sim o surgimento de algo novo. Profundo — o que não significa necessariamente positivo — em relação a muitos aspectos humanos. Dentre eles, a linguagem e, portanto, a literatura enquanto arte que, é possível, seja ainda mais oralizada. A ponto de o vocábulo “literatura” não mais caber.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p><br /></p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-44505024705607336112021-06-28T07:00:00.013-07:002021-06-28T07:00:00.235-07:00Coluna Asas #70 - Antologias de contos, poemas e A PERSPECTIVA DA VISIBILIDADE - (Evelyn Postali)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-kQ-E_g0MHamwbf872A1YOY8GsnktyF4mRYlxXHiXq4MOBoROtoj3CF8WJWYqXmH22BAq86FLS58Ixm6SYjLFHzdwwwu4qkQPWCe63qZg9-yghx8gzZ-8hrS9-9hmWJ3UJHCjOzDf7107/s790/COLUNA+ASAS+-+JUNHO+2021+-+A+PERSPECTIVA+DA+VISIBILIDADE.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="790" data-original-width="720" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-kQ-E_g0MHamwbf872A1YOY8GsnktyF4mRYlxXHiXq4MOBoROtoj3CF8WJWYqXmH22BAq86FLS58Ixm6SYjLFHzdwwwu4qkQPWCe63qZg9-yghx8gzZ-8hrS9-9hmWJ3UJHCjOzDf7107/s320/COLUNA+ASAS+-+JUNHO+2021+-+A+PERSPECTIVA+DA+VISIBILIDADE.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Em uma matéria anterior escrevi sobre a minha experiência
como autora independente ( <span class="MsoHyperlink"><a href="https://www.caligopublica.com/2021/01/coluna-asas-28-ser-ou-nao-ser-autor.html">SER
OU NÃO SER AUTOR INDEPENDENTE: EIS A QUESTÃO</a></span>!). Hoje, vou contar
como tudo começou, ou parte da história. E começou exatamente como você pensou,
escrevendo e guardando na gaveta. Sim. Porque comecei com o papel e, hoje, não
vivo sem o computador. Se ainda escrevo no papel? Acertou em cheio. Ainda uso
papel para escrever, porque é nele que os rascunhos tomam forma. Você se senta
em qualquer lugar com o bloco e um lápis ou caneta e vai rabiscando um
esqueleto. Uma hora ou outra o esqueleto se enche de carne e sai andando por
aí, pronto para ser lido.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span></span></p><a name='more'></a><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Certo, mas não é isso que eu vim contar. Eu vim falar sobre
publicação e de como, na ânsia de ter publicado um livro, pessoas como você ou
eu, podem entrar na maior ‘furada’. Não me entenda mal. Escritores querem ser
lidos, porque ninguém escreve somente para si. Pode, em um primeiro momento,
ser essa a intenção, mas o texto, aquele que está na gaveta, não nasceu para
ficar na gaveta. Em algum momento, estar na gaveta não é o bastante. É preciso
chegar até outros leitores. Escultores não criam seus objetos de arte para
deixar dentro do ateliê. Cantores não cantam somente para o chuveiro. Pintores
não investem em tinta para apenas cobrir uma tela.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Então, queremos visibilidade e, antes disso, queremos ser
lidos! Eu já escrevi, naquele texto do link aí em cima, da grande dificuldade
de ser publicada – porque é um trabalho hercúleo querer ser publicada, ser vista
como alguém com potencial, sendo uma autora novata, sem experiência e sem um
público formado. E é aqui, nesse ponto, que entram as antologias de contos e
poemas. Uma porta nem sempre segura que se abre para os corajosos, impetuosos e
criativos escritores desse país imenso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Antologias são coletâneas de textos – contos, poemas,
crônicas. Uma editora lança inscrições para determinado tipo de texto, com um
determinado tema, com determinadas características e com tempo determinado.
Nesse prazo, autores escrevem e inscrevem sua produção textual para essa
seleção. Os trabalhos são lidos (teoricamente) e são selecionados os melhores
ou os que estiverem dentro da proposta. Depois disso, há o processo editorial
cujo resultado é um livro publicado com os textos escolhidos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Existem seleções e seleções. Vai depender da editora.
Algumas propõe a compra de exemplares por seus autores escolhidos, outras
cobram pela inscrição, e poucas não cobram pela inscrição ou compra de
exemplares. Direitos autorais? Bem... Se você comprou exemplares ou pagou pela
inscrição, muito provavelmente esses direitos estarão vinculados à venda dos
livros feitos na tiragem e, você deve ter assinado um contrato. Eles estarão na
loja da editora. Outras ainda vinculam esses direitos autorais a livros
recebidos pelo autor depois da impressão. Isso também está em contrato. É
importante que se leiam as entrelinhas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Se eu participei de coletâneas? Sim. Participei de 9. Em 7
delas conscientemente enganada. A primeira vez, em quatro antologias da editora
X, porque havia a exigência de bancar a compra de 10 exemplares e direitos
autorais vinculados à venda do restante da tiragem. Se vi o dinheiro? Não.
Cobrei? Não, até porque não valeria a pena. Se me arrependo? Não. Nem um
pouco. Isso me serviu de aprendizado, para tomar coragem, mesmo pagando pela
publicação. Esse ponto foi decisório. E é nesse ponto que os autores novatos se
perdem porque não entendem que essa coletânea tem uma tiragem mínima, comprada
pelos próprios autores que venderão para seus parentes e amigos próximos e, sem
visibilidade alguma, porque não haverá marketing algum. E se você não vender sua
cota de exemplares, eles ficarão na sua estante, olhando para você e apontando
seu engano. Não criem ilusões.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Na segunda vez, em três antologias pela editora Y, porque
conhecia dois dos organizadores das antologias – escritores bem intencionados
e, creio, igualmente iludidos. A editora não existe mais, felizmente, porque
para o mercado editorial ou para qualquer editora séria, tudo o que não se
precisa é a má fama de uns interferindo nas ações acertadas de outros. A
editora X ainda existe e continua a fazer o mesmo trabalho com antologias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">As melhores experiências com antologias que tive foram com a
antologia <b>Estranha Bahia</b>, da <b>EX! Editora</b>, e com <b>Mulheres em Verbo</b>, da <b>Caligo</b>.
Transparência, visibilidade e grande dedicação dos editores para levar o melhor
da escrita até os leitores. <b>Estranha Bahia</b> foi finalista do prêmio <b>ARGOS</b>, de
2017. <b>Mulheres em Verbo</b> é o resultado do trabalho de um grupo de escritoras
dedicadas à Literatura. Abriu portas para novas publicações e deu visibilidade ao
projeto literário <b>As Contistas</b>.<span style="background: #F3F3F3;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">A tal da visibilidade que se quer, no meu entendimento, se
constrói aos poucos, a partir da escrita e de como ela se faz circular nos
meios digitais. E para fazer isso acontecer precisa dedicação, trabalho árduo
que nem sempre será reconhecido de imediato. Como já pontuei no outro artigo,
plataformas de escrita são uma ponte para sermos lidos. Publicar nas redes
sociais, participar de debates, de grupos de escrita, pode fazer grande
diferença. E, é claro, as coletâneas. Mas se conselho serve para alguma coisa:
esteja sempre atento a todo o processo, questione, informe-se com outros
escritores, busque informações sobre as editoras. E, se ver seu texto no papel
é mais importante do que visibilidade, vá em frente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Eu recomendo, sim, a participação em antologias,
especialmente naquelas cuja organização não vai sugar do autor iniciante a
autoestima, o dinheirinho suado de todo o mês e sua credibilidade como
escritor. Pense bem antes, estude os editais, pesquise os organizadores e as
editoras proponentes, pese as possibilidades financeiras, pese os prós e
contras e, se decidir participar, monte uma estratégia de divulgação para a
antologia. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal"><b><span style="font-family: georgia;">Notas:</span></b></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">A antologia <b>Estranha Bahia</b> está disponível em versão digital
na loja da Amazon – <span class="MsoHyperlink"><a href="https://www.amazon.com.br/Estranha-Bahia-Ricardo-Santos-ebook/dp/B01D4ZCMCQ/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&dchild=1&keywords=estranha+bahia&qid=1622751905&sr=8-1">AQUI</a></span>.
<b>Mulheres em Verbo</b> está disponível na loja da Caligo – <span class="MsoHyperlink"><a href="https://caligo.lojaintegrada.com.br/antologia-mulheres-em-verbo-bia-machado-org">AQUI</a></span>.
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p><b><span style="font-family: georgia;">Autoria do meme:</span></b></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><span class="MsoHyperlink"><a href="https://hyperboleandahalf.blogspot.com/2010/06/this-is-why-ill-never-be-adult.html">https://hyperboleandahalf.blogspot.com/2010/06/this-is-why-ill-never-be-adult.html</a></span><o:p></o:p></span></p>
<h1 style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="font-size: 11pt;"><span style="font-family: georgia;">Origem e Difusão<o:p></o:p></span></span></h1>
<p style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="font-family: georgia;"><span style="font-size: 11pt;">O Meme “O que
queremos / Quando queremos?” teve sua origem em </span><span class="MsoHyperlink"><span style="color: #ffb351; font-size: 11pt;"><a href="https://hyperboleandahalf.blogspot.com.br/2010/06/this-is-why-ill-never-be-adult.html"><span style="color: #ffb351;">uma tirinha da artista Allie Brosh em seu blog Hyperbole
and a Half</span></a></span></span><span style="font-size: 11pt;">. Dona de um
humor, no mínimo, diferente, a artista relata em seu blog coisas do cotidiano,
intercalando textos e tirinhas.<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span style="font-family: georgia;"><span style="font-size: 11pt;">As imagens são
simples, semelhantes aos “bonecos de palito” ou até mesmo aos desenhos de
crianças. Nessa linha, em 17 de junho de 2010, o blog publicava, com sentido
crítico, um texto e tirinhas sobre responsabilidades pessoais e a dificuldade
em se cumprir tarefas simples como ir ao banco, e limpar a casa.<br />
De acordo com o site know your meme a imagem foi </span><span class="MsoHyperlink"><span style="color: #ffb351; font-size: 11pt;"><a href="http://canv.as/p/3k2xm/reply/496535"><span style="color: #ffb351;">postada na rede social Can.vas</span></a></span></span><span style="font-size: 11pt;">, um site em que usuários podem postar imagens e criar remixes
dela, em 28 de abril de 2011. Essas variações alteravam o sentido e até mesmo o
desenho, que não deixava de ter os olhos esbugalhados como principal
característica.<o:p></o:p></span></span></p></div><p><br /></p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-4469669739045298932021-06-22T13:30:00.001-07:002021-06-22T13:30:00.229-07:00Coluna Asas #69 - 18 parágrafos sobre Ulisses, de James Joyce - (Fabio Shiva)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinnLlumTV0MyLOCu7Q2ZaACGU_qna1exgK1aWxN4Dq9ftQGDW3gWV1ijDqbiz52kqlV96EjpjpuyEgdElzB4W7_gZi-2-fbyLH1NvpWpit3bkJX4cnu6hDRjYYfz5nHYWlqxT08Eiq5NJC/s1600/joyce.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinnLlumTV0MyLOCu7Q2ZaACGU_qna1exgK1aWxN4Dq9ftQGDW3gWV1ijDqbiz52kqlV96EjpjpuyEgdElzB4W7_gZi-2-fbyLH1NvpWpit3bkJX4cnu6hDRjYYfz5nHYWlqxT08Eiq5NJC/s320/joyce.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -17.85pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: georgia;">1)<span style="font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;"> </span><!--[endif]-->Hoje
é um dia especial: terminei de ler “Ulisses”!!! Viva viva!!! Que dizer desse
livro que eu achei chatíssimo até a metade (por volta da página 400), para
então começar a gostar mais e mais e terminar achando uma obra linda, genial e
muuuito louca???<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -17.85pt;"><span></span></p><a name='more'></a><span style="font-family: georgia;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -17.85pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: georgia;"><span style="mso-list: Ignore;">2)<span style="font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;"> </span></span>Para
escapar de fazer uma resenha interminável, me proponho o desafio de escrever
somente dezoito tópicos, um para cada capítulo do livro, cada qual
correspondendo a um episódio da “Odisseia” de Homero (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ulisses</i> é o nome latino para <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Odisseu</i>,
originado na palavra grega para “guardar ressentimento”).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -17.85pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: georgia;"><span style="mso-list: Ignore;">3)<span style="font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;"> </span></span>Nessa
obra Joyce se propõe a atingir o mais alto anseio da literatura, que é
expressar no romance a totalidade da vida. Mas a complexidade cada vez maior da
vida moderna (início do século XX) só pode ser retratada de fato caso o romance
se reinvente, extrapole os limites, transcenda as barreiras. E é bem isso o que
“Ulisses” faz.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -17.85pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: georgia;"><span style="mso-list: Ignore;">4)<span style="font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;"> </span></span>A
história toda acontece em um único dia, que traz Leopold Bloom (Ulisses) em
suas peregrinações pela cidade de Dublin. Stephen Dedalus, o jovem artista, é
Telêmaco, e Molly Bloom, a esposa adúltera, é Penélope.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -17.85pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: georgia;"><span style="mso-list: Ignore;">5)<span style="font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;"> </span></span>Cada
um dos dezoito capítulos é escrito em um estilo único e totalmente diferente
dos demais. São quase dezoito obras diferentes aglutinadas no mesmo livro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -17.85pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: georgia;"><span style="mso-list: Ignore;">6)<span style="font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;"> </span></span>Coisa
surpreendente: “Ulisses” tem algumas partes muito engraçadas! Rachei o bico de
dar risada em várias cenas, com destaque para o invento da obramaravilha, uma
espécie de apito (que deve ser introduzido pela ponta redonda) para
descongestionar os gases intestinais de cavalheiros e damas constipados. A
suprema invenção do século XX!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -17.85pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: georgia;"><span style="mso-list: Ignore;">7)<span style="font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;"> </span></span>Outra
constatação surpreendente: a obra é realmente revolucionária e genial, mas
creio que alcançou tamanha repercussão mesmo foi pelo tanto de putaria: como
tem sacanagem nesse Ulisses! Não causa surpresa o livro ter ficado proibido
durante 11 anos nos Estados Unidos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -17.85pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: georgia;"><span style="mso-list: Ignore;">8)<span style="font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;"> </span></span>E
aí é que está a fórmula explosiva: uma linguagem inovadora, uma estrutura
intelectualmente desafiadora e, de quebra, a transgressão dos valores morais
vigentes, nas muitas referências explícitas e até grosseiras ao sexo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -17.85pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: georgia;"><span style="mso-list: Ignore;">9)<span style="font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;"> </span></span>O
que leva à reflexão: a literatura parece ter perdido a capacidade de chocar.
Não dá para imaginar um livro hoje sendo proibido por ofender “a moral e os
bons costumes”. Vitória da liberdade de expressão ou sinal de decadência da
civilização? Você decide.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -17.85pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: georgia;"><span style="mso-list: Ignore;">10)</span><!--[endif]-->O
que leva ao questionamento: por que hoje em dia não temos escritores como James
Joyce? Corajosos, inventivos, audaciosamente indo onde a literatura jamais
esteve? Os escritores do século XX parecem muito mais “avançados” que os
atuais. Será que tudo já foi inventado e nada mais resta por inovar? O futuro
dirá.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -17.85pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: georgia;"><span style="mso-list: Ignore;">11)</span><!--[endif]-->Dizem
que por conta de suas invenções linguísticas “Ulisses” é mais fácil de ler no
original que traduzido. A edição que li foi com a tradução pioneira de Antonio
Houaiss. Bem, só posso dizer que não concebo o texto em inglês sendo mais
difícil de ler que essa tradução abençoada do Houaiss!!! Parece que o tradutor
quis dar conta de todas as possibilidades semânticas, e o resultado foi que o
texto em português ficou bem mais erudito e intelectualizado que o original (é
o que comentam pela internet). Sorte de quem for ler o livro agora, que já
estão disponíveis duas outras traduções em português, e mais focadas na
linguagem cotidiana.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -17.85pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: georgia;"><span style="mso-list: Ignore;">12)</span><!--[endif]-->Uma
das partes que mais gostei é o capítulo que corresponde ao palácio de Circe,
quando Bloom e o jovem Dedalus visitam um bordel pra lá de animado. O estilo da
narrativa é o de uma peça de teatro onde o autor e todos os personagens
ingeriram doses maciças de LSD. Lisergia pura!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -17.85pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: georgia;"><span style="mso-list: Ignore;">13)</span><!--[endif]-->Outro
trecho marcante é o capítulo final, com o monólogo da senhora Bloom. São 50
páginas sem uma única vírgula ou ponto, na mais contundente expressão literária
do “fluxo de consciência”, com a representação do fluir incessante dos
pensamentos do personagem. Podemos dizer que Saramago, em comparação, foi até
bem conservador ao inventar o seu estilo próprio de escrever... E Joyce, de
brinde, ainda criou uma das mais marcantes figuras femininas da literatura:
Molly Bloom.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -17.85pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: georgia;"><span style="mso-list: Ignore;">14)</span><!--[endif]-->Tudo
considerado, apesar de “Ulisses” ser considerada uma obra de estrutura
matematicamente perfeita, penso que o livro seria mais gostoso de ler se
tivesse a metade das páginas, ou mesmo um terço.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -17.85pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: georgia;"><span style="mso-list: Ignore;">15)</span><!--[endif]-->Mais
fácil de ler, sim, mas não necessariamente melhor. Entendo a proposta do livro,
que exige tantas páginas de elucubrações sem fim. No mundo atual, que prioriza
a velocidade e multiplicidade de informações, é provável que cada vez menos
pessoas se interessem em ler “Ulisses”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -17.85pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: georgia;"><span style="mso-list: Ignore;">16)</span><!--[endif]-->Desde
o capítulo do bordel, uma ideia louca ficou martelando minha mente: imagine
como seria esse livro transformado em filme! Impensável! Impossível! Ainda
assim, creio que o David Lynch estivesse à altura da tarefa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -17.85pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: georgia;"><span style="mso-list: Ignore;">17)</span><!--[endif]-->Comecei
a ler “Ulisses” pela primeira vez há mais de dez anos, e acabei desistindo por
volta da página 100. Mas fucei o “Roteiro-chave” que vem no final do livro, e
hoje percebo o tamanho dessa influência em minha própria criação literária.
Essa estrutura foi um eco distante na composição das letras da ópera-rock VIDA
(gravada pela banda Imago Mortis), e teve uma força maior, ainda que mais
distante ainda, na estrutura de meu romance “O Sincronicídio”. Que bom perceber
isso hoje!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -17.85pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: georgia;"><span style="mso-list: Ignore;">18)</span><!--[endif]--></span><span style="font-family: georgia;">Não
é fácil ler “Ulisses”, mas o esforço vale a pena – dependendo da motivação do
leitor. Para mim, foi como galgar um Everest literário: <i>veni vidi vici</i>!!!</span><span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span></p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-81900863068401217392021-06-18T12:24:00.001-07:002021-06-18T12:27:02.344-07:00Coluna Asas #68 - Elas na literatura #1: Anne Frank - (Renata Rothstein)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcg_dujuW1-6WOQJWy1HkUFmWOvW1c2_BdXkwH6cM2BLmtFK-Se_SVcKZqIQwzZclC5mdLwd5fV_-uU2C5-YH82xcISSQKwIhcABFVnsi2k5lL9B0nB75agPHdVekagUSaZ0LN7mDUAp99/s960/anne-frank.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="697" data-original-width="960" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcg_dujuW1-6WOQJWy1HkUFmWOvW1c2_BdXkwH6cM2BLmtFK-Se_SVcKZqIQwzZclC5mdLwd5fV_-uU2C5-YH82xcISSQKwIhcABFVnsi2k5lL9B0nB75agPHdVekagUSaZ0LN7mDUAp99/s320/anne-frank.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Anne
Frank e um diário – escrito, vivido e sentido durante a II Guerra Mundial, em
plena perseguição aos judeus , e que viria a ser um dos livros mais traduzidos
da História, mais emblemáticos e significativos, representante não apenas de uma raça, mas da Humanidade como um todo, submetida aos descalabros de
determinados e infelizes períodos da História (recente).<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><span></span></span></p><a name='more'></a><span style="font-family: georgia;"><span style="font-size: 12pt;">Annelise Marie Frank. Era este o nome completo da jovem que ficou conhecida como Anne
Frank. </span><span style="font-size: 12pt;">Alemã, nascida na cidade de Main e de origem judaica, morreu num campo de concentração aos quinze anos de
idade, vítima do Holocausto. </span><span style="font-size: 12pt;">A
publicação (póstuma) de seu diário a tornou mundialmente conhecida.</span></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><span style="font-size: 12pt;">Anne escreveu sobre as agruras sofridas por ela e pela família, durante o
período em que fugiram dos nazistas, refugiando-se nos Países Baixos. Seu diá</span><span style="font-size: 12pt;">rio mostra a dureza de uma perseguição inexplicável, e muito
dolorosa, sob o olhar (ainda) esperançoso de uma adolescente.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><span style="font-size: 12pt;">Anne viveu a maior parte de sua breve vida em
Amsterdã, na Holanda. </span><span style="font-size: 12pt;">ela e sua família se mudaram para Amsterdã em 1933, ano da ascensão dos nazistas ao poder. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o território holandês foi ocupado e a política de perseguição do Reich foi estendida à população judaica residente no país. A família de Anne passou a se esconder em julho de 1942, abrigando-se em cômodos secretos de um edifício comercial.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><span style="font-size: 12pt;">Durante o período no chamado "anexo secreto", Anne escrevia no diário suas intimidades e também o cotidiano das pessoas ao seu redor. Nesse lugar permaneceram por dois anos até que, em 1944, um delator desconhecido revelou o esconderijo às autoridades nazistas. O grupo foi, então, levado para campos de concentração. Anne Frank e sua irmã Margot foram transferidas de Auschwitz para o campo de Bergen-Belsen, onde morreram de tifo em março de 1945. </span><span style="font-size: 12pt;">Pouco tempo antes da guerra acabar.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><span style="font-size: 12pt;">O único
sobrevivente da família, o pai de Anne, Otto Frank, retornou a Amsterdã </span><span style="font-size: 16px;">após a guerra</span><span style="font-size: 16px;"> </span><span style="font-size: 12pt;">e recuperou o diário da filha, lutando para que fosse
publicado, o que ocorreu em 1947. Nesse diário</span><span style="font-size: 12pt;">,
presente de aniversário de treze anos da jovem, ela narra seu cotidiano, de 15 de
junho de 1942 até 1º de agosto de 1944. </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">O Diário
de Anne Frank é hoje um dos livros mais traduzidos em todo o mundo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">A última vez que Anne escreveu em seu diário:<i style="font-weight: bold;"><o:p></o:p></i></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">Querida Kitty.<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">Terça-feira, 1 de Agosto de 1944<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">"Um feixe de contradições". Foi esta a última frase<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">da minha carta anterior e é a primeira da de hoje. "Um<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">feixe de contradições", poderás tu explicar-me, com exatidão,<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">o que isto quer dizer? O que é contradição? Como<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">todas as palavras, tem dois sentidos : contradição exterior<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">e contradição interior.<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">O primeiro sentido é este: não nos conformarmos com<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">a opinião dos outros, querer saber tudo melhor, querer<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">ter a última palavra, enfim: qualidades desagradáveis<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">que já conheces suficientemente. O segundo: qualidades<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">que também tenho mas que ninguém conhece e que são<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">o meu segredo.<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">Já te contei em tempos que não tenho só uma alma mas<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">sim duas. Uma dá-me a minha alegria exuberante, as<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">minhas zombarias a propósito de tudo, a minha vontade<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">de viver e a minha tendência para deixar correr, isto é,<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">para não me escandalizar com "flirts", abraços ou uma<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">piada inconveniente. Esta primeira alma está sempre à<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">espreita e faz tudo para suplantar a outra que é mais<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">bela, mais pura, mais profunda. Essa alma boa da Anne<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">ninguém a conhece, não é verdade? E é por isso que tão<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">pouca gente gosta de mim.<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">Bem o sei: veem em mim um palhaço divertido para uma<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;">tarde, depois toda a gente fica cheia de mim para um<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 2.5pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: georgia;"><span>mês- sou,
no fim de contas, o mesmo que um filme amoroso.</span><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 2.5pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 12pt;"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 12pt;">Nota da
Autora</span></i></b><span style="font-size: 12pt;">: Aqui,
como autora, gostaria de salientar minha opinião pessoal e devidamente baseada
em fatos e (re)conhecimentos, sejam de ordem histórica, familiar ou empática:
vamos parar de comparar sofrimentos, situações de perseguição a que
determinadas etnias foram submetidas, como se uma ou outra fosse de maior
importância, minimizando, de alguma forma, a penúria vivenciada por outras
minorias, dando ênfase a determinada dor, em detrimento de outras, tão iguais e
urgentes, enquanto seres humanos, todos - irremediavelmente, iguais, em dores,
anseios, alegrias, busca e sofrimento.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><span style="font-size: 12pt;">Peço,
então, que vejamos no outro uma extensão de nós mesmos, em raça (humana),
gênero (irrelevante), partido político (todos pelo melhor para as massas),
objetivo (o bem comum).</span><span style="font-size: 12pt;"> </span></span></p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-87974313788330991042021-06-15T14:23:00.001-07:002021-06-15T14:23:14.043-07:00Coluna Asas #67 - Citando Os Invisíveis e sendo reféns de nossas cobranças - (Fil Felix)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitsevA83qfDinZWW99bxBDoxPP6abyXZfCBqZF3ks9UHswDSUZ9BRdwf4Y5Zwxc-XWs44JkhywYr5YzDMv09VwxEk7izTg2T0oO0aRY_IQgaUjjsu8K73lb708yCs3ZQKselofEnx9CNzl/s603/Os+Invis%25C3%25ADveis+destaque-junho.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="310" data-original-width="603" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitsevA83qfDinZWW99bxBDoxPP6abyXZfCBqZF3ks9UHswDSUZ9BRdwf4Y5Zwxc-XWs44JkhywYr5YzDMv09VwxEk7izTg2T0oO0aRY_IQgaUjjsu8K73lb708yCs3ZQKselofEnx9CNzl/s320/Os+Invis%25C3%25ADveis+destaque-junho.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><div><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i><span style="font-family: georgia;">“O mundo nos dá corda<o:p></o:p></span></i></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i><span style="font-family: georgia;">e tocamos sempre a mesma musiquinha,<o:p></o:p></span></i></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i><span style="font-family: georgia;">e achamos que ela é tudo o que somos.”<o:p></o:p></span></i></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: georgia;">– Grant Morrison em
Os Invisíveis #3.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-family: georgia;"> <span></span></span></o:p></p><a name='more'></a><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b>Grant Morrison </b>é
um roteirista de HQs que muitas vezes é tido por incompreensível,
principalmente por suas histórias trazerem sempre um quê metafísico, místico ou
esotérico, filosofando sobre a vida e criando mil estruturas diferentes do
viver. E recentemente me deparei uma vez mais com essa frase acima,
originalmente publicada no primeiro arco de sua renomada série <b>Os Invisíveis</b> (1994, DC).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Mas antes de comentar a citação em si, já gostaria de
alertar que esse artigo provavelmente será um turbilhão de pensamentos que venho
tendo nas últimas semanas. Mas antes, qual era a dessa série aí? Bom, <b>Os
Invisíveis</b> contava a história de um grupo secreto que utilizava de vários
aparatos para combater o “<i>mal</i>”, desde
magia, viagem no tempo e até meditação, desvendando teorias da conspiração, do
fluxo da realidade e cia. Uma trama conhecida pela sua complexidade e viagens
psicodélicas.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Recentemente já escrevi um artigo aqui sobre nossas bolhas
sociais (<u><span style="color: #1155cc;"><a href="https://www.caligopublica.com/2021/04/coluna-asas-53-krakoa-refletindo-sobre.html"><span style="color: #1155cc;">Krakoa: Refletindo sobre nossas bolhas sociais</span></a></span></u>)
e é um assunto que ainda não digeri completamente, que venho me questionando a
respeito várias e várias vezes. De como nos comportamos em cada sub-bolha de
nossa sociedade, formando uma bolha maior. E indo além, para nós que
trabalhamos com criação, sobre as bolhas, quer dizer, os clubinhos que vamos
criando e autogerando. Até onde cruza os pontos positivos, porque de fato é
algo que nos beneficia, com os pontos negativos, a dificuldade cada vez maior
de sair dela.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><i>“O mundo nos dá corda
e tocamos sempre a mesma musiquinha…”</i>, encontrar a fórmula de sucesso em
tempos de redes sociais é o Santo Graal da nossa geração. Se tornar refém dela,
é o ônus da prova. E lembra do turbilhão que comentei? Pois bem, vem um monte
de coisa na minha cabeça sobre isso, da modernidade líquida aos lançamentos da
Netflix. Li recentemente que nunca tivemos tanta demanda de entretenimento como
hoje, que a disponibilidade de música, filmes e séries é infinita. Literalmente:
é impossível absorver tudo.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">E me vi dizendo ao meu namorado, dia desses, que por conta
de tudo isso uma série tem que nos fisgar no primeiro episódio. Pois não temos
tempo de “<i>dar uma chance</i>”. Na
ocasião, era a estreia da nova versão de <b>Sailor
Moon</b> na Netflix: dois episódios de quase 1h30 cada. Vi o primeiro, não
gostei. Ele viu o segundo e disse que melhora bastante. E então lhe dei essa
resposta, indo contra até mesmo com o que costumo pregar.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Tudo tem acontecido tão rápido, que cada momento é uma oportunidade.
Cada <i>story </i>de 15 segundos do
Instagram é uma oportunidade. Cada compartilhamento, cada comentário dado e
recebido, cada fresta online é uma oportunidade para quem visa expandir seu
trabalho e levá-lo para o além bolha, para o outro público! E nisso, nos
transformamos numa espécie de vale tudo.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Tentamos criar um primeiro parágrafo de artigo ou de <i>post </i>que fisgue o leitor (afinal de
contas, ele também não tem tempo de “<i>dar
uma chance</i>”). Escrevemos um livro projetando uma primeira folha ou primeiro
capítulo impactante, para que o leitor não abandone no meio. E por aí vai. Não
há mais tempo para nada, ao mesmo tempo em que temos tudo.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><o:p> </o:p>“...<i>e achamos que ela
é tudo o que somos.”. </i>E será que é só isso mesmo? Admiro muito quem vem
conseguindo se desprender de todas essas neuroses. É o que costumo pregar, que
tenhamos uma rotina menos caótica e com foco em produzir, produzir e produzir.
Mas que possamos curtir e degustar cada momento da rotina, principalmente pra
nós que trabalhamos com criação e estamos sempre num looping de cobrança. Não
se trata de sair da roda e do círculo vicioso, mas de quebrá-la!</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><o:p> </o:p><b>Os Invisíveis</b> é uma série que surgiu nos anos 1990, em meio
à ascensão tecnológica e das teorias da conspiração de Arquivo X, mas que
continua atemporal. O inimigo pode ter mudado de nome ou de estratégia, mas a
batalha ainda é a mesma. Foi a Matrix antes mesmo da Matrix. Super recomendo a
leitura!</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div><div><span style="font-family: georgia;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjosN0q4xNUwz3jh2eM50EWUSt2uzDbGzlnk1OgXkS8UUiDUdmYs29vXPvndbG3KO9IRqN4goJ8sU2APEAss1J47wOLlt9yG9zBujmVUi5n5raKEJQmL6DmWBobcQZhgKQCo3pFzwjYU2a3/s1264/Os+Invis%25C3%25ADveis+p%25C3%25A1gina-junho.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="1264" height="337" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjosN0q4xNUwz3jh2eM50EWUSt2uzDbGzlnk1OgXkS8UUiDUdmYs29vXPvndbG3KO9IRqN4goJ8sU2APEAss1J47wOLlt9yG9zBujmVUi5n5raKEJQmL6DmWBobcQZhgKQCo3pFzwjYU2a3/w488-h337/Os+Invis%25C3%25ADveis+p%25C3%25A1gina-junho.jpg" width="488" /></a></span></div><div><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i><span style="font-family: georgia;">“Lutamos contra o outro lado,<o:p></o:p></span></i></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i><span style="font-family: georgia;">as forças que querem controlar a vida das pessoas<o:p></o:p></span></i></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i><span style="font-family: georgia;">e nos manter adormecidos para sempre.”<o:p></o:p></span></i></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"> – Grant Morrison, em Os Invisíveis #5.<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">E pra você, como está sendo lidar com tudo isso?<o:p></o:p></span></p></div><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div><br /></div>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-48793185861207665202021-06-12T18:33:00.000-07:002021-06-12T18:33:16.306-07:00Coluna Asas #66 - O que raios laser é Ficção Científica? - (Davenir Viganon)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhr4eldqntZ4ySW2YHgLpVsjLcYSSiJxT07RfI9VpZlaTlLSf4ahiSLEitfztltSmOSrlAJM6CENnvpYetUvz5vL6CTy9yR2sdNMapN65mrG0vRoJpZVwv2qeNyP891q_XivI-xs_IZUzdR/s640/binary-Gerd-Altman-Pixabay.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhr4eldqntZ4ySW2YHgLpVsjLcYSSiJxT07RfI9VpZlaTlLSf4ahiSLEitfztltSmOSrlAJM6CENnvpYetUvz5vL6CTy9yR2sdNMapN65mrG0vRoJpZVwv2qeNyP891q_XivI-xs_IZUzdR/s320/binary-Gerd-Altman-Pixabay.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Arte.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;">Perdoem-me a resposta
curta e seca para algo tão difícil de definir. É uma resposta curta, admito,
mas tem o elemento que é tão fácil de se esquecer, de tanto que focamos no aspecto
científico deste gênero que tanto amamos. A ciência da Ficção Científica é
apenas uma variação das formas de escrever ficção. Digo escrever, pois foi na
Literatura que a Ficção Científica nasceu. O pesquisador Alexander Meireles refere-se à FC como filha de uma mãe e dois pais. Nascida, primeiramente, pelas
mãos de Mary Shelley (Frankenstein) e depois ganhando popularidade ainda maior com as obras de Jules Verne e H. G. Wells. Porém, o gênero recebeu esse nome apenas
nos anos 1920, já em terras estadunidenses, nas revistas <i style="mso-bidi-font-style: normal;">pulp</i>, que popularizaram o gênero.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 115%;"><span></span></span></p><a name='more'></a><span style="font-family: georgia;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;">As ciências da FC eram
principalmente as exatas, como a física e a química, além da biologia.
Autores como Isaac Asimov, Arthur C. Clarke e Ray Bradbury surgiram nesse
período. Anos mais tarde, nos anos 1960, a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">New
Wave</i> foi o movimento que buscou novos horizontes e abordagens para a FC.
As ciências humanas, como a antropologia e a linguística também inspiraram novas histórias. Ursula Le Guin, J. G. Ballard e Harlan Ellison surgiram. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;">Nos anos 1980, o
movimento cyberpunk, idealizado por Bruce Sterling e William Gibson, buscou
contrapor amplamente as FC da Era de Ouro (1920/50). Nesse período, as
histórias eram basicamente otimistas, em futuros distantes, protagonizadas por
heróis virtuosos, em naves espaciais e armados de pistolas de raios laser. Com
os cyberpunks, as histórias eram em futuros próximos aonde a alta tecnologia, não
viria acompanhada de uma vida melhor. Justamente o inverso. Temos distopias, a
perversidade da tecnologia, garantindo o poder na mão de grandes corporações, em histórias com protagonistas desajustados e de caráter duvidoso, que muitas
vezes apenas querem sobreviver.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;">Com esse histórico
resumido a grosso modo, podemos apontar as diferenças desde obras como “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Princesa de Marte</i>” (1917) até “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Neuromancer</i>” (1983), mas o que une todas
as obras que classificamos como Ficção Científica, está justamente nos consensos
e nos elementos que perpassam todas as obras. Por exemplo, desde que o termo
robô foi cunhado pelo escritor Karel Capek em sua peça de teatro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“R.U.R.”</i> (em tradução livre: Robôs
Universais Rossum) e o conceito se difundiu em tantas histórias, que já não há
a necessidade de explicar detalhadamente o que é um robô, assim como naves
espaciais ou ciberespaço. Há vários outros elementos, que podemos chamar de
arquétipos, para a FC. Entre eles: Exploração/colonização de outros mundos, Guerras
e armamentos fantásticos, Impérios galácticos, Antecipação de futuros e
passados alternativos, Mutantes, Mundos paralelos, Computadores, Tecnologia e
artefatos, Poderes extra-sensoriais, Viagem no tempo, Utopias e Distopias,
entre outros.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;">Contudo, por mais que
se evoque a ciência, que a história esteja correta cientificamente, o que enche
os olhos do leitor de FC é justamente o passo que o autor dá adiante. A
extrapolação dos elementos científicos inseridos nas histórias. Queremos uma
verossimilhança com a ciência em relação à velocidade das naves espaciais e as
distancias percorridas por elas, a custo de não embarcarmos na história, mas o
que traz ao leitor o sentimento de maravilhoso/<i style="mso-bidi-font-style: normal;">sense of wonder</i> é a perspectiva de imaginar tais viagens, bem como
imaginar a convivência com robôs, portar uma arma a laser ou navegar pelo
ciberespaço (quando este ainda era ficção ou, ao menos, da forma como
foi imaginado pelo autor).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;">Justamente por abarcar
tantas formas, a FC tornou-se um gênero variado, versátil e combinável
com vários outros gêneros, ao mesmo tempo em que difícil de determinar conceitualmente. </span></span><span style="font-family: georgia;">Tentativas não
faltaram, contudo, considero mais importante ressaltar a Ficção Científica
como arte, uma vez que ainda sofre muito preconceito, e agora sobre literatura especificamente,
uma vez que ainda é taxada como baixa literatura. Autores com obras notadamente
de FC, buscaram se afastar de qualquer classificação, como Thomas Pynchon, William
S. Burroughs, e até mesmo a rejeitar inteiramente qualquer relação, como Kurt Vonnegut.
No Brasil, Alfredo Sirkis também alegou que seu Silicone XXI (1985), apenas a
usava como pano de fundo. Recentemente, a criação de uma categoria à parte do
prêmio Jabuti, para englobar a literatura de gênero (FC, Fantasia, Terror...)
acendeu novamente o debate sobre a divisão entre baixa e alta literatura.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;">A nova
categoria dá espaço para obras com probabilidade quase nula de
indicação a melhor romance, enquanto também regulamenta e
ratifica essa divisão. Ainda que essa iniciativa seja mais relacionada ao aspecto mercadológico
das editoras, traz um benefício a curto prazo e ainda considero melhor tê-la
do que não tê-la. Cabe aos autores continuarem a escrever boas obras, até
conseguir furar a bolha que enjaula a Ficção Científica como se o gênero fosse algo
pequeno. É uma consideração que faço pensando na FC como arte, como literatura,
escrita em português e no Brasil.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;">Relembrar que a Ficção
Científica é Arte pode ser algo óbvio, mas não estamos vivendo em um momento
onde tantas coisas mais óbvias precisam ser reafirmadas? <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;">Referências/dicas:
Melhor que detalhar todas elas é ler de uma vez o capítulo II de <i>A construção do imaginário cyber</i>, de
Fábio Fernandes. Lá há um resumo bastante substancioso que me ajudou a alinhas
as reflexões que fiz aqui. <i>Visões
Perigosas</i>, de Adriana Amaral, também é uma leitura que ajudará ao leitor
mais curioso a ter mais curiosidade ainda sobre o assunto.</span><span style="font-family: Palatino Linotype, serif; font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Imagem: "Binary", Gerd Altman, no site Pixabay.</span></p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-17009547308276328952021-06-07T09:00:00.003-07:002021-06-12T15:18:02.786-07:00Coluna Asas #65 - Filosofia pateta - (Bruno de Andrade)<p style="text-align: justify;"><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg34VJqA0gGbzYwY4x0vLC5TNDngKOV4G-T9nh4S8mVvaPjXauY1R38qvXzn5Ae_3e_dtMY8qUBOMADxnYrChUZ3jWG5nsKAfUj-1hDq7bb51Irp51bOAv5oTGy5VmIkZQFGiPGS-zWsBk3/s375/junho-imagem.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="245" data-original-width="375" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg34VJqA0gGbzYwY4x0vLC5TNDngKOV4G-T9nh4S8mVvaPjXauY1R38qvXzn5Ae_3e_dtMY8qUBOMADxnYrChUZ3jWG5nsKAfUj-1hDq7bb51Irp51bOAv5oTGy5VmIkZQFGiPGS-zWsBk3/s320/junho-imagem.jpeg" width="320" /></a></div><p style="text-align: justify;">Pato Donald está no meio de uma importante e acirrada partida de futebol. Na beira do campo, Mickey faz as vezes de treinador, exasperado com sua prancheta, tentando passar intricadas instruções para conduzir o time à vitória. Nada funciona. Eles precisam de um gol, o tempo vai ficando curto, a tensão aumenta. Piorando o já dramático cenário, algo urgente requer a presença do rato, e ele abandona seu posto por alguns minutos, já prevendo o desastre que será deixar o time nas mãos de seu abobado auxiliar: o sempre ingênuo e distraído Pateta.</p><span><a name='more'></a></span><p style="text-align: justify;">O desengonçado canídeo, por sua vez, não hesita diante de sua nova função e caminha com segurança para berrar palavras de sabedoria junto à lateral do campo:</p><p style="text-align: justify;">— Façam gol! Façam gol!</p><p style="text-align: justify;">Enquanto corre para resolver sua pendência, Mickey lamenta a sorte de seus comandados, mas logo se surpreende com o barulho da torcida — de alguma forma, os jogadores seguiram à risca as instruções do Pateta.</p><p style="text-align: justify;">Problema resolvido, o rato retoma seu lugar no banco. O jogo segue disputado, o apito final se aproxima, o desempate não vem. Donald luta em campo, o elenco da Disney prende a respiração nas arquibancadas, Mickey esgota suas estratégias. É hora de uma última cartada. Ele olha para os lados, um tanto constrangido, mas não há tempo para orgulho. Enche seus pulmões de roedor e se rende à lição <i>patetesca</i>:</p><p style="text-align: justify;">— Façam gol! Façam gol!</p><p style="text-align: justify;">Hoje, sempre que me vejo travado em frente a uma folha em branco, preso à minha própria prancheta de táticas para impressionar o leitor, ressoa em mim o grito pateta, escancarando minha tolice: escreva! Apenas escreva!</p><p style="text-align: justify;">Mas eu me debato como um ratinho teimoso, roendo questionamentos com meus incisivos avantajados. Escrevo, apago, reescrevo, sempre me convenço de que não está bom o suficiente, de que eu não sou bom o suficiente. Grito comandos que as palavras parecem não entender. Fico frustrado, aflito, irritado. Afinal, sou um escritor ou um rato?</p><p style="text-align: justify;">Termino o dia com um pedaço de queijo nas mãos; nenhuma linha escrita.</p><p style="text-align: justify;">Sinto o mesmo quando vejo escritores em entreveros literários. São muitas as discussões sobre fórmulas, sobre estética, sobre valores artísticos. Vejo autores desenhando uma trilha sinuosa, cheia de obstáculos, de clichês a serem evitados, de estripulias linguísticas e firulas narrativas a serem alcançadas. O caminho, porém, não parece levar ninguém para as proximidades do gol.</p><p style="text-align: justify;">Escritores – ainda bem que não sou um –, admitamos, dificilmente são patetas. Mas muitas vezes são bem bobalhões.</p><p style="text-align: justify;">Passo a defender, então, a Filosofia Pateta, que carrega a sabedoria que apenas os mais ingênuos, bobos e distraídos podem alcançar. É preciso voltar às origens, ao mais básico, correr sem medo, arriscar, chutar todas as bolas, cair de cara no gramado, ser vaiado, aplaudido, dar carrinho, tomar cartão, bater cabeça, seguir em frente. O gol está logo ali, à vista de todos. Não há segredo. </p><p style="text-align: justify;">Ou talvez haja, um só. Quer saber como se tornar um escritor? Vem comigo, eu te conto:</p><p style="text-align: justify;">— Escreva! Escreva!</p><p style="text-align: center;">***</p><p style="text-align: justify;">O final da historinha do gibi? O time não fez gol, mas conseguiu um pênalti, no último minuto. Donald na cobrança, uma pilha de nervos. O medo de perder fazendo tremularem as patas do pato. Enquanto corre para a bola, ele é iluminado por uma epifania. A verdade é que a vitória não importava tanto; ele estava ali para se divertir, aproveitar a jornada, jogar sem receio. O bico esboça um sorriso. Ele entendeu a lição do Pateta.</p><p style="text-align: justify;">E acaba. Fim.</p><p style="text-align: justify;">Jamais saberemos o placar.</p><p style="text-align: justify;">Mas não importa. O verdadeiro resultado do jogo já havia sido revelado.</p><div style="text-align: justify;"><br /></div>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-72869921133956734012021-06-03T07:30:00.001-07:002021-06-03T07:30:00.249-07:00Coluna Asas #64 - O juízo final - (Giselle Fiorini Bohn)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlVD2pgik99v3g6n9CMh62Oz9l0Aq9HQqxoC1sOMZ723_vd9qBZyYo8saNtVsBzNNibYVyWpkuwGoUf8cDDF0cwK8Q-DUVQnzuBTHJ6YG7CqlokugyQjcN0rt_rawze4FzrbTzFUzzh6ir/s640/women-3118387_640-Imagem+de+Daniel+Nebreda+por+Pixabay.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="426" data-original-width="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlVD2pgik99v3g6n9CMh62Oz9l0Aq9HQqxoC1sOMZ723_vd9qBZyYo8saNtVsBzNNibYVyWpkuwGoUf8cDDF0cwK8Q-DUVQnzuBTHJ6YG7CqlokugyQjcN0rt_rawze4FzrbTzFUzzh6ir/s320/women-3118387_640-Imagem+de+Daniel+Nebreda+por+Pixabay.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: georgia;">Há
apenas um ano, embora escrevesse mais do que faço hoje, eu jamais me designaria
escritora; faltava-me coragem de usar essa palavra. Até que, em julho de 2020,
decidi enviar um pequeno conto a um blog de escritores, no desejo de ser lida
por meus pares. Deu tão certo que não apenas me leram, como também me
elogiaram. O medo da exposição, que até então dominara minha vida, ruiu assim,
sem alarde. Adotei o título, ainda que reticente. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: georgia;">O
que não sabia a recém-designada escritora aqui era que outro medo substituiria
aquele.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span></span></span></p><a name='more'></a><span style="font-family: georgia;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: georgia;">Desde
esse pequeno movimento de mostrar pela primeira vez um conto escrito tantos
anos antes, muita coisa mudou. Minhas redes sociais, que por uma década se
limitaram a fotos de crianças, bichos, férias e refeições de duas dezenas de
amigos e parentes, agora são dominadas por poemas, contos, resenhas de
livros, ensaios, editais de concursos, avisos de premiações. Aquela foto do
pudim que minha tia fez toda orgulhosa no domingo nem me aparece mais.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: georgia;">Nesse
novo ambiente, conheci pessoas brilhantes, algumas bem-sucedidas, muitas nem
tanto. E, ainda que me doa admitir, já senti inveja de todos os tipos - de
talento, de criatividade, de ideias incríveis, mas também de autoconfiança, de falta
de modéstia, de cara-de-pau. Meus colegas escritores são admiráveis pelos mais
diversos motivos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: georgia;">Sim,
é realmente maravilhoso estar inserida agora nesse mundo das letras, que em tão
pouco tempo já me trouxe muitas alegrias: ótimas amizades, muito apoio,
críticas necessárias, novas metas. Mas uma coisa eu não esperava: o efeito que
essa convivência teria sobre a minha forma de escrever.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: georgia;">Até
um ano atrás, eu escrevia, ponto final. Nas minhas fantasias, via pessoas no
ponto de ônibus, na praia, na fila do banco, com meus livros nas mãos; no
epílogo de um deles, afirmei que queria ser lida por quem “não gosta de ler”, e
não menti. Meus leitores ideais seriam aqueles que vinham sem expectativas,
porque eu iria ao seu encontro sem pretensões.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: georgia;">Não
mais.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: georgia;">“Pretensões”
agora é a palavra da vez: tenho muitas. Porque as pessoas no ponto de ônibus,
na praia e na fila do banco foram, em minha mente, substituídas por colegas escritores,
de óculos, sentados sisudos em suas bibliotecas. E, não, eles não apenas leem: avaliam.
Analisam minhas escolhas – nem sempre acertadas – de narrador, tempo, espaço. Examinam
minhas pobres metáforas, minhas falhas analogias, a construção dos personagens;
desses, então, tenho até dó agora – foram jogados na fogueira do julgamento
implacável. Escrevo não mais pensando no conteúdo – é interessante, compreensível,
tocante, engraçado? – mas, principalmente na forma: será suficientemente
inovadora, criativa, poderosa? Ah, é muita pretensão pra pouca experiência. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: georgia;">Que
tudo isso é uma grande bobagem eu tenho plena consciência. Sei que, no fundo,
não deveria fazer a menor diferença ser ou não aprovada por meus colegas:
estamos todos no mesmo barco; aliás, furado, se olharmos a atual situação do
mercado editorial brasileiro. Sei também que só realmente importa que nossos
livros toquem alguém, que encantem de alguma maneira, seja pela honestidade,
pelo humor, pela emoção. Tudo isso eu sei, mas que na hora de escrever dá medo,
ah, isso dá.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: georgia;">Ô,
pessoa legal no ponto de ônibus, você mesma, aí: volta pra mim, vai.</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: georgia; font-size: x-small;">Imagem: Woman, de Daniel Nebreda, por Pixabay.</span></span></p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-1865269123794629862021-05-31T16:48:00.007-07:002021-05-31T16:48:57.418-07:00Coluna Asas #63 - Aí, então, né... não tem? - (Eduardo Selga) <p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHNnj6my1ooKvclg0vkYF1jgrGdalwomzX9C_3WKGimzPrlhTOjFeWwGFZEIKq-igr_LAzQtTrdesmpbPnAmLlyjAZDhIXcSiMD-s_S7r6bTgI2kKxIOKJyTt37BD0mS14dE97cqgdBSc8/s640/group-deGerd-Altmann.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="285" data-original-width="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHNnj6my1ooKvclg0vkYF1jgrGdalwomzX9C_3WKGimzPrlhTOjFeWwGFZEIKq-igr_LAzQtTrdesmpbPnAmLlyjAZDhIXcSiMD-s_S7r6bTgI2kKxIOKJyTt37BD0mS14dE97cqgdBSc8/s320/group-deGerd-Altmann.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNoSpacing"></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Itararé é um bairro curioso, pois o fato de
ele ter sido construído sem qualquer planejamento, como de resto a maioria da
cidade, faz com que existam umas ruas estreitas demais, que não comportam dois
carros em sentidos opostos. Nesses logradouros, durante as noites e nos dias
destinados ao descanso, muitos moradores gostam de conversar em grupos,
recostados aos muros e às vezes até no meio da rua. Tagarelam divertidos sobre
quase tudo, e parece haver apenas uma regra: não aporrinhar o outro com
assuntos cacetes como, aliás, é o objeto destes parágrafos.</span></div><div style="text-align: justify;"><span><a name='more'></a></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Quem já adquiriu um mínimo de experiência na vida, fruto de nossa perambulação
sobre a Terra, com absoluta certeza conhece ou já conheceu ao menos um chato. É
uma instituição nacional, como o cafezinho e a fila. Talvez até mundial. É
aquele cidadão sutilmente egoísta que, não se percebendo incômodo ou pouco se
importando com isso, despeja no outro, sem de fato interessar-se por ele, sua
visão de mundo e/ou as últimas e quentíssimas notícias que tem dele, como se
todos os outros sujeitos fossem uns néscios, desinformados de tudo.</span></div><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span><p></p>
<p class="MsoNoSpacing"></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><br /></span></div><div style="color: black; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Aqui faço uma ressalva: “mundo”, para o chato de galochas típico, é uma
entidade que pode ter mais de um semblante: tanto pode referir-se ao imenso –o
espaço geográfico do Planeta–, quanto ao minúsculo –a cidade, o bairro, a
vizinhança, o próprio sujeito–.</span></div>
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><br /></span></div><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">E eis que me flagro também eu um chato a esmiuçar demais as coisas,
circunstância que dá razão a alguns parentes e colegas que, pisando miudinho
com as palavras ou fazendo grande alarde com elas, já me disseram que não sou
nem um pouco diferente dos chatos que campeiam por aí.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Do alto da varanda em minha casa em Itararé, durante alguns sábados e domingos,
eu havia reparado num comportamento interessante entre boa parte dos moradores
da rua, apreciadores de um bom e evasivo bate-papo: a aproximação dela causava
uma revoada nos grupos de amigos que conversavam. Porém, não tão rapidamente
como o termo faz crer: ao contrário, as pessoas saíam aos poucos, esfarrapadas
desculpas ou mesmo desculpa nenhuma. Alguns tinham a delicadeza de não
ofendê-la, por isso saíam antes de ela chegar; outros, se tomavam esse cuidado,
era muito mais por causa da suspeita de que faltava algum parafuso na cognição dela.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Passei a perguntar a mim mesmo dos motivos para semelhante comportamento. Seria
possível ela não perceber o quanto sua presença era indesejada? Mesmo a batida
em retirada sendo à francesa não era necessário muito para ver que algo
acontecia de estranho ante sua presença nos grupos, ou à simples aproximação.</span></div></span>
<br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Assuntei. Como quem nada quisesse, fiz perguntas daqui e dali a algumas
“vitimas” mais constantes da mulher. Talvez por eu ser uma criatura de poucos
amigos, fechado em copas, não houve grandes avanços: sorrisos desconversadores,
acompanhados de palavras que desaguavam em lugar nenhum; sinais contraditórios,
que simultaneamente diziam e negavam. Até que minha vizinha da casa de baixo,
mulher de grande senso prático e que considerava cuidar de flores uma frescura
inútil, no rosto a expressão de quem me considerava um ingênuo ou desinformado
acerca da natureza humana, me propôs um desafio: “o motivo eu sei, mas não vou
dizer. Por que você mesmo não conversa com ela”?</span></div>
<div style="text-align: justify;"><br /></div><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Não se estabelece uma amizade minimamente sólida no espaço entre a noite e o
dia, acredito que isso deva ser consenso entre os que vivem nas metrópoles,
esses amontoados desumanizantes. No entanto, como minha curiosidade era maior
que esse obstáculo e solidez não era a minha busca, aos poucos me fiz
aproximar, principalmente porque continuava a assistir ao fenômeno da
debandada. Por não estarem devidamente acionados os radares que todos
precisamos ter em qualquer relação interpessoal, não percebi a tempo que alguns
tentaram sutilmente alertar-me.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Estreamos nossa amizade (ou melhor dizer coleguismo?) com uma conversinha boba
aqui, ali um diálogo mais aprofundado sobre as possibilidades reais de chuva
naquele dia, até que ela se considerou à vontade para falar-me sobre sua
pessoa. Era tudo o que eu queria. Caíra na armadilha de minha infalível lábia,
e nem poderia ser diferente, afinal sou muito esperto para essas coisas.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Foi a partir desse instante que entendi com todas as letras as razões do
pessoal: ela era, e continua sendo, chatíssima. E isso resultava nem tanto dos
assuntos abordados, e sim de como ela construía seu discurso. Era uma repetição
infinita de “então”, “aí, né”, “não tem?” e “eu disse bem assim”. Além disso,
havia algo bem pior, porque dificultava minha saída estratégica, como faziam os
outros: a conversa nunca chegava a termo. Ela iniciava o assunto, mas não o
concluía. Dava voltas enormes, avião a circundar várias vezes a pista do
aeroporto à espera de teto para descer em segurança; abordava assuntos
paralelos que por sua vez entravam em becos sem saída, em solo infrutífero,
motivo pelo qual ela retornava ao principal da conversa. O resultado era uma
prosa que ficava numa eterna introdução, prolegômenos absolutamente inúteis. E
que, honestidade é preciso, dava nos nervos.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Para ter melhor ideia do que eu estou dizendo, imagine o caro leitor o seguinte
monólogo de quem me dissera que ia narrar os motivos pelos quais não tardaria a
pedir a separação conjugal. Casada?! Pobre homem, certamente ele tinha razões
para desembarcar daquela canoa furada, se quisesse.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">– Aí, então, eu disse bem assim para a mãe dele, a Dona Miúda: “Dona Miúda...”
(nome esquisito para uma mulher de quase dois metros, mas ela me disse que o
pai dela disse que era um tratamento carinhoso... Vá entender...).</span></div></span>
<br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">– Sim, mas o que tem ela?</span></div>
<div style="text-align: justify;"><br /></div><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">– Ela quem?</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">– A tal Dona Miúda, menina!</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">– Não, você não compreendeu: o apelido dela não é Miúda Menina, e sim Miúda.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">– Sim, está bem, eu não compreendi... Mas o que você disse a ela?</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">– Então... Eu ia justamente dizer, mas você me interrompeu, não tem? Aí, né, eu
disse bem assim: “Dona Miúda, quando eu e seu filho nos conhecemos...” Ah, seu
moço, eu me lembro até hoje, não tem? Eu estava na pracinha, era noite, comendo
um churrasquinho para matar o tempo. Aí, né, eu disse para Dona Miúda: “ele
apareceu com aquele sorriso amarelo de sempre, fiapo de carne entre os dentes,
e disse bem assim, com lata de cerveja na mão, a voz esganiçada: ‘se a gatinha
me deixar sentar ao seu lado eu lhe ofereço um gole...’”.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">E aí, como livrar-me dela? No diálogo reproduzido pela minha memória, e que a
mulher evidentemente não concluiu, fui salvo pela Providência Divina, encarnada
na minha vizinha da casa de baixo, a mesma que me sugerira conversar
diretamente com a chata: testemunha à distância de meu desespero, ria
balançando negativa e discretamente a cabeça, uma zombaria de meu Calvário ou
de minha inteligência. Aproximou-se, espalhafatosa e incisiva.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">– Agora chega, coleguinha! Estou de olhos e ouvidos muito atentos à sua
conversa, fique sabendo. Está interessada no gato aqui, fofa? Esquece. Cheguei
primeiro.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Piscou o olho para mim, sugerindo que eu fosse cúmplice da farsa.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">– Não é mesmo, amoreco?</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">A mulher assustou-se. Não entendeu muita coisa, e saiu reclamando da suposição
precipitada da minha vizinha. Desculpas por qualquer coisa, não era o que a
vizinha estava pensando. E esta, sorriso por fora e gargalhadas por dentro,
virou-se para mim, braços cruzados.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">– Acho que agora você entendeu bem o motivo de todo mundo sair de fininho ou
até mesmo na caradura. Não é, amor?</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Sim, e nem haveria como não entender. Depois de tudo, em casa trocando umas
ideias com meus botões sempre muito tagarelas, fiquei a perguntar-me até que
ponto é possível alguém com tais características ser minimamente feliz, manter
sólidas relações afetivas. Não creio em felicidades que tenham semelhante
fisionomia. Imagino ser uma tristeza enorme habitar um mundo monologado, sem
interlocutores, quando se tem a necessidade de troca, como era, do meu ponto de
vista, o caso dela. Tanta falação era necessidade de ser ouvida, mas também de
haver alguém que frontalmente retrucasse ou que concordasse com ela, de modo a
estabelecer-se um pingue-pongue dialético. Carecia de vida, de uma alegria que
nem precisava ser o que costuma ser, meras franjas de felicidade: bastava que
fosse mesmo apenas uma alegriazinha.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Esse pensamento com ares de bom samaritano foi muito útil para aliviar minha
consciência de dois incômodos: a sensação de não ter sido elegante com ela ao
demonstrar impaciência (mas... terá percebido?); a certeza de minha silenciosa
desonestidade ao concordar com a súbita mentira da vizinha do pavimento
inferior. Porém, não sobreviveu mais que um dia meu samaritanismo de fachada,
como em geral acontece com as falsas piedades.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">O sol estava sequestrado entre as nuvens de inverno que sobrevoavam Itararé e a
cidade de Vitória, empurradas pelo Atlântico. Eu regava as plantas de minhas
jardineiras, quando a tal chegou de repente, uma desfaçatez que provavelmente
ela mesma não tenha percebido. Depois a vizinha me confessou: abrira o portão
para tão agradável visita. Refeito do susto, pude perceber a timidez no sorriso
e algum desconforto.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">– Bom dia, seu moço. Então. Pois é... Alguém me disse bem assim que você
escreve umas coisas aí, não tem? Parece que é livro, jornal, blogue... Aí, né,
eu disse bem assim para mim mesma: será que ele sabe que minha vida daria um
livro?</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Tenho certeza não consegui conter o espanto causado pela última frase dela, mas
certamente fui excessivo nos olhos arregalados, talvez uma cara horrível,
porque logo em seguida ela tentou consertar a situação.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">– Calma, não quero confusão com a sua namorada aí de baixo, eu só vim para
terminar o caso que eu estava lhe contando ontem, não tem? Aposto que ficou
curioso para saber como termina.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><br /></span></div></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Santo Deus...</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">– Aí, né... Eu disse bem assim... </span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Foram mais uma ou duas horas de falatório quase ininterrupto, mas já nos
primeiros dez minutos </span><span style="font-size: 12pt;">mergulhei em mim mesmo, voltando à tona poucas vezes para
um sorriso mentiroso ou oferecer qualquer coisa que ocupasse sua boca. Durante
o tempo em que eu nadava nas profundezas de minhas próprias águas, ouvindo o
som das palavras que vinham do mundo exterior como um murmúrio de remos dando
beijos de língua no mar, concluí: não se tratava apenas de carência, como meus
botões me disseram: havia grande dose de um bem disfarçado egoísmo de quem se
importa apenas consigo e nenhum pouco com as orelhas alugadas dos amigos e
colegas, característica típica dos chatos profissionais.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Egoísmo e desespero. Apesar de abstraído em mim mesmo, por vezes tinha a
sensação de que ela precisava angustiadamente falar, falar e falar muito mais,
como artifício que degolasse as vozes interiores que a perseguiam. Matraqueava
sem fim porque precisava mantê-las em silêncio.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Num mundo cada vez mais pautado pela individualidade em detrimento do coletivo,
eu não deveria surpreender-me com ela. Basta olhar em torno: boa parte de nós
está ficando assim, falastrona, discursando para grandes paredes coloridas
chamadas redes sociais, ao mesmo tempo Muro das Lamentações e tribunal de uma
moderna Inquisição. Assim, a mulher de quem todos fogem, eu inclusive, não
passa do real levado a extremos, uma possível antecipação de nós. De todo o
modo, assusta-me a hipótese de ficarmos insuportavelmente chatíssimos, ou, como
diz meu pai, todos uns Chatonildos dos Anzóis Carapuças.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Imagem: "</span><span style="text-align: left;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;">Group" (Gerd Altmann, no Pixabay).</span></span></div><p></p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-20226924314725114322021-05-27T20:01:00.002-07:002021-05-28T12:33:13.646-07:00Coluna Asas #62 - O Holocausto é aqui - (Evelyn Postali)<p> <br /></p><div style="text-align: right;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirm65hdaJnE3lGSVAQfe2zJX-gLo8uD2rc_JaFs991Zyo3Cy5EpoY5shhqY38i3gThZNyHnOlfijLx5JAyjk9Sjv5XfzSzTMbNDkDPc4DNWJh5KCJQjqfPv81a8n6YbJ9bWRGhiDB4Wpc-/s990/foto1.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="779" data-original-width="990" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirm65hdaJnE3lGSVAQfe2zJX-gLo8uD2rc_JaFs991Zyo3Cy5EpoY5shhqY38i3gThZNyHnOlfijLx5JAyjk9Sjv5XfzSzTMbNDkDPc4DNWJh5KCJQjqfPv81a8n6YbJ9bWRGhiDB4Wpc-/s320/foto1.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Dia desses passei os olhos em uma publicação no Facebook e
parei aturdida pela imagem que ela continha e meu primeiro pensamento foi do
quão impactante pode ser uma fotografia. Um segundo depois já estava
relacionando a fotografia com nossa realidade brasileira. Vamos à <i>la Jack</i>,
ou seja, por partes.<span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span></span></p><a name='more'></a><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Na imagem, havia homens de sobretudos e chapéus sobre
escombros e livros, em frente às prateleiras do que, provavelmente, teria sido
uma livraria ou biblioteca. Segunda Guerra Mundial, pensei, pelo que li do
conjunto, e fui em busca da origem da imagem, alguma história que me aquietasse
a curiosidade. Sim. A imagem é de uma livraria, a Holland House, de Londres,
parcialmente destruída durante a batalha aérea travada entre a Força Aérea Real
e a Luftwaffe, entre os meses de julho e outubro de 1940. A foto é de um
correspondente cujo nome é Harrison. O título, Keen Readers (leitores
interessados) é, não apenas peculiar, mas ardiloso (eu explico o porquê depois).
Encontrei, ainda, uma imagem do interior do estabelecimento, de anos
anteriores. E, por fim, fui agraciada pela imagem de como ela era antes do
bombardeio e como ficou, restaurada, anos depois.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"></span></p><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgG5THTSiPia2UCWLHLl-Rv9FtBZXvZSeQkyFgIGADhsQZ3yoo9-PvnLVtxiDD_sNl6Tfuc6mdVvopM6KxWZYaunz3bVTLIufPzh8WDtKInGcKmcFP4nAKZmjjsb8Rx0hLSXAjJevzSbMQp/s640/foto2.jpg" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="485" data-original-width="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgG5THTSiPia2UCWLHLl-Rv9FtBZXvZSeQkyFgIGADhsQZ3yoo9-PvnLVtxiDD_sNl6Tfuc6mdVvopM6KxWZYaunz3bVTLIufPzh8WDtKInGcKmcFP4nAKZmjjsb8Rx0hLSXAjJevzSbMQp/s320/foto2.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td></tr></tbody></table><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Seria ingenuidade pensar que tal imagem possa conter apenas
um fato histórico, uma das inúmeras consequências de uma batalha travada entre
ingleses e alemães nos céus de Londres. Imagens contêm leituras de mundo. Nesse
caso, a do fotógrafo, sim, mas, também, a dos muitos leitores – leitores de
imagens – através dos anos, porque, apesar de antiga, em cada época em que for
acessada, vai falar um pouco do momento presente. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">É estarrecedor o quão próxima de nossa realidade está essa
fotografia específica. Quando digo que o título não é apenas peculiar –
leitores interessados –, mas ardiloso e perspicaz é porque tenho em mente o
momento atual no qual estamos vivendo. Ela nos remete ao livro, sim, não só
como objeto de desejo, ou arma contra a ignorância, paixão pelas nuances do
mundo ou pelo desassossego da sensibilidade, mas a imagem, penso eu, nos induz
a refletir como o livro chega até nós, leitores interessados, nesse Brasil
atual, tão controverso e avesso ao que nos é caro: cultura, educação, leitura. A
imagem nos lança para perto de questões que nos falam de como tê-los nas mãos alude
sentimento irretocável de posse de um universo peculiar e multifacetado; de
como os livros, por sua natureza rebelde, contraventora, subversiva, nos fazem mergulhar em reflexões perigosas aos todo-poderosos, atemorizados da revolução
advinda do conhecimento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Fico a imaginar, ao ver os três leitores em frente às
prateleiras semidestruídas, pacificamente lendo ou procurando por algum título,
se isso aconteceria nesse país, se a possibilidade de entrar em um recinto
repleto de livros despertaria o interesse pela leitura, ou se, para além das
brechas na economia doméstica, haveria o interesse na compra de algum exemplar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">No ano de 1946, o então deputado e autor Jorge Amado
discutiu a imunidade tributária para os livros, assegurado na Constituição de
1988. A queda do índice de leitura ao longo dessa década ainda é discutida e a
retração da indústria do livro em um período de 14 anos não desacelerou. Como é
possível não termos evoluído positivamente nesse mais de meio século?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzvgQJx4RqVkBNB88FlWB0qEwEJJ2jW7TbwgJOWnWy7cpGwGX_eEaVJBQItZuRoUEFHH7LqZoXr88Hzgc44Jx1I1OcORcePqCDaKv_kdaKMVT6pnt2ifi8z42idBcjm_w6eKZd2UOGz-nr/s1200/foto3.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1020" data-original-width="1200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzvgQJx4RqVkBNB88FlWB0qEwEJJ2jW7TbwgJOWnWy7cpGwGX_eEaVJBQItZuRoUEFHH7LqZoXr88Hzgc44Jx1I1OcORcePqCDaKv_kdaKMVT6pnt2ifi8z42idBcjm_w6eKZd2UOGz-nr/s320/foto3.jpg" width="320" /></a></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><span style="font-family: georgia;">Diante de uma livraria destruída pelas bombas aéreas está
nosso caos atual, onde, não se podendo queimá-los, ou proibi-los, lançam-se
bombas em formato de impostos e propagandas sutis a diminuírem a importância da
leitura, entraves burocráticos impedindo a chegada deles até as escolas,
fazendo com que nossas mãos, nossos pensamentos, nossos desejos, esvaziem-se
das letras, das histórias, das contações mirabolantes contidas nesses
alfarrábios. Diante de uma livraria destruída estão inúmeras outras livrarias,
fechadas por bombas de incompetência de governantes sem caráter, vindas de anos
anteriores e intensificadas na atualidade.<o:p></o:p></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O mesmo bombardeio se faz nas bibliotecas públicas
municipais com poucos recursos e acervo, e na escola pública, onde a primeira
sala fechada quando falta recurso humano é o espaço da leitura e da pesquisa. As
bibliotecas escolares são o primeiro espaço sem profissional habilitado para o
trabalho, e os últimos espaços a receber recursos físicos e materiais. E, não
bastasse isso, conseguimos professores de Língua Portuguesa que, ou leem pouco
pela sobrecarga de trabalho, ou não leem, e, ao ensinar Literatura, apontam
apenas para a cronologia dos movimentos literários e não para o conteúdo de
livros "clássicos" ou contemporâneos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">A nós, que apreciamos os livros, a escrita, a leitura, ainda
nos resta um fio de esperança, talvez? A curto e médio prazos, impossível,
sendo a leitura um hábito formado, na maioria das vezes, na infância. Em meio a
tamanho descaso, onde buscaríamos amparo? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As perguntas sempre ficam, mas a certeza é
sempre uma: livros deveriam estar em nós feito o ar que ser respira. Sem eles,
sem a leitura, sem tê-los como necessidade básica, não vamos a lugar algum, nem
como pessoas, nem como sociedade, nem como país.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Créditos e links para as imagens:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><span style="font-family: georgia;">Keen
ReadersReaders choosing books which are still intact among the charred timbers
of the <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>- Holland House library, London,
23rd October 1940. (Photo by Harrison/Fox Photos/Hulton Archive/Getty Images) <span class="MsoHyperlink"><a href="https://www.gettyimages.com.br/detail/foto-jornal%C3%ADstica/readers-choosing-books-which-are-still-intact-among-foto-jornal%C3%ADstica/2672731">https://www.gettyimages.com.br/detail/foto-jornal%C3%ADstica/readers-choosing-books-which-are-still-intact-among-foto-jornal%C3%ADstica/2672731</a></span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><span class="MsoHyperlink"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><a href="https://en.wikipedia.org/wiki/File:Holland_House_library_after_an_air_raid.jpg">https://en.wikipedia.org/wiki/File:Holland_House_library_after_an_air_raid.jpg</a></span></span><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><span class="MsoHyperlink"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Holland_House#/media/File:Comparison_of_Holland_House,_Kensington,_in_1896_and_2014.png">https://en.wikipedia.org/wiki/Holland_House#/media/File:Comparison_of_Holland_House,_Kensington,_in_1896_and_2014.png</a></span></span><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><span class="MsoHyperlink"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><a href="https://vintagenewsdaily.com/pictures-inside-the-library-of-holland-house-in-1907-and-in-1940-with-bibliophiles-after-german-world-war-ii-bomb-damage/">https://vintagenewsdaily.com/pictures-inside-the-library-of-holland-house-in-1907-and-in-1940-with-bibliophiles-after-german-world-war-ii-bomb-damage/</a></span></span><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><span class="mw-mmv-author"><span lang="EN-US" style="background: rgb(248, 249, 250); font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Arial;">H. N. King (1896 photo), </span></span><span class="MsoHyperlink"><span lang="EN-US" style="background: rgb(248, 249, 250); color: #0645ad; font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Arial; text-decoration: none; text-underline: none;"><a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/User:Edwardx" title="User:Edwardx"><span style="color: #0645ad; text-decoration: none; text-underline: none;">Edward Hands</span></a></span></span><span class="mw-mmv-author"><span lang="EN-US" style="background: rgb(248, 249, 250); color: #54595d; font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span></span><span class="mw-mmv-author"><span lang="EN-US" style="background: rgb(248, 249, 250); font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Arial;">(2014 photo), </span></span><span class="MsoHyperlink"><span lang="EN-US" style="background: rgb(248, 249, 250); color: #0645ad; font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Arial; text-decoration: none; text-underline: none;"><a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/User:Lobsterthermidor" title="User:Lobsterthermidor"><span style="color: #0645ad; text-decoration: none; text-underline: none;">Lobsterthermidor</span></a></span></span><span class="mw-mmv-author"><span lang="EN-US" style="background: rgb(248, 249, 250); color: #54595d; font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span></span><span class="mw-mmv-author"><span lang="EN-US" style="background: rgb(248, 249, 250); font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Arial;">(compilation)</span></span><span lang="EN-US" style="background: rgb(248, 249, 250); font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Arial;"> <span style="color: #54595d;">- </span><span class="MsoHyperlink"><span style="color: #0645ad; text-decoration: none; text-underline: none;"><a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Holland_House,_1896_by_H._N._King,_cropped_and_straightened.jpg" title="File:Holland House, 1896 by H. N. King, cropped and straightened.jpg"><span style="color: #0645ad; text-decoration: none; text-underline: none;">File:Holland
House, 1896 by H. N. King, cropped and straightened.jpg</span></a></span></span><span class="mw-mmv-source"><span style="color: #54595d;"> and </span></span><span class="MsoHyperlink"><span style="color: #0645ad; text-decoration: none; text-underline: none;"><a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Holland_Park_02.JPG" title="File:Holland Park 02.JPG"><span style="color: #0645ad; text-decoration: none; text-underline: none;">File:Holland Park 02.JPG</span></a></span></span><span class="MsoHyperlink"><span style="color: #54595d; text-decoration: none; text-underline: none;"><o:p></o:p></span></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">PARA LER MAIS:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Índices de leitura no Brasil:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span class="MsoHyperlink"><a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2020-09/brasil-perde-46-milhoes-de-leitores-em-quatro-anos#:~:text=O%20brasileiro%20l%C3%AA%2C%20em%20m%C3%A9dia,tamb%C3%A9m%20como%20o%20mais%20marcante.">AGÊNCIA
BRASIL</a></span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Sobre a indústria do livro: <span class="MsoHyperlink"><a href="https://www.publishnews.com.br/materias/2020/07/09/industria-do-livro-encolhe-20-nos-ultimos-14-anos-aponta-nielsen#:~:text=O%20que%20se%20v%C3%AA%20%C3%A9,25%25%20nos%20%C3%BAltimos%2013%20anos">https://www.publishnews.com.br/materias/2020/07/09/industria-do-livro-encolhe-20-nos-ultimos-14-anos-aponta-nielsen#:~:text=O%20que%20se%20v%C3%AA%20%C3%A9,25%25%20nos%20%C3%BAltimos%2013%20anos</a></span>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Caro, elitista e excludente: <span class="MsoHyperlink"><a href="https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2020/08/22/livro-no-brasil-e-caro-elitistas-e-excludente-diz-cocriador-da-flup.htm">https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2020/08/22/livro-no-brasil-e-caro-elitistas-e-excludente-diz-cocriador-da-flup.htm</a></span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Queda do setor: <span class="MsoHyperlink"><a href="https://observatorio3setor.org.br/noticias/em-um-ano-producao-de-livros-no-brasil-cai-em-43-milhoes-de-exemplares/">https://observatorio3setor.org.br/noticias/em-um-ano-producao-de-livros-no-brasil-cai-em-43-milhoes-de-exemplares/</a></span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Mercado editorial – números da crise: <span class="MsoHyperlink"><a href="https://www.comciencia.br/mercado-editorial-apostou-imprudentemente-no-brasil-e-quebrou-a-cara/">https://www.comciencia.br/mercado-editorial-apostou-imprudentemente-no-brasil-e-quebrou-a-cara/</a></span></span><o:p></o:p></p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-70057189501187058732021-05-17T08:25:00.001-07:002021-05-17T08:25:00.251-07:00Coluna Asas #61 - “A estrutura do romance”, de Edwin Muir e “O morro dos ventos uivantes” (Fabio Shiva)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_rXg0eFi0CRC8TNpDJ_71-Zb4pdaKrKHyYfL2OVCA39kHVaMs1tTtZFqtGf3lumrLH7fjJsf5o26TzJAc93nWX1f2TyoZwR2XuqsbZZ0K2g5SZgUzFbXxejfP-99eQwGCV_HZ7ys8uOcq/s294/estrut-morro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="212" data-original-width="294" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_rXg0eFi0CRC8TNpDJ_71-Zb4pdaKrKHyYfL2OVCA39kHVaMs1tTtZFqtGf3lumrLH7fjJsf5o26TzJAc93nWX1f2TyoZwR2XuqsbZZ0K2g5SZgUzFbXxejfP-99eQwGCV_HZ7ys8uOcq/s0/estrut-morro.jpg" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div></div><p></p><p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: georgia;">Há
muito tempo eu tinha vontade de ler algo sobre crítica e análise literária. E tive
pela primeira vez a oportunidade de saciar esse desejo com um livro
verdadeiramente espetacular: “A Estrutura do Romance”, de Edwin Muir.</span><span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white;"><span style="color: #222222; font-family: "Garamond",serif; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: MinionPro-Regular; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> <span></span></span></p><a name='more'></a><p></p><p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: georgia;">Foi
uma leitura muito interessante, que me ajudou a captar um pouco desse “olhar
literário” que eu queria descobrir. Vou colocar aqui bem resumidinho as
principais coisas que aprendi.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: georgia;">O
autor formula um sistema teórico que pode não ser o definitivo, mas é bem
válido. Ele percebe os romances como estruturados principalmente em função do
tempo ou do espaço.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: georgia;">Na
primeira categoria está o chamado “romance dramático”, que gira em torno de
alguma modificação que ocorre com os personagens, daí o fator tempo ser
fundamental. Fiquei com vontade de ler “O Morro dos Ventos Uivantes” de tanto
que foi louvado como belo exemplo de romance dramático.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: georgia;">Na
segunda categoria está o “romance de personagem”, que distribui uma sequência
de cenas mais no espaço que no tempo, pois os personagens praticamente não
sofrem alterações no decorrer da história. Os livros de Dickens foram muito
citados nessa categoria e também o “Vanity Fair” de Thackeray.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: georgia;">Uma
outra forma de estruturar o romance através do tempo é chamada pelo autor de
“crônica”, o que tem e não tem a ver com o conceito que comumente fazemos de
uma crônica. Aqui o tempo é uma força impessoal, e não um coadjuvante
dramático. Exemplo: “Guerra e Paz” do Tolstoi.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: georgia;">Outras
formas de estrutura são citadas: o “romance epocal” que Edwin Muir corretamente
profetiza que está para desaparecer, pois nenhum dos livros citados nessa
categoria me pareceu familiar (o livro é de 1928). Essa categoria baseia-se
mais numa descrição acurada de um evento que marca uma época (tal como a
invenção do automóvel) que numa história em si.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: georgia;">Muito
interessante foi a interpretação que Muir fez de “Em Busca do Tempo Perdido” de
Proust e do “Ulisses” de James Joyce, cada um sendo o único representante de
sua categoria própria. Sobretudo por estar lendo “Ulisses” na mesma época,
gostei muito. Na descrição de Muir (em que vi ecos do grande fã de Joyce,
Anthony Burgess), “Ulisses” é um fracasso genial! Como disse Burgess, somente
os grandes têm falhas interessantes...</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: georgia;">Valeu
muito a pena ler esse livro! Recomendo a todos que desejem aprofundar suas
leituras e também, por que não, seus escritos.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Li
<span style="color: #222222;">“A Estrutura do Romance” em 2012. E nada menos que
oito anos </span>depois,
pude finalmente conferir o grande clássico de Emily Brontë, “O Morro dos Ventos
Uivantes”, cujo título original é incrivelmente sonoro: “<i>Wuthering Heights</i>”.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"> Esse
tempo de espera, contudo, não poderia me preparar para a experiência única que
é ler “O Morro dos Ventos Uivantes”. Uma história de amor inesquecível, porque
esquisitíssima: são duas gerações de triângulos amorosos, onde todos os
vértices são igualmente detestáveis, personagens antipáticos, egoístas,
mesquinhos e que passam o tempo todo aporrinhando uns aos outros! Nunca li nada
parecido com essa história, a não ser no campo da sátira, que me fez evocar o
atribulado romance entre os pais do herói de “Memórias de Um Sargento de
Milícias”, de Manuel Antônio de Almeida, que diz ser “filho de uma pisadela e
de um beliscão”...</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Contudo,
por alguma espécie de misterioso fascínio, fiquei preso à história do início ao
fim, horrorizando-me com algumas das cenas “românticas”, sentindo gastura com
aquela gente intratável, mas querendo o tempo todo saber como iria terminar
aquilo. É inegável o talento da autora Emily Brontë, que inclusive se vale do
intricado recurso da narrativa dentro da narrativa, com idas e voltas no tempo,
sem jamais perder o fio da meada.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Ao
saber que a autora desencarnou precocemente, aos 30 anos de idade, apenas um
ano após publicar seu livro, comecei a formular uma curiosa teoria, que a meu
ver explica as singulares características de “O Morro dos Ventos Uivantes”.
Talvez Emily Brontë tenha sido uma criança azul nascida antes do tempo, vinda
de algum planeta bem mais evoluído que o nosso. Assim, inevitavelmente ficou
chocada com a grosseria e brutalidade que encontrou por aqui, o que a motivou a
escrever uma história de amor passada entre tais feras. Sua psique refinada,
contudo, não suportou por muito tempo o rude ambiente no qual estava confinada,
e Emily voltou para as estrelas logo após nos deixar sua obra-prima, que também
poderia ter se chamado “Os Brutos Também Amam”.</span></p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-90113018244367325232021-05-12T15:00:00.008-07:002021-05-12T15:00:00.265-07:00Coluna Asas #60 - Quem te inspira? Minha paixão pelo Peter Milligan - (Fil Felix)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimZztWzYxzNhrXv6TB-FqGzNNiSUly6taOzGqPbQcUJbw-VhgT4WLfoLg8ivgzZIOh_wUiuJGTDwyruy-FaILpvxr4fc_AaBhQrk3BC4MjZzRgshukIuAQEGKVU8W4Db69LxJppDwERjXZ/s982/Capa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="598" data-original-width="982" height="248" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimZztWzYxzNhrXv6TB-FqGzNNiSUly6taOzGqPbQcUJbw-VhgT4WLfoLg8ivgzZIOh_wUiuJGTDwyruy-FaILpvxr4fc_AaBhQrk3BC4MjZzRgshukIuAQEGKVU8W4Db69LxJppDwERjXZ/w408-h248/Capa.jpg" width="408" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Ao contrário de muitos fãs de quadrinhos, que começaram a
ler ou até mesmo acompanhar certas personagens ainda na infância, eu tive um
relacionamento um pouco mais tardio com o formato. Foi na adolescência que
conheci o universo dos mangás e das HQs, do colecionismo, de como funcionava as
publicações nacionais, a diferença entre as poderosas DC e Marvel, além das
séries alternativas de outras editoras. Foi quando conheci também o submundo
dos <i>scans</i>, com os grupos que se
dedicam a traduzir pro português muito conteúdo que nunca sairá no Brasil,
reacendendo a chama dos debates em torno da pirataria e ganhando a ira das
editoras.</span></div><span><span style="font-family: georgia;"><a name='more'></a></span></span><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">E como bom sagitariano que sou, fiquei extremamente
empolgado e caí de cabeça nesse universo, frequentando feiras, garimpando HQs
em sebos, criando um blog para resenhas (que mantenho até hoje!) e por um tempo
até fiz parte de grupos de <i>scan</i>!
Hoje, 15 anos depois que comecei a colecionar, percebo que essa minha fixação
foi responsável até mesmo por me fazer mudar de profissão, de largar a
graduação em Ciências Biológicas e partir para as Artes Visuais, de querer ser
um ilustrador e também poder escrever minhas próprias histórias.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">E entre todos os autores que eu lia nesses primórdios, um
deles realmente foi minha inspiração máxima, meu ídolo particular. Acredito que
todo mundo que trabalha com criação tem aquela pessoa que a gente olha e diz: “<i>bem que eu queria escrever como ela</i>”.
Histórias que a gente lê e gostaria de ter sido o autor, de tão profunda a
nossa identificação com a obra. E pra mim, essa pessoa foi o <b>Peter Milligan</b>: escritor britânico que
criou algumas das melhores histórias que já li, com roteiros intrincados,
psicodélicos e à frente do seu tempo, além de um olhar bastante crítico,
abordando questões que eu dificilmente vejo em outras HQs.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Durante os anos 1980, Milligan trabalhou em revistas
antológicas como a <i>2000 AD</i> e <i>Strange Days</i>, criando séries como <i>Paradax </i>e <i>Freakwave</i>, firmando parceria com o desenhista <b>Brendan McCarthy</b> (outro dos meus ídolos) e estabelecendo algumas de
suas principais características: o visual e temática lisérgicos, temas
controversos, violência e linguagem explícitas; chamando a atenção do mercado
norte americano, em especial a DC, que vinha importando autores britânicos a
fim de repaginar alguns personagens da editora. Esse período, final dos anos
1980, foi conhecido como a “<i>Invasão
Britânica</i>” das HQs.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Essa <i>Invasão </i>viu
autores como <b>Neil Gaiman</b> repaginando
o <i>Sandman</i>, <b>Grant Morrison</b> com o <i>Homem
Animal</i> e o próprio <b>Alan Moore</b>,
considerado um dos nossos gênios contemporâneos, com o <i>Monstro do Pântano</i>. Peter Milligan chegou a escrever em 1989 a
elogiada <i>Skreemer</i>, série em seis edições
que se passa após a queda da civilização, num futuro onde Veto Skreemer percebe
que o mundo em que vivia mudou e é necessário uma nova adaptação. Apesar de
passar despercebida, ganhou diversos elogios e concedeu a Milligan a chance de
trabalhar numa série longa para a DC: a repaginação de <b><i>Shade, o Homem Mutável </i></b>em
1990.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6zWAQxMlxQg0GQLCyIern8YUp5PiY9hkYH0NQsaucIqbhpQUYn9fQQFGJZTZMDBaqYD1-R4hmCPRTxLgZPfjiTMzzXqYTiR82bH39iKNgyUd0y16qzwFTeo7as3EFR7yxd4STNqIV6ism/s772/Shade%252C+o+Homem+Mut%25C3%25A1vel+-+capas.PNG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: georgia;"><img border="0" data-original-height="272" data-original-width="772" height="155" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6zWAQxMlxQg0GQLCyIern8YUp5PiY9hkYH0NQsaucIqbhpQUYn9fQQFGJZTZMDBaqYD1-R4hmCPRTxLgZPfjiTMzzXqYTiR82bH39iKNgyUd0y16qzwFTeo7as3EFR7yxd4STNqIV6ism/w440-h155/Shade%252C+o+Homem+Mut%25C3%25A1vel+-+capas.PNG" width="440" /></span></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Lembro de ter visto as capas de Shade, boa parte desenhadas
por Brendan McCarthy, e me apaixonado. Quando soube do teor das histórias,
senti que era aquilo que gostaria de criar! Nela, Rac Shade sai da dimensão
Meta para a Terra e toma o corpo de Troy Grenzer, um serial killer condenado à
morte, com a missão de evitar que a <i>Loucura
</i>que vazou de Meta tome conta dos EUA. O problema é que a primeira pessoa
que ele encontra e pede ajuda é Kathy George, cujos pais foram assassinados por
Grenzer! O primeiro arco, <i>O Grito
Americano</i> (edições #1-6), é uma das melhores coisas que já li e traz um
roteiro genial. Sendo britânico, Milligan enxergou na revista uma oportunidade
de fazer uma crítica ao sonho americano, usando da “Loucura” para abordar
questões como patriotismo, histeria coletiva e teorias da conspiração. Num dos momentos
mais emblemáticos, uma esfinge surge no meio da rua e questiona quem ousa
passar por ela: <i>“quem assassinou JFK?”</i>.
A esfinge, além de ter a cabeça do próprio John F. Kennedy, é uma “esfinge
americana”, que consome e devora tudo em seu caminho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><i>Shade, o Homem Mutável</i>
é considerado um dos maiores trabalhos do autor, sendo publicado entre 1990 e
1996, rendendo 70 edições. O fato de Rac Shade precisar ocupar um corpo humano
e também usar uma roupa especial (o Traje Loucura) são dois pontos que aparecem
em outras histórias suas, essa “troca” de roupa como ferramenta para discutir
sexualidade, gênero e moral. Entre as edições #33 e #50 da revista, por
exemplo, Shade muda de corpo e passa a habitar o corpo de uma mulher, trazendo
elementos a respeito da transexualidade.</span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6WFFtSCVurDitzmhnIj__xmunM-j-sWu38hKqkfGA0YdvbGwKF3O-JFgwxkB4V1pHaRiqC-DDwewJKx8I7qk405LKzF9nz2_zsK4SpzzRBTQ4FcZX_acH5vT_kMtddjIdiEEgzsHqnqiN/s703/O-Extremista-Quais-S%25C3%25A3o-os-Seus-Limites-3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: georgia;"><img border="0" data-original-height="417" data-original-width="703" height="205" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6WFFtSCVurDitzmhnIj__xmunM-j-sWu38hKqkfGA0YdvbGwKF3O-JFgwxkB4V1pHaRiqC-DDwewJKx8I7qk405LKzF9nz2_zsK4SpzzRBTQ4FcZX_acH5vT_kMtddjIdiEEgzsHqnqiN/w345-h205/O-Extremista-Quais-S%25C3%25A3o-os-Seus-Limites-3.jpg" width="345" /></span></a></div><span style="font-family: georgia;"><br /></span><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Mas a HQ que aborda esse uso do traje de maneira mais
explícita talvez seja <b><i>O Extremista</i></b>, minissérie em 4
edições lançadas pela Vertigo (selo adulto da DC) em 1993. Na trama, Judy
Tanner é a pessoa a usar o traje do Extremista atualmente, a figura responsável
por proteger e até matar em nome da Ordem, uma rede de clubes sexuais. Judy é
uma mulher reprimida que mal consegue falar sobre sexo, mas que ao vestir a
roupa do Extremista ela consegue se libertar. Uma ótima HQ que comenta sobre nossas
máscaras sociais e o quanto nos repreendemos em nome da moral e dos bons
costumes.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Ainda em 1993, Milligan publicaria outra pérola: <b><i>Enigma</i></b>,
minissérie em 8 edições lançada pela Vertigo e que é uma grande metáfora sobre
a descoberta da sexualidade. O protagonista, Michael Smith, é um jovem
extremamente sistemático que entra em coma ao ser atacado pelo vilão Cabeça. Ao
acordar do coma, tido como um milagre, ele passa a ficar obcecado pelo herói
mascarado Enigma, que tentou salvá-lo do Cabeça e que é muito semelhante a um
gibi que lia na infância. E aos poucos Michael passa a questionar sua
heterossexualidade e sua fixação por Enigma. O subtexto dessa minissérie é
magnífico, a começar pelos vilões que ganharam nomes como Cabeça e Verdade. Num
trecho, por exemplo, o noticiário anuncia que “<i>a Verdade está matando pessoas na Igreja</i>”. Toda a história é uma
viagem alegórica pela transformação ou aceitação de Smith sobre sua própria
sexualidade. Anos mais tarde, em 2001, Milligan assumiria a revista da X-Force
(que se transformaria em X-Táticos) e nos apresentou diversos mutantes LGBT,
assim como escrevendo o primeiro beijo gay publicado pela Marvel!</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Mas pra não ficar (muito mais) longo o artigo, gostaria de
encerrar esse meu momento <i>tiete </i>do
Peter Milligan com sua HQ mais bizarra, psicodélica e genial, desconhecida por
muitos. Trata-se de <b><i>Rogan Gosh</i></b>, publicada em 1994 também pela Vertigo e com
desenhos do Brendan McCarthy. Lembro de ter visto algumas imagens dessa <i>one-shot </i>quando era adolescente, mas
nunca consegui ler na íntegra até meados de 2017, quando finalmente pude ler e
fiquei extremamente apaixonado pelo nível de profundidade da história, além da
arte excepcional, uma viagem lisérgica sobre autoconhecimento com mitologia
hindu.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p></div><span style="font-family: georgia;"><br /></span><p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifzQVHZ8deX8JWPf0ABY3-I-P2edWcrI6B0xlw_s20oXf-KGg0eHWV_7TFJtru1RIO0Q_faul4Tv-neRJ_Y-uPbCB46q_ya86cyL2ff21_dMEC4Ezkivfcfww3qFV35mJxaqS6k1axE0Ux/s1012/Rogan-Gosh-Uma-Jornada-Psicod%25C3%25A9lica-1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: georgia;"><img border="0" data-original-height="1012" data-original-width="978" height="391" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifzQVHZ8deX8JWPf0ABY3-I-P2edWcrI6B0xlw_s20oXf-KGg0eHWV_7TFJtru1RIO0Q_faul4Tv-neRJ_Y-uPbCB46q_ya86cyL2ff21_dMEC4Ezkivfcfww3qFV35mJxaqS6k1axE0Ux/w378-h391/Rogan-Gosh-Uma-Jornada-Psicod%25C3%25A9lica-1.jpg" width="378" /></span></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Rogan Gosh é um ser místico, um karmanauta, que é
amaldiçoado por Soma Swami ao tentar livrar o mortal Rudyard Kipling da
maldição de Kali. Rogan entra num ciclo de morte e renascimento, passando por
diversos corpos e vidas, lidando com problemas diferentes em cada um deles. Milligan
usa de toda a mitologia hindu, indo de deuses ao Véu de Maya, culinária
indiana, chakras, entre diversas simbologias orientais como a Lótus. Rogan Gosh
também é azul, como a coloração comum de Krishna. Hoje em dia muitos dos meus
personagens são azuis devido ao impacto que Rogan Gosh teve em mim. Inclusive
meu conto <u><span style="color: #1155cc;"><a href="https://entrecontos.com/2019/02/17/o-suplicio-de-um-deus-rogan/"><span style="color: #1155cc;">O Suplício de um Deus</span></a></span></u> também foi
levemente inspirado nessa HQ, na época até usei o pseudônimo “Rogan”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><o:p> </o:p>A narrativa segue uma estrutura não-linear, indo e voltando
no tempo, nos mostrando as várias facetas e vidas de Rogan até o momento em que
consegue interromper a maldição de Kali. Tudo nessa jornada pode ou não ser
real ou um sonho, tudo é extremamente alegórico e segue até o formato da <i>“história dentro da história”</i>. Essas
camadas tornam a leitura um tanto difícil, mas é um daqueles trabalhos que
mesmo que a gente não entenda tudo, a jornada é maravilhosa. Numa de suas
vidas, temos o jovem e depressivo Dean, que faz um monólogo sobre o amor: a
dificuldade de amar ou simplesmente de sentir; enquanto um outro Dean, em outro
lugar, se rende aos desejos de outro homem. Diversos momentos, principalmente
essa busca por um sentido na vida, dos quais me identifico muito.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p></div><p><span style="font-family: georgia;"><br /></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEie1OX3fJV5c6kbBjcAAa1kk5BmDzF_NHKft4HlyTJ1n8L9rKE9ynNebrh9a5U0ZJcZKUKCt2HwwmUTPfLAKCjV43GRAOoeRDOBYCZQUEEMK0nwKzZ5vs-0Srt4M9x9LFD3q40xNWovmOjn/s971/Rogan-Gosh-Uma-Jornada-Psicod%25C3%25A9lica-5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: georgia;"><img border="0" data-original-height="721" data-original-width="971" height="335" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEie1OX3fJV5c6kbBjcAAa1kk5BmDzF_NHKft4HlyTJ1n8L9rKE9ynNebrh9a5U0ZJcZKUKCt2HwwmUTPfLAKCjV43GRAOoeRDOBYCZQUEEMK0nwKzZ5vs-0Srt4M9x9LFD3q40xNWovmOjn/w451-h335/Rogan-Gosh-Uma-Jornada-Psicod%25C3%25A9lica-5.jpg" width="451" /></span></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Tudo acaba funcionando como uma metáfora sobre as
possibilidades, sobre nossos sentimentos, nossas crenças, nossas paixões e a
realidade que nos cerca. Um material que ao lado de outros títulos como <i>Shade</i>, <i>O Extremista</i> e <i>Enigma </i>demonstra
a capacidade do Peter Milligan em escrever histórias reais, mas a partir de uma
lente fantástica e sem pudores, conseguindo navegar entre o onírico e o belo,
mas sem se preocupar em ser menos violento ou explícito.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Preciso nem dizer que eu gostaria de ter escrito todas elas,
né? Tanto o <b>Milligan </b>quanto <b>Brendan McCarthy</b> estão entre os autores
que mais me inspiram. E é muito bom saber que ele é um contemporâneo meu, já
que no mundo da literatura e das artes costumamos seguir o modelo de autores de
outras épocas. Isso faz com que eu me sinta mais próximo dessa realidade e, de
alguma forma, mais encorajado a continuar. E de uma maneira indireta, já que
não aspiro entrar no mercado de HQs.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">Lá no meu blog eu venho resenhando as HQs escritas pelo
Peter Milligan e, se ficou curioso com essas que citei, dá uma olhadinha no
review que fiz de cada uma. Quem sabe um dia venho comentar sobre seus
trabalhos mais recentes!</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><u><span style="color: #1155cc;"><a href="http://filfelix.com.br/2016/03/review-shade-o-homem-mutavel-o-grito-americano.html"><span style="color: #1155cc;"><span style="font-family: georgia;">Shade, o Homem Mutável: O Grito Americano</span></span></a></span></u></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><u><span style="color: #1155cc;"><a href="http://filfelix.com.br/2017/05/especial-o-extremista-quais-sao-os-seus-limites-2.html"><span style="color: #1155cc;">O Extremista: Quais São os Seus Limites?</span></a></span></u><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><u><span style="color: #1155cc;"><a href="http://filfelix.com.br/2017/05/especial-enigma-a-cabeca-a-verdade-e-a-garota-envelope.html"><span style="color: #1155cc;">Enigma: a Cabeça,
a Verdade e a Garota Envelope</span></a></span></u><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><u><span style="color: #1155cc;"><a href="http://filfelix.com.br/2017/11/rogan-gosh.html"><span style="color: #1155cc;">Rogan
Gosh: Uma Jornada Psicodélica</span></a></span></u><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">E pra você, quais são seus modelos de inspiração?</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;"><o:p></o:p></span></p></div><br />Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-61104409458170494432021-05-08T08:36:00.000-07:002021-05-08T08:36:41.427-07:00Coluna Asas #59 - O autor canino - (Bruno Andrade)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmimyV0EX1ORBQB9IUHlMI8W_ktPxmyKCB4kUVAeqyWAnYFeqb8GE7GiF9SblCaMMZXuNoi4fkrelJl-XYUgAC83HHpJ_zJzH5Xw_x-Sr1tRYxq5-WDA19pLmkdIUgyK4DS6zyhbQEpzUR/s640/dog-734689_640.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="426" data-original-width="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmimyV0EX1ORBQB9IUHlMI8W_ktPxmyKCB4kUVAeqyWAnYFeqb8GE7GiF9SblCaMMZXuNoi4fkrelJl-XYUgAC83HHpJ_zJzH5Xw_x-Sr1tRYxq5-WDA19pLmkdIUgyK4DS6zyhbQEpzUR/s320/dog-734689_640.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Quando criança — tenho quase certeza de que já fui uma —, eu sabia perfeitamente o que era bom: os Cavaleiros do Zodíaco, filmes de ação, pizza, videogame, gibis da Turma da Mônica e livros da coleção Vaga-Lume. Não precisava de validação alheia, tampouco me intimidava com opiniões contrárias: tal qual um cachorro, eu só precisava seguir meus sentidos e minha intuição; o que eu visse, ouvisse, sentisse, cheirasse ou provasse e me parecesse bom, decerto era bom. E eu vivia feliz correndo e latindo atrás de carros, sem me preocupar com o que faria quando eles parassem.</span></p><p style="text-align: justify;"><span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Já adolescente — tenho quase certeza de que nunca fui um —, entendi que havia um universo inteiro que eu não conhecia, recheado de coisas realmente boas; já as que eu gostava eram bobas e deviam ser deixadas para trás. Porém, não descobri explorando o mundo com meu focinho. Assim como um cachorro, eu fui ensinado, adestrado. Aprendi que os bons filmes não poderiam ter o Van Damme de shortinho dando chutes giratórios ou o Schwarzenegger derrotando um exército inteiro sozinho; os bons filmes, os realmente bons, eram aqueles meio chatos que eu nem conseguia entender. Aprendi quais eram os melhores sabores sem que eles tivessem contato com minha saliva, os melhores cheiros sem que meu nariz trabalhasse, as melhores músicas tendo ouvido nada além do nome de seus compositores. E, como um bom cãozinho adestrado, eu repetia satisfeito os novos truques, esperando ganhar biscoitos por ser um bom menino.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Sendo dado aos livros, foi sobre literatura que aprendi a maioria dos meus movimentos. Comecei a dar a pata para Machado de Assis, a deitar de barriga para cima esperando carinho de Shakespeare, a balançar alegremente o rabo para Clarice Lispector, muito embora não tivesse lido ainda nenhum desses autores. Também me ensinaram que precisava mostrar os dentes, e logo eu rosnava para Paulo Coelho e Dan Brown, mesmo que não enxergasse neles ameaça alguma.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Foi repetindo meus truques que ingressei no curso de Letras. E, em poucas semanas na universidade, já latia a importância da obra de Kafka, de quem eu jamais ouvira falar até então. Escalei para os teóricos: Todorov, Kayser, Cândido. Uivava nomes russos que sequer conseguia soletrar. Onde me jogassem uma bolinha, eu ia satisfeito buscar, esperando o afago da aprovação.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Saí da faculdade sem diploma, mas capaz de impressionar qualquer um com minhas piruetas literárias. Comecei a arriscar meus primeiros escritos e logo era um jovem escritor cheio de referências; a maioria oca, algumas simplesmente falsas. Mas bastava algumas gracinhas e eu recebia elogios e cafunés.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Porém, aos poucos, fui descobrindo que, como autor, eu era um belo de um vira-latas. Preferia correr atrás da primeira ideia que passasse — mesmo que jamais soubesse o que fazer com ela quando a alcançasse — à rigidez dos movimentos ensaiados. Descobri o que realmente me dava vontade de rosnar: perceber os mesmos truques repetidos à exaustão pelos cachorrinhos de madame que buscavam os primeiros lugares das exposições.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Agora, teoricamente adulto e escritor — ainda com sérias dúvidas acerca da minha capacidade sobre ambas as condições —, fico feliz em voltar ao meu sábio estado infantil. Sigo meus sentidos, minha intuição. Sem vergonha nenhuma de recusar a mais conceituada ração, ou de ser pego revirando o lixo. Recuso qualquer coleira que limite meus horizontes, não cumpro ordens de comando. Gosto da liberdade de explorar o mundo e descobrir o que realmente apetece meus sentidos, sem me preocupar com o que foi definido como bom ou não. Leio e escrevo de maneira instintiva. Sou um autor canino.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Nos intervalos, pizza e videogame.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">E pouco me importa o que pensariam Todorov, Kayser e Cândido.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: x-small;">Imagem: Jan Steiner, por Pixabay.</span></p><div><br /></div>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-59228639454292423732021-05-03T08:15:00.015-07:002021-05-08T07:36:20.596-07:00Coluna Asas #58 - Capítulo prolixo de um romance embrião - (Catarina Cunha)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj44R3k9GzcIWN_PeKbB74mGEXFl2LX94jvzFYoRCtWo6vSy7-efRQ5NqURpHuyFpTgQSMORCCn9tbXv8uMm2IOFj4dcwEm0bNUBPY1Ht1e1jImIQu3hXFmqXAE8tj2-7kgtQtUFjOZC2ng/s1024/Castelinho+do+Flamengo.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1024" data-original-width="768" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj44R3k9GzcIWN_PeKbB74mGEXFl2LX94jvzFYoRCtWo6vSy7-efRQ5NqURpHuyFpTgQSMORCCn9tbXv8uMm2IOFj4dcwEm0bNUBPY1Ht1e1jImIQu3hXFmqXAE8tj2-7kgtQtUFjOZC2ng/s320/Castelinho+do+Flamengo.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; line-height: 200%;">Dia desses, em um grupo de escritores na rede social joguei
essa frase, título desta crônica, para diferenciar um projeto de um romance de
um conto. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"></span></p><a name='more'></a><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia; line-height: 200%;">Debatíamos sobre escrever contos com limite de três mil
palavras, que poderiam ser mais. Eu, que sou da turma de tentar fazer mais com
menos, alertei para o risco de alguns
confundirem romance com conto. A questão não é o tamanho caber no conteúdo, e
sim conteúdo caber no tamanho. Temos
contos gigantes e pequenos romances geniais. Como tenho poucos argumentos
acadêmicos costumo fazer comparações, não raramente esdrúxulas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia; line-height: 200%;">Imagine um cidadão que resolve construir um castelo em um
terreno de 336 m². É possível? Sim, <span class="MsoHyperlink"><span style="background: white; color: #1a0dab;"><a href="https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk01CtO0m89vtfqG4rioBrwGpwcIjxQ:1619766287674&q=Gino+Copped%C3%A8&stick=H4sIAAAAAAAAAOPgE-LWT9c3NDLIMS-qMFTi0s_VNyg3ii8sS9FSyU620k8sSs7ILElNLiktStUvLikqBbOs4MKLWHndM_PyFZzzCwpSUw6v2MHKCABoH5jlVAAAAA&sa=X&ved=2ahUKEwiagsjRs6XwAhWBr5UCHQTJChoQmxMoATAnegQIGRAD" target="_blank"><span style="color: #1a0dab;">Gino Coppedè</span></a></span></span><span class="eq0j8"><span style="background: white; color: #202124;"> conseguiu produzir uma pérola da
arquitetura: o Castelinho do Flamengo, ricamente desenhado por dentro e por
fora, com pequenos e amplos salões iluminados, sendo cada piso, vitral, pintura,
escadaria, sanca, estátua, fundamental
para a harmonia do espaço e desenvolvimento da trama. Logo o arquiteto
conseguiu construir um conto completo, onde não falta e nem sobra nada, com
todos os elementos que um castelo exuberante merece. <o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span class="eq0j8"><span style="background: white; color: #202124; font-family: georgia; line-height: 200%;">Entretanto
existe o caso oposto, o mesmo desejo, construir um castelo, mas comprando um
terreno de 10 km². Desenha seus sonhos
com 150 suítes, salões de jogos, de festa, de cinema e teatro, piscina olímpica
e jardim de matar o Palácio de Versalhes de inveja. Todos os personagens
riquíssimos a serem inseridos em uma estupenda explosão de glamour. Ocorre que
seus recursos foram limitados a meros 500 m². O proprietário desiste do sonho?
Jamais. O arquiteto, o engenheiro e até o mestre de obras avisam ao
proprietário que é impossível, tecnicamente, colocar a lua dentro de uma bola
de gude. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span class="eq0j8"><span style="background: white; color: #202124; font-family: georgia; line-height: 200%;">Não
teve jeito. Foi dada a ordem de começar pelas fundações do projeto original. As
verbas e ideias acabaram e o sonho do castelo virou uma estrutura mal
assombrada, cheia de quadradinhos ocos que seriam micro suítes no cérebro do
escritor. Cenários imaginários ricamente descritos para nunca serem usados por
personagens fantasmas.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span class="eq0j8"><span style="background: white; color: #202124; line-height: 200%;"><span style="font-family: georgia;">Quem passa pela rua, o leitor, não entende
nada. O que poderia ter sido esse enorme esqueleto de concreto abandonado? Um
conto? Não seria possível. Talvez um romance. Talvez o maior e melhor romance
de todos os tempos. </span><o:p style="font-size: 14pt;"></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal"><span class="eq0j8"><span style="background: white; color: #202124; font-size: 14pt; line-height: 200%;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal"><span class="eq0j8"><span style="background: white; color: #202124; line-height: 200%;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 200%;">Crédito da foto: Kenia Castro</span></span></span></p></div><p><br /></p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-50561228541901500802021-05-01T12:00:00.001-07:002021-05-01T12:00:00.232-07:00Coluna Asas #57 - A história sem fim - (Giselle Fiorini Bohn)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtIdgv04RMN-ESBEMSwAJeRYeHQGjsdu8BWyoyY3HhnQAhqsi3NIZ0L-np7GDvdPpKja8Nx9JXMS8UQO81Udoli-6IqjUG0uMWoBpWOtGh_08tkpjUqV_72CLw32xaIx6cKnNUIUaCUPcX/s640/monalisa-PixArc+por+Pixabay.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="473" data-original-width="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtIdgv04RMN-ESBEMSwAJeRYeHQGjsdu8BWyoyY3HhnQAhqsi3NIZ0L-np7GDvdPpKja8Nx9JXMS8UQO81Udoli-6IqjUG0uMWoBpWOtGh_08tkpjUqV_72CLw32xaIx6cKnNUIUaCUPcX/s320/monalisa-PixArc+por+Pixabay.jpg" width="320" /></a></div><br /><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Decido escrever um conto, cerca
de mil palavras; nada que exigiria mais do que uma ou duas horas. O enredo é
claro, assim como as escolhas relevantes: espaço, foco narrativo, tempo. Então
eu termino. Fim.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span></span></p><a name='more'></a><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Nanã, nada disso. Agora, sim,
começa o trabalho, que não levará algumas horas, mas muitas, ao longo de vários
dias: decido editar esse texto. E então um “somente” vira “apenas”, um “rápido”
se transforma em “veloz” e um “de repente” dá lugar a um “subitamente”. Um
parágrafo é desmembrado em dois, um ponto final não mais encerra nada mas deixa
muito em aberto com um ponto e vírgula, a protagonista muda de nome. Há agora
quatro arquivos muito parecidos com títulos diferentes. As mil palavras
originais devem ter gerado outras mil, que ficarão para sempre perdidas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Então o conto é finalmente batizado;
não se fala mais nisso. Mas, seguindo seu nome dentro da pasta, há adendos como
NOVO, FINAL, REVISADO e suas combinações: NOVO FINAL, REVISADO NOVO, FINAL
REVISADO. Tenho até mesmo um NOVO REVISADO FINAL DEFINITIVO SÉRIO. Juro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Mas por que eu não consigo botar
um fim nessa história? O que me faz ser incapaz de escrever um texto e confiar
que ele se basta, o perfeccionismo ou a insegurança? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Suspeito que sejam os dois, em retroalimentação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O perfeccionismo pode ser apenas medo
disfarçado, uma estratégia irracional para que o produto seja irrepreensível –
como se isso existisse. E esse medo também poderia receber o nome de
insegurança. Afinal, se eu conseguir deixar o texto preciso, se nada sobrar ou
faltar, se todas as palavras forem escolhidas cuidadosamente, se todas as
vírgulas e todos os pontos finais caírem nos lugares exatos, não poderão me
criticar, certo? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Errado. As críticas positivas ou
negativas estão muito além do meu domínio sobre a pontuação ou dos adjetivos
que eu troco incessantemente. A verdade é que a aceitação do que eu escrevo independe
das escolhas que eu faço, por mais cuidadosa que eu seja. Não importa o quanto
eu edite o texto, ele ainda assim não será perfeito, porque <i>perfeição</i> é
um substantivo que na arte anda em searas diferentes de outro chamado <i>unanimidade.
</i>Muitas vezes, o que para muitos é genial eu mesma acho chato pra burro, e o
que a mim parece o ápice da criatividade humana é recebido por outros com um
muxoxo que me exaspera.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">E eis que cá estava eu com esse
impulso insano de editar até a completa exaustão quando, há pouco, alguém me
enviou uma citação atribuída a Leonardo da Vinci: “Arte nunca é terminada,
apenas abandonada”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Pois agora faço questão de
acreditar que da Vinci disse mesmo isso - e sistematicamente ignorar que pode
ser uma daquelas mentiras da internet -, porque é nessa ideia em que quero me
agarrar. Sim, se o que escrevo é uma tentativa de fazer arte, como tal ela não
pode ser terminada: preciso abandoná-la. Em algum momento tenho que deixar que o
texto se vá, que saia de minhas mãos, que pertença a alguém, e viver com o fato
de que esse alguém vai fazer dele e com ele o que quiser. Até mesmo achar um
lixo total.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Esse desprendimento é doloroso, o
resultado é imprevisível, as chances de rejeição são enormes; é, ego, aceite, que
dói menos. Esse é o preço de se meter a querer fazer arte.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Ninguém disse que seria fácil,
mas também ninguém disse que não seria recompensador às vezes, uma coisa meio
agonia e êxtase.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Hmmm, isso tem a ver com
Michelangelo. Melhor parar, porque já comecei a misturar os italianos.</span><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: x-small;">Imagem: "Monalisa", por PixArc, disponível no Pixabay.</span></p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-8920277474457962645.post-19545615243006088052021-04-26T07:30:00.002-07:002021-05-08T07:37:42.430-07:00Coluna Asas #56 - Das reflexões... - (Evelyn Postali)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3wz0ktfDH1e28qhd7DMXlEsFBXFLZDPVbmDHRR9_80I7MY-RWj3NHS-8__YVZ-pd94fd6WVtCHtFhYD-Qjc2F7Gqa4WDX7uayb-7YxsxaqyXFz-KyGgZaIv0dmipx9kMZOkzRCC_uomlt/s600/COLUNA+ASAS+-+ABRIL+2021+-+DAS+REFLEX%25C3%2595ES.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="347" data-original-width="600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3wz0ktfDH1e28qhd7DMXlEsFBXFLZDPVbmDHRR9_80I7MY-RWj3NHS-8__YVZ-pd94fd6WVtCHtFhYD-Qjc2F7Gqa4WDX7uayb-7YxsxaqyXFz-KyGgZaIv0dmipx9kMZOkzRCC_uomlt/s320/COLUNA+ASAS+-+ABRIL+2021+-+DAS+REFLEX%25C3%2595ES.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i><span style="line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Arial;">“<span style="background: white;">Tudo que se passa no onde vivemos é em nós que se
passa. </span></span></i></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i><span style="line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="background: white;">Tudo que cessa no que vemos é em nós que cessa.”</span><o:p></o:p></span></i></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Arial;">Fernando
Pessoa<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span>Penso em mim, enquanto ser humano, enquanto mulher que
escreve e desenha, como uma casa entulhada de coisas e silêncios, rostos,
objetos, nomes, lugares, vazios enormes, luzes e escuridão, um amontoado de eventos,
marcados nas paredes que se entrepõe entre um tempo e outro, entre o passado e
o presente, formando um labirinto tantas vezes indecifrável, mutável,
atravessado de ideias.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span></span></p><a name='more'></a><span style="font-size: 14pt;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 107%;">Sou uma casa onde a necessidade de haver portas e janelas
escancaradas é constante. Espaços múltiplos, conjugados, grandes, pequenos,
agregados ou isolados. Cômodos que se espalham, reservados para a criação, onde
são guardados manuscritos, ora em sótãos ensolarados, ou em porões lúgubres,
espalhados por salas, cozinhas e quartos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 107%;">Não há meio termo: ou a casa está ruidosa, transbordando de
sons e movimentos, de cores e formas, de espirais mirabolantes, de conexões
fortes, seguras, ou está mergulhada em calmaria, em total contemplação do nada,
um fruir íntimo, ou resignada ao ócio. Solitária. Nem sempre sozinha, mas
solitária em meu fazer, no escrever incansável ou no rabiscar constante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 107%;">A escrita e o desenho é um nascer e um renascer na sonoridade
do que sou e sei, e quero e não quero. Existe em mim o entrelaçamento do mundo
de lá de fora com o que há do lado de dentro. Vai ecoando, batendo nas
divisórias frágeis, ou nas muralhas, até saltar para fora em parágrafos e mais
parágrafos, ou em traços, cores, formas, figurativas ou abstratas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 107%;">Meu primeiro universo é o que guardo comigo, meu eu, mundo de
dentro, onde guardo as memórias, o racional e o irracional, o lógico, o
concreto, a finitude, o surreal e o sonho; onde eu traduzo, através de linguagens,
a identidade de mim. </span><span>Se vejo a escrita ou o desenho como a interpretação do que me
habita, vejo minha carapaça como um refúgio de algo que canto, em verso ou em
prosa.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 107%;">As construções textuais ou imagéticas, por pequenas que
sejam, exigem vagar, contemplar, fruir, para depois, em um regurgito, descrever
sutil e minuciosamente, ou em rompantes de fúria e aceitação, o entendimento do
universo que cabe e não cabe em mim, como uma ínfima partícula da composição do
todo. Só há criação se há esse conhecimento e, por vezes, acedência de tudo
como parte de um todo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 107%;">Vivência, imaginação e recordação – o espaço do processo
criativo é uma intimidade quase promíscua comigo mesma. Interação nem sempre
simpática, nem sempre fácil ou fluente, mas é nesse tempo que as imagens se
formam, é quando os roteiros se alinham, os eixos se deslocam e se assentam, e
abancam as personagens da viagem. Esse desencadeamento recorrente de engrenagens
espaciais, temporais, vívidas, lúcidas, movimenta o fazer.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 107%;">Em minha casa, de cômodos nem sempre cômodos, retiro das
gavetas e cofres, das prateleiras e móveis, as construções do ofício, tanto
textual quanto artístico visual. É um mergulho e, ou você aprende a nadar ou se
afoga. Ou se mostra, ou despenca para a invisibilidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 107%;">Sou essa casa enquanto mulher, e essa mesma enquanto
escritora ou desenhista. Sinto ser impossível separar as duas, colocando-as em
lugares distintos, separando-me em pedaços, muito embora dentro de mim haja cacos
sem a possibilidade de colagem. Não conheço uma fórmula de me ausentar de uma
sem me ausentar da outra, de viver parte do dia com uma, e parte com outra.
Tanto no fazer literário quanto no fazer artístico, trabalho combinando as
duas, conciliando ambas nas propostas que me desafio a testar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 107%;">Há aqueles que conseguem deixar de lado a pessoa que são em
um ou outro ofício, não imprimindo no processo criativo parte significativa de
seu ser. Eu, contudo, espalho-me no que faço, fragmentada, multifacetada, e
deixo-me levar assim por quem quiser me ver.<o:p style="font-size: 14pt;"></o:p></span></p><br /><p></p>Caligo Editorahttp://www.blogger.com/profile/01187711117217678528noreply@blogger.com0